Não conheço a senhora que se sentou ao meu lado para se confessar, numa paróquia vizinha. Diria que tem mais de setenta anos e mora, ou vive sozinha. Depois de uns bons minutos a contar repetidamente as mesmas coisas, na confissão, ficou em silêncio. Julguei que já tinha exposto tudo o que sentia. Não me lembro de lhe ter ouvido pecados. Ficou em silêncio. Um silêncio de espera, meu e dela. Por isso achei que estava na hora da penitência e da bênção. Olhe, como penitência vai rezar… e fui interrompido pelo pedido. Fale comigo, senhor padre. O que ela precisava era ouvir alguém. Alguém que fizesse eco das suas palavras. Alguém que olhasse para ela e não resistisse a estar com ela. Já não tinha forças para mais diálogos. Por isso esperava que eu não acabasse ali a sua conversa e pudesse sentir que era capaz de se relacionar ainda, por mais idade, menos filhos e marido que tivesse. Sem os olhos no relógio, nos minutos que passavam, achei que devia falar-lhe do tempo, do sol, da vida com sol, mesmo quando chove e o sol está escondido ou noutro lugar do planeta a brilhar, à espera de voltar para as nossas vidas. E assim passou um tempo de confissão, que não foi confissão, mas uma conversa de um Deus que está ali, para nós e para dialogar connosco. As pessoas hoje em dia não têm com quem conversar, fechadas nos seus problemas, ou num ecran de computador, ou num qualquer quarto de uma qualquer casa desabitada. Vou aproveitar o sol para uns dedos de conversa fiada.
48 comentários:
"As pessoas hoje em dia não têm com quem conversar, fechadas nos seus problemas, ou num ecran de computador," ainda que rodeadas de outras pessoas, não conseguem confiar, logo não conseguem conversar.
Verdade, sinto-o na pele.
PR
Muito aprendi eu com este post! O Senhor Padre aplica penitência, mesmo a quem não tem pecados?!
Com esta "estória" da esperança de vida mais alargada e por conseguinte, do aumento do número de idosos, complementada com uma pensão de reforma exígua e uma falta enorme de estructuras capazes de os reutilizar, de lhes renovar o préstimo, viram-se estes, cada dia mais numerosos, ser relegados pela sociedade, família e governo, para a situação de imprestáveis.
Ninguém lhes passa cartão, ninguém os acha úteis, todos os consideram a mais, nesta sociedade que corre de casa para o emprego - aqueles que têm a boa sorte - e do emprego para casa.
Mas diz-me uma coisa, padre - desculpa-me a curiosidade: passado o primeiro momento da confissão, após o silêncio e a constatação de que a idosa não tinha confessado nada que pudesses considerar pecado, preparavas-te para lhe aplicar a penitência, em nome de quê?
Hmmm?
Seu maroto!
;)
Mas tá bem, rezar é o melhor que podemos fazer em qualquer ocasião e, considerarmo-nos sem pecado é já o suficiente para que rezemos ainda mais.
Segundo é referido, quando Nossa Senhora falou com Lúcia, deixou-lhe uma mensagem importantíssima; disse que deveríamos rezar, rezar muito.
No entanto, penso que a igreja e os padres, os catequistas, etc, não ensinaram ainda os fieis a rezar.
Ensinaram-lhes as palavras, mas não o conteúdo das mesmas. E é nesse conteúdo que se encontra a essência de toda a vida em comunhão, por conseguinte, a harmonia e a congregação sob a égide do Espírito Santo.
Olá Padre, embora ande muito atarefada profissionalmente,o que me impediu de mensagem a posts anteriores, hoje não consegui resistir. A tua atitude para com a senhora deve ter tido um impacto positivo muito grande. Imagino o que será estar sozinha no mundo e sem ter com quem falar, sem sentir um gesto de amor e ternura, uma palavra amiga...
Hoje em dia dialoga-se muito pouco e os idosos são remetidos para as suas próprias recordações boas, ou nem tanto. Dói ver uns quantos idosos que, sem terem ou poderem fazer algo, estão unicamente à espera do último dia. Se têm fé essa espera terá algum sentido mas, a sua ausência, aumentará a sensação de inutilidade e até, talvez, desespero.
Continua sendo assim.
