quinta-feira, janeiro 28, 2016

Judas [poema 89]

Vem a noite sublinhada pelas manchas de uma lua
Os discípulos moram em silêncio, o ruído mora ao lado

Numa das pontas ouço e permaneço ainda mais ao lado
O Mestre conta histórias com um belo enredo, cedo

Molho o pão com Ele
Hoje é a minha vez de o levar à morte

12 comentários:

Anónimo disse...

Olá Sr.Padre.
Obrigada por ter voltado a escrever.
O titulo deste poema (muito bonito) suscita-me uma dúvida que por certo também muitas pessoas inquieta.
Judas! Vilão ou vitima?
Se nas sagradas escrituras se diz que depois de ter comido o pão o demónio entrou nele, até que ponto é ele culpado?
Eu sei que me vai responder que a decisão de fazer o bem ou o mal depende única e exclusivamente de nós.
Mas não tinha que ser assim para que tudo se cumprisse e todos nós sermos salvos?
Por favor esclareça as minhas dúvidas ou então porque nâo pedir a opinião dos amigos que habitualmente por aqui passam.
Obrigada mais uma vez.
Maria Ana

Anónimo disse...

"Amigo, a que vieste?"

Anónimo disse...

Tocante e profundo. Meus parabéns amigo. Graças a Deus que tu voltou a escrever.

Coruja Sábia.

Anónimo disse...

Muito profundo. Voltou em grande.
Que Deus continue a iluminá-lo.
Bj

JS disse...

Sobre Judas:

Dos dados que temos: no princípio, há o acto, o facto, enquadrado numa história de fracasso que envolve todo o grupo de Jesus: traição, negação, abandono, fuga. Que é o fracasso do próprio Jesus e do seu projecto.
Algo que não se escamoteia (pelo contrário, até se sublinha): o traidor pertence ao grupo dos Doze, é alguém muito próximo, da intimidade de Jesus. A desgraça atinge o grupo por dentro, como se fosse um cancro.

Depois, vão surgindo as buscas de sentido, as releituras, as justificações (para dentro e para fora). O que aconteceu fazia parte, afinal, do plano de Deus; estava escrito, estava anunciado; Jesus, ele próprio, estava plenamente consciente do que lhe ia acontecer e de como todos lhe iam falhar.
E aparecem as possíveis motivações: do gosto pela traição à ganância pelo dinheiro, do ser ladrão ao estar possuído pelo demónio. Uma teoria curiosa avança que é o próprio Judas que se sente traído por Jesus e que decide precipitar a sua prisão para accionar mais rapidamente a revolta/revolução que daria passo ao Reino de Deus ansiado. Há ainda a interpretação feita no Evangelho de Judas: ele é o instrumento de Deus, escolhido para que Jesus se possa libertar do seu corpo (perspectiva gnóstica).

"Vilão ou vítima?" Haverá atenuantes, haverá desculpas? Sabemos da complexidade das decisões humanas; mas daí a inverter a ordem das coisas...

Confessionário disse...

29 janeiro, 2016 13:33

JS respondeu melhor do que eu responderia.
Eu diria simplesmente que na realidade teria de haver uma humanidade pecadora para Deus se querer redimir connosco. Mas daí a dizer que a humanidade pecadora é vítima de Deus vai muito! SE Deus saberia que seria assim?! Penso que Deus saberia mais que nos queria amar custasse o que custasse e que a nossa fragilidade traria arrastadas consigo muitas infidelidades... tal como na forma como amamos. Só Deus me parece que ama sem interesse e por pura gratuidade. Explico-me?!

Anónimo disse...

JS.
Por acaso não têm um blogue seu?
Se não têm, é pena..
É que eu tenho tantas dúvidas e tantas vezes sem ter a quem as colocar,que seria "cliente" assídua do dito blogue.
Obrigada pela resposta.
E já agora aproveito para enviar uma "farpa" ao nosso confessionário.
Parece que ele só responde a alguns dos visitantes deste espaço!
Ups...já sei que vai ser grande a penitência.
Nada mais digo. Remeto-me á minha insignificância.
Maria Ana.

Confessionário disse...

Olá, Maria Ana
Ri-me bastante com a farpa.
O argumento principal para te responder é que: depende da disponibilidade com que estou em cada momento.
Um segundo argumento seria: é mais fácil responder a quem coloca uma identificação, nem que seja uma simples letra (bem, este não é um argumento válido).
Em terceiro lugar suponho que, inconscientemente (às vezes) aproveito tb para reflectir, mais que para responder (sorry)... e o JS quase sempre me obriga a fazer um exercício de reflexão (hehehe)

JS disse...

Maria Ana
Não, não tenho um blog. Não podemos ser todos autores. Tenho achado preferível visitar os projectos de outros e, descobrindo algum que me faça sentir enriquecido, tentar contribuir com algo que pense ser útil na caixa de comentários. Às vezes desenvolvendo o assunto abordado, outras disparando em sentido oposto, de quando em vez tentando espicaçar o autor ou algum dos comentadores...
Costumo espreitar regularmente este espaço, que acompanho já há uns anos (e que, para mim, continua a ser o melhor dentro da sua área. Não, não estou a exagerar.).
Assim, se vir por aqui alguma dúvida que queiras expôr, e achar que posso ajudar a esclarecê-la, fá-lo-ei de bom grado (com a devida licença do dono da casa, bem entendido).

Confessionário disse...

JS

Fico encantado com o teu comentário que está entre parêntesis. E agradeço a amabilidade e a generosidade. Eu quero acreditar que sim, mas tb não me considero nenhum escritor nem teólogo. Bem gostaria de sê-lo.

E quanto ao uso para esclarecer, já sabes que não só dou licença, como te peço que o faças. Quase nunca tenho tempo para isso, e tu sabes esclarecer muito melhor que eu.

Um grande abraço de admiração

Anónimo disse...

Obrigada JS.
Gostei do "espicaçar o autor".
Ficamos assim a modos que...com um padre "farpado" e "espicaçado".
Um mal nunca vêm só.
Maria Ana

JS disse...

Maria Ana
Se a caixa de comentários for só beijinhos e fofuras, o Confessionário ainda vira um ursinho de peluche. Em ponto de caramelo. :)