sábado, outubro 20, 2018

as minhas aves [poema 194]

Amanhã é um novo dia, para dar de beber às aves, sentadas em meu regaço, 
Comprei literalmente, por um vintém que não sei, um fontanário para elas 
Em troca, doei a vida para que a água se debicasse, se bebesse, se afogasse 
As aves esvoaçaram até à fonte, detiveram-se à minha beira, no beirado, 
Como um beirado de uma casa que não têm, ali pousaram em desassossego.
Encharquei a mão de água, imensa água em acanhada mão, com mágoa 
A água desapareceu entre os dedos, e ali quedaram pequenas lágrimas,
Afinal a àgua da fonte são as minhas lágrimas, e as aves vão e voltam
São minhas como beirado, pousam no meu regaço que é um regato
em lágrimas que nasceram na fonte que é água a viver um dia sem fim... 


4 comentários:

Zilda disse...

Minha nossa! Quanta inspiração para uma pessoa pensar em um lugar lindo poema onde estão as aves...As lágrimas em águas. Simplicidade ao encontrar ao beirado...

Zilda disse...

Com milhas lágrimas do tempo e o cimento da vida cocretei minha poesia.

Anónimo disse...

Tão bucólica esta partilha... percebo muito pouco de orningolaringologia, mas agrada-me a frescura que emana de tanta água, onde podemos afogar as mágoas, vislumbrar toda essa passarada, que calculo multicolorida e deliciarmo-nos com inolvidável perfume da natureza e com o som seco do bater das asas.

Poético, muito poético, nem consigo dizer mais.

Irei reflectir em tudo isto, com o carinho que merece.

Pena estar deprimida e não ser mais colaborante, nesta reflexão.

Bem-haja!

Ailime disse...

Um poema lindo e muito profundo.
Apreciei imenso.
Boa noite, sr. Padre.
Ailime