Beijinho
Ruth
Pois, por mais estranho que pareça as pessoas, sobretudo as mais velhas vão há procura de alguém que as ouça, mas também do feedback que deverá vir do outro lado, querem falar e que alguém as ouça e lhes preste atenção, não interessa muito se o padre ou o psicólogo. Na verdade quem é crente procura mais o padre porque pode abrir a alma, o que raramente acontece com os psicólogos que ainda por cima podem nem ser crente e levam dinheiro. Creio que compreendo essa senhora e acho que os senhores padres devem estar preparados para esta nova realidade que é a de não perdoar só pecados, mas "abraçar" os irmãos que vão até eles. Sabe toda a solidão é triste, mas a solidão de sentimentos da necessidade que alguém tem de ser ouvido escutado por outro que sabe que à partida não vai dizer o que ouviu é um lenitivo.A pessoa nem se apercebe que pode estar a ser maçadora. Também não percebo essa da penitência se achou que ela não tinha pecados...
Um abraço
Maria
Escutaste esse coração, não escutastes… olha Padre, deixa-me dar-te um abraço... porque entre a absolvição e um abraço, entre os dois escolho agora o abraço porque sei que nele vai junto o teu perdão em Deus que te abraçou um dia também no teu pecado!
As histórias de vida que se sentam em confissão…! Pessoas com mais ou menos cabelos brancos, mais ou menos estatura, mais ou menos largura, mais ou menos beleza… de olhos verdes, azuis, castanhos… com ou sem filhos, maridos, esposas, namorados, amantes, amores, amigos… com mais ou menos coração… com as mãos mais abertas ou mais fechadas… com mais ou menos anéis… mais ou menos cicatrizes… mais ou menos histórias… mais ou menos revoltas… mais ou menos amor-próprio… mais ou menos tempo… mais ou menos sabedoria… mais ou menos risos, lágrimas, esperanças… mais ou menos espantos… mais ou menos paciência… mais ou menos força… mais ou menos culpas… mais ou menos vazios… mais ou menos Deus…
As suas distintas vozes unem-se em uníssono na sua mais e mais humanidade, oferecida intima e humildemente a Deus, no desejo de satisfazer uma ânsia incontida de paz e perdão.
Inexplicavelmente, no meio das niquices de nada, que para esta senhora idosa representam o seu “pecado”, compreendi, porque razão a confissão é feita através de intermediário. Finalmente percebi que a abertura de um coração contrito, para ser verdadeira e plena tem ecessariamente de ser feita perante um igual.
E, pela primeira vez, também eu senti vontade de me sentar, na cadeira ao lado, com a alma de joelhos e coração aberto. Confesso que só não o faço agora porque neste preciso momento não tenho consciência do que é o pecado. Nem do meu, nem do de ninguém. Por isso, não me seria dada a absolvição.
Olá, Caro Amigo P.e Confessionário, Olá a Tod@s.
Quanto à questão da Penitência, penso que é um pouco como aquela história de ir ao Médico e ele não receitar nada... "Não é Bom Médico!". Mas o P.e Confessionário poderá certamente explicar melhor qual a Penitência que estava a pensar "aplicar" à Senhora e qual o Sentido - de que o Amigo "Bartolomeu" já deu uma "dica"...
Tenho pena é que muitos dos Padres com o coração disponível para Escutar andem "assoberbados" com outras tarefas - de "funcionários".
Mas assim vai a Igreja... enquanto não mudarmos o "paradigma".
Um forte Abraço a Tod@s.
Moçambicano
Um Padre meu Amigo sugeriu que se criasse nas Paróquias um Serviço de "Acolhimento / Escuta", exactamente para poder Escutar quem precisa de Desabafar a sua Solidão, o seu Sofrimento, ...
Como é óbvio, um Serviço destes requer, para além de Pessoas idóneas, uma "Educação" da Comunidade".
Outro forte Abraço.
Moçambicano
A propósito de algumas admirações perante a relatada intenção do Confessionário de “aplicar” penitência:
O convite à oração que é feito no final da confissão, embora por hábito seja normalmente designado de penitência, pode (e deve) também assumir um carácter de acção de graças. E pode ser ainda um momento de discernimento, para que o penitente escolha, por si próprio, e se comprometa em alguma acção de penitência.
