domingo, outubro 07, 2018

Meu pai e minha mãe

Quando somos crianças, dependemos completamente do amor dos nossos pais. É esse amor que nos cria para a vida, para a educação, para a fé, ou seja, para ser quem somos. É a lei natural da vida e da fé. Com o tempo vamo-nos tornando autónomos e vamos construindo a nossa independência. Vamos conseguindo ser para além do cordão umbilical que temos com os nossos pais. Gosto de pensar que a ligação que temos aos nossos pais nunca corta de modo completo o nosso cordão umbilical. Mas a lei da vida é esta. E com o tempo, os cortes que este cordão vai sofrendo, traz-nos novos modos de sobreviver, de viver e de sentir. 
Hoje faz dezassete anos que a minha mãe faleceu. Não podia esquecer esta data. Muito menos quando a situação de saúde do meu pai está desajustada ao meu desejo. Por mais que eu quisesse que a minha mãe aqui estivesse e o meu pai estivesse completamente bem, isso não é possível. É a lei da vida. Mas a impotência e a dor são tão grandes que, por mais que façamos, continuamos impotentes e a sofrer. É a lei da vida. Repito insistentemente que é a lei da vida para me confortar. É a vida que Deus criou para vivermos. Não há volta a dar. Por isso é que me parece que devíamos gastar a nossa vida com o que ela tem de melhor e mais bonito, com o que ela tem de mais essencial e importante, o amor. 
Hoje vou visitar meu pai e vou amá-lo freneticamente. Hoje vou abraçar minha mãe nos meus pensamentos e vou amá-la freneticamente. Não sei amar meu pai e minha mãe senão deste modo, estejam eles fisicamente aqui ou não, estejam eles fisicamente bem ou não. Que interessa se eles não podem estar! O que interessa é que eu estou… aqui, para os continuar a amar e a religar nosso cordão umbilical.

8 comentários:

Anónimo disse...

é tão duro
um Sorriso doce com muito conforto

Vitória Régia disse...

Sim é a lei dessa linda viagem chamada vida!! E como a vida é generosa, todos os dias nos oportunizando a amar!! Se deleite nesse amor, um amigo fala que o Amor da família e dos amigos é um pedaço do paraíso aqui na terra.

Anónimo disse...

Uma dúvida pequenina:
Quando somos permanentemente tratados como crianças, é possível que nos tornemos mais crianças?


Confessionário disse...

09 outubro, 2018 17:15
Não acredito que nos tornemos mais crianças porque nos tratam como tal. Mas não sei. Tudo depende de como cada um se sente e não da forma como é tratado, embora isso possa ter influências na nossa vida.

Anónimo disse...

ultimamente tenho gostado tanto dos seus textos
Força, padre

Ailime disse...

Amor puro o que une pais e filhos para além da eternidade.
Aprecio imenso o seu dom natural para escrever e descrever os sentimentos.
Abraço.
Ailime

Confessionário disse...

Muito obrigado, Ailime

Anónimo disse...


De vez em quando saem das ruas mãos umas palavras assim mais sensíveis e tocantes. Talvez seja música de embalar, já que o tema são pai, mãe e filhos. Vê-se que tens guardado no coração e na memória a tua mãe e que te custa a situação do teu pai. Mas, na verdade, tudo isso já sabíamos uma vez que tu não fazes cerimónia relativamente ao que sentes pelo teu pais: sempre falaste muito abertamente de tudo aquilo que sentias. Costumas estabelecer um paralelo entre o amor de Deus e o dos pais, sobretudo a mãe, realçando que é deles a primazia no amor, entendida sob o ponto de vista cronológico. Bonito esse pensamento, mais que pensamento, o do amor que extravasa qualquer medida.
No entanto, se o amor (entre pais e filhos) começa pelos pais, que nos começam a amar antes de tudo, ou seja, antes de sermos alguma coisa visível, palpável e comunicável, depois como é? Fala-se normalmente em "retribuir o amor". Os filhos retribuiriam o amor que receberam dos pais. Se se trata de uma retribuição, o amor dos filhos dificilmente poderia ultrapassar o amor dos pais e seria dado quase como uma moeda de troca, um "negócio" de afectos. Os afectos, realmente não são sempre gratuitos, porque mesmo o que se faz com amor, muitas vezes "custa", não somente morda, bem entendido. Ora, o amor deve brotar dos filhos, como se fosse uma fonte que existe dentro delas, algo de completamente novo, originário e cristalino. Em muitas passagens da Biblía associa-se o baptismo à imagem da fonte, equiparando-se uma coisa à outra. Normalmente associamos isso à pureza, ao início, à renovação, com certeza com razão de ser. Mas eventualmente poderá associar-se ao amor, a essa característica de, embora beneficiar com a experiência de vida e de ser sempre ensinamento, ser algo absolutamente novo, uma fonte que jorra, refresca e revigora.
Quanto ao tema, para dizer, que aos filhos não bastará retribuir um amor recebido dos seus pais, cabe-lhes presenteá-los com o seu amor, que é sempre novo e incomparável, desde logo e também por lhes ser dirigido. Por isso, até podemos amar quem nunca nos amou, ou amar mais do que aquilo que somos amados, sendo que a jóia é o próprio amor, provenha ele de uma relação filial, marital, fraternal ou outra.