Aqui para os meus lados diz-se que se vai fazer uma espera quando, às escondidas ou às escuras, se vai preparar o assalto a alguém. Faz-se-lhe uma espera para lhe dar uma coça ou para lhe sacar alguma coisa. Não sei que possamos sacar ou sovar no advento. Mas sei que o advento é um tempo de espera.
Ó padre, não era melhor dizermos esperança e evitávamos assim essas confusões de que está a falar? perguntou a Maria João no meio da reunião de catequistas. Ó Maria João, a esperança pode ficar-se naquela de ansiar algo, de esperar ou confiar que aconteça algo, mas não no agora que tem a certeza do acontecer e que começa já a acontecer. A espera é um já acontecer agora. A esperança pode deixar-nos confortáveis e passivos esperando. A espera exige de nós uma acção já e contínua. Ui, padre, está cá com umas filosofias! Explique-se melhor.
Para entenderdes melhor, permiti que vos fale do que se espera. De uma forma muito superficial, todos os anos dizemos que esperamos o nascimento do menino Deus. Dizemos que esperamos o Natal, e na verdade os muitos adventos de cada ano, às vezes, não são mais do que um esperar o Natal. Devia antes ser a espera de um Deus que teima em vir ao nosso encontro, ao encontro da nossa intimidade. É mais que esperar um Natal. É esperar que Deus aconteça no meu interior. Por isso não é uma espera fácil. É uma espera dura e dolorosa. Porque Ele não vem para nos facilitar a vida. Vem para a felicitar. Para lhe dar sentido pleno. E por isso exige, e por isso dói. E por isso faz-nos fazer a acção de esperar para que vá acontecendo e para que seja já. E por isso exige que me desacomode. Que não espere acomodado, passivo. Advento aliás é a resposta litúrgica (espero não dizer uma asneira litúrgica, que eu não sou propriamente liturgista, mas digo-o na mesma) para um tempo inteiro que se quer que seja uma vida inteira. A espera que recordamos no advento é uma espera de toda a vida. Como uma noiva espera seu noivo para a festa e se banha, maquilha, prepara as palavras e os olhares, perfuma-se, torna a maquilhar-se, veste o melhor vestido, prepara uma surpresa, penteia-se e torna a compor o cabelo, sorri, anda de um lado ao outro amando já, mesmo sem que o noivo tenha chegado e esteja ainda à porta…
4 comentários:
O advento é tempo de espera...
Tempo de espera para cada um de nós que aguarda a chegada de Deus. Cada um de nós se prepara da melhor maneira, pelo menos assim o pensamos.
Mas com a euforia do dia da chegada, que devia ser um dia de chegada-começo, ás vezes parece tornar-se num "términus". Esperámos, Ele chegou, e depois de passada a euforia, vamo-nos perdendo nesse espaço de tempo, á espera de outro "advento" para voltarmos a preparar-nos...
Eu sei que Ele também está á nossa espera, não precisa de se preparar, porque ja sabe com o que vai contar, pois no grande dia da Sua chegada, muitas vezes Ele fica em "segundo plano", porque com as festas, com a euforia do reencontro das famílias e amigos, perdemo-nos um pouco do porquê, do motivo porque ali estamos.
Ao fim do dia quando conseguimos parar um pouco, pensamos: estivemos tantos dias a preparar-nos para este dia e agora que estamos no fim do dia perguntamo-nos; afinal que fiz, ou o que fizemos para fazer sentir a Deus que estávamos preparados para o receber?
Que bom seria se este ano eu conseguisse fazer algo diferente...
Boa sugestão para começar bem este Advento. Eu pensava que era um tempo de esperança, mas agora começo a pensar que é algo mais que esperança.
Obrigado
Deus chega todos os dias não apenas no Natal
Acabei de descobrir este blog e ainda só li este post. Adorei. Voltarei com mais tempo para uma visita mais demorada.
Já agora, se me permite, gostaria de deixar aqui o endereço do meu blog sobre São José:
http://ideasaojose.blogspot.com
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