Até porque, na grande maioria dos casos, as orações prescritas não deveriam ser consideradas como a real penitência a cumprir pela confissão feita. São apenas um sinal, uma abertura à atitude de penitência. Basta pensar no que era a penitência dos cristãos nos primeiros séculos do cristianismo para perceber a diferença.
Para além disso, a penitência não é recebida apenas como expiação dos pecados, mas também para auxílio da vida nova que se pretende assumir e para remédio das nossas fragilidades. E encerra também um espírito comunitário e de solidariedade: fazemos penitência por nós e pelos outros.
E ainda relativamente aos pecados: mesmo que a consciência não nos acuse de ter pecados mortais, é certo o nosso dia-a-dia ser marcado por faltas veniais, para cuja emenda o sacramento da confissão não é necessário, mas se revela bastante útil. O que também é válido para a imposição da penitência.
E se, em vez de andarmos a combater a solidão, e a tentar fugir-lhe, aprendêssemos a amar a solidão e a conviver tranquilamente com essa realidade?...
Sábias palavras, JS, é pena que muita gente não perceba isso...
Conviver com a solidão? Tristes tempos. Fomos feitos para a comunhão e para a partilha.
As desproteções não são obra do acaso... mas de Deus... computo uma.. duas.. três... lágrimas. Nenhuma é minha!
É muita programação antecipada!
Caro anónimo do dia 27, 23:35:
Verdadeiro sinal dos (tristes) tempos é o horror à solidão.
Quer queiras quer não, há momentos em que te encontras sozinho. E que tendem a intensificar-se à medida que vais envelhecendo.
Há momentos em que necessitas estar sozinho.
Há momentos que só os podes viver sozinho. Por muita gente que te rodeie.
Também fomos feitos para a felicidade; e todavia, temos de saber conviver com a tristeza e as lágrimas.
Fomos feitos para a saúde e a vida; e temos de saber conviver com a doença e a realidade da morte.
Não se trata de fazer da solidão uma opção de vida. Bem raros são os casos em que a solidão se revela vocação. Trata-se, issossim, de saber estar sozinho sem entrar em pânico ou entregar-se ao desespero. Algo que se aprende (ou devia aprender-se) desde criança: saber brincar sozinho, saber encontrar algo que nos interesse, que fazemos com vontade pelo tempo que quisermos, saber estar rodeado de silêncio.
Infelizmente, não faltam pessoas a viverem a vida num eterno queixume por se sentirem abandonadas. E, mais triste ainda, quanto mais se queixam, mais difícil se torna conviver com elas e mais depressa os outros se afastam...
Há momentos em que estás sozinho e há vidas sozinhas. A maior pobreza é o abandono. Argumentar que é necessário aprender a viver sozinho tranquiliza a consciência de tantos. Estou a lembrar-me dos nossos idosos despejados em casas a que pomposamente chamamos lares. Necessário seria aprender a ter respeito com eles. Até Deus é comunidade de 3 pessoas.
retalho sublime da vida de um sacerdote...
jlmmg
Caro anónimo do dia 28, 14:16:
Falas dos idosos despejados em lares. Saberás tu quantos são lá colocados com o argumento de que não conseguem estar sozinhos, de que têm medo de viver sozinhos, de que estão sempre a reivindicar companhia e atenção a toda a hora?
Pior ainda: por vezes, esse argumento é apenas pretexto. A pessoa idosa, mesmo com as suas limitações, até ia vivendo bem sozinha, na sua casinha, com os seus bichinhos e o seu quinteiro; e é forçada a ir para um lar porque, dizem, ela não devia estar sozinha, a solidão é uma vergonha, ela vai estar melhor rodeada de gente. O resultado costuma ser trágico.
Ou seja: os lares são alimentados pelo horror à solidão; são até vendidos como remédio para a solidão; a acabam sendo, em muitos casos, verdadeiros antros de solidão...
Envelhecer é caminhar para a solidão.
É ver os vizinhos a morrer, os amigos a morrer, os familiares a morrer. Cada vez é mais frequente uma pessoa sobreviver anos e anos à morte do seu cônjuge. E só haveria uma maneira de evitar este “abandono”: morrendo antes que eles.
