quarta-feira, maio 10, 2017

Fui assim criada e assim hei-de morrer

Senhora Maria, diga-me porque tem fé. Fui assim criada e assim hei-de morrer. Ou assim hei-de ser até que o Senhor me leve. Podia ser deste modo o início de uma conversa com a senhora Maria ou com muitas das senhoras que, às vezes nas nossas comunidades, mais vão à missa ou mais dispõem as mãos para a oração. Seria, quase de certeza, uma conversa curta, pequena, sem discussão, encerrada em respostas breves e cerradas no Sempre foi assim. 
Não digo que a forma como essas pessoas receberam a fé é má ou desajustada. Quem sou eu para a questionar! Era recebida de pais para filhos, como se recebia tudo o resto. Ora isso é bom. Eu mesmo sou fruto dessa transmissão geracional. Dessa herança de fé. O menos bom é que isso, muitas vezes, ficava por ali. Por receber-se. Por ficar infantilizada. 
Também acho de uma enorme coragem, nos dias conturbado de hoje, que hajam pessoas a fazer convictamente a afirmação de que sempre terão esta fé que receberam. Assim como penso que não seria justo e correcto afirmar que essas pessoas não têm fé. Têm, com certeza. 
Contudo, tenho alguma dificuldade em aceitar que se tenham contentado com uma fé infantil. Muitas vezes descomprometida da vida, presa ao passado e ao culto. Uma fé que é mais uma religião ou uma forma religiosa de viver.

10 comentários:

Anónimo disse...

A fé, força da vida da Vida, alimento da alma.
Ch M

Anónimo disse...

Eu,poderia dar o meu testemunho aqui....
facilmente seria identificada pelo autor deste blog...
isso tbm nao tem importancia!
Ha um ditado que diz... "filho és,pai serás,o que semeares assim o colherás.."
sou filha de uma terra pacata..
os exemplos que tive fizeram de mim a pessoa que sou...
foi em criança que descobri jesus através duma catequista(olha nao era nada agradavel...tava sempre mal humurada e punha-me sempre de castigo...pois eu tinha uma sebenta amarela para a catequese e eu sodesenhava nossa senhora e os pastorinhos...as vezes pintava as calças do francisco as bolinhas... oh rapariga! dizia a catequista...mas tu so sabes desenhar a senhora de fatima!
um dia ,ela supreendeu-me!
nao me pos de castigo...
pediu-me a sebenta ja cheia....
para explicar aos colegas quem era a senhora que tantas vezes eles ouviam falar...
pronto agora ja nao me apetece desenhar nossa senhora todos vao copiar..
oh rapariga,desenha jesus!
cada vez que ouvia as historias de jesus..
mais o amava..foi bom!
no dia do meu crisma com 12 anos,disse-lhe
- um dia quero ser catequista como a senhora!
Ela chorou...
no ano seguinte passei ajuda-la e agora era ela que me pedia para fazer desenhos em cartolinas para expor na catequese....
MAS NAS FESTAS...AI,AI EU ERA SEMPRE VESTIDA DE NOSSA SENHORA!
ISTO tudo para dizer que a familia é o ingrediente principal para o "BOLO" da fé!
vai-se comendo....fatia a fatia.
mas se nao ensinarmos a receita o bolo,vai-se esquecendo e acabaentão perde-se o paladar....

Anónimo disse...

o caminho sô se faz caminhando!

Anónimo disse...



Sem dúvida! A família e os valores que, por ela são transmitidos, são o ingrediente para o Bolo!

Mas daquilo que me é dado a observar, para muitas pessoas as coisas que tocam ao religioso,nomeadamente à Religião Católica, são assim porque sim, porque sempre foram... tal como o " Fui assim criada e assim hei-de morrer"

Não se permitem a reflexão, o questionamento. Como se o próprio facto de questionar fosse por si só uma ofensa a Deus.

Não há vontade de aprofundar ou aprender e acho que às vezes que também não há vontade de ensinar por parte da Igreja mais concretamente do sacerdote. A tradição tem um peso enorme, sem que se entenda pela maioria, o porquê!

Não é possível sentir sem questionar, sem pelo menos reflectir profundamente! Existe uma preguiça espiritual enorme.

SL

Anónimo disse...


Pe.,

Ainda relativo ao meu comentário das 13h00, que me deixou a a pensar até agora, não quero dizer, com as minhas palavras, que não acredito que a maioria tem Fé. Têm sim! Algo as move para estarem presentes celebração após celebração.

O que me deixa triste é que por "preguiça" não tiramos uso pleno daquilo que a Fé nos confere: mais esperança, mais alegria, mais mansidão...

É um pouco com possuir a chave e não encontrar a porta...

SL


Gui disse...

É mais fácil viver assim a fé.
Já viu que pensar a nossa fé é muito mais difícil, provoca muitas vezes sofrimento deixar de ser o homem velho.
A dor assusta e afasta-nos de querer mudar e mudar implica orarmos para dentro de nós.
E vem lá uns padres novos, (ou de ideias novas) questionar a fé que tem! É tão confortável assim.

Anónimo disse...

Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade
Ch M...

Anónimo disse...

Pensando bem e olhando ainda melhor para os bancos das assembleias,podemos concluir que se nao fossem esses que nasceram assim e assim hao-de morrer, as igrejas estariam muito desertas.

Anónimo disse...


É um facto anónimo 14 maio 22:06. Contudo não se pode fechar os olhos sob pena de termos igrejas ainda mais vazias...

SL

Anónimo disse...

É uma verdade, SL, mas também sei que isso é uma preocupação dos padres mais novos, que ainda tem muita vida e sabem que quando forem mais velhos nao terão quase ninguem nas assembleias dominicais. Porque já ouvi da boca de um padre mais velho dizer: eu nao quero saber, desde que tenha as minhas velhinhas na igreja nao me importa. Ainda se riu depois de dizer isto! Estes padres mais novos tem muito trabalho a fazer, trabalho que deixou de ser feito pelos que nao quiseram saber, pois tinham esses que "nasceram assim e assim hao-de morrer".
MJ