Por outro lado, não é justo que os pais criem os filhos para terem alguém que cuide deles. Podem ter essa expectativa, mas não a podem impôr. Não é assim que funciona (ou devia funcionar) o contrato generacional. A fórmula certa é: criamos os filhos para que eles criem os seus próprios filhos, e assim por diante.
Há depois a perda de capacidades mentais, da audição, da visão, da locomoção, que vão dificultando as relações e a comunicação, mesmo com todos os milagres da medicina e das ciências. E temos ainda a já próxima falência do sistema de segurança social, que irá agravar em muito as condições de vida, potenciando isolamentos.
As coisas são o que são: umas podem ser mudadas, outras não. Ou aprende-se a viver com isso, ou morre-se engasgado na revolta.
Concordo com bastante do que escreveste, JS.
A nossa vida é composta por diferentes fases e, cada uma delas deveria servir-nos como perparatória para a fase seguinte, o que nem sempre sucede.
E não sucede, porque - penso - vivemos sob uma certa inconsciência. Vivemos sem compreender o que estamos a viver e o significado da experiência porque estamos a passar.
Estou a lembra-me da canção de José Afonso "A Velha da Erva" e do verso: Há quem viva sem dar por nada, ha quem morra, semtal saber.
Perceber o sentido da vida, é fundamental para o ser humano. É fundamental para o seu equilíbrio psicológico e para o equilíbrio da sua relação com o seu semelhante. E poucas vezes conseguimos este equilíbrio e por conseguinte, aproximarmo-nos do sentido das nossas vidas, porque não percebemos que somos seres constituídos por duas partes distintas, mas que se completam. Somos matéria e somos espírito. Somos, como dizia Pessoa, seres metafísicos. E por vezes, esta dualidade, concentrada num só elemento, causa alguns desiquilíbrios e conduz-nos a estados físicos e/ou estados de alma muitas vezes incapazes de se compatibilizar.
É precisamente com o objectivo de nos conciliarmos com nós próprios que a oração nos foi confiada. E a oração não tem o propósito de nos colocar a papaguear palavras, mas sim, o de nos colocar em diálogo com o mais íntimo de cada um de nós, com Deus. Aqueles a quem foi ensinado o sentido das palavras que compõem a oração e a interioriza-lo, aprenderam simultâneamente, o sentido da vida, pelo que, dificilmente se acham sós.
;)
"Por outro lado, não é justo que os pais criem os filhos para terem alguém que cuide deles. Podem ter essa expectativa, mas não a podem impôr. Não é assim que funciona (ou devia funcionar) o contrato generacional. A fórmula certa é: criamos os filhos para que eles criem os seus próprios filhos, e assim por diante."
HORRIVEL, HORRIVEL, HORRIVEL! Somos só biologia desumanizada, JS? Contratos, aqui?
Não tenho filhos por isso não posso ter expectativas. Tenho Mãe com idade avançada. Cuido dela com o mesmo amor com que ela tratou de mim. Não por obrigação mas por Graça.
Bom Dia a Tod@s.
Caro Amigo "JS":
Gostei muito do Comentário do "Anónimo das 15.14".
É evidente que na Europa / no "Velho Mundo", onde nós os "Civilizados" inventámos o INDIVIDUALISMO, é preciso Aprender a Viver - e a Morrer -, SÓ.
Não podemos é querer impôr esta nossa mentalidade nihilista ao resto do Mundo. Isso seria, como dizia um Missionário meu Amigo, "racismo espiritual", e do pior, pois não contribuímos em nada para Construir o Reino.
Graças a Deus nasci e cresci em África. E procuro manter essas "raízes" dentro de mim, mesmo que muitas vezes me sinta uma espécie de "E.T."...
Para terminar, só uma questão: Qual foi a 1.ª coisa que Jesus fez, quando iniciou a sua Missão? Rodear-se de Amigos/as.
Amigos/as que depois não O compreenderam, o abandonaram, o traíram, fugiram diante da Cruz (as Mulheres ficaram), ... mas depois, "milagre dos milagres", como alguém escreveu, sofreram uma "revolução copernicana" que levou muitos/as deles/as a Dar a Vida por Ele.
E nós, "modernos", tentamos explicar filosoficamente ("à grega"), uma "revolução" que se operou em Homens e Mulheres de mentalidade/cultura Hebraica - muito "terra a terra".
Como diz o título do último livro de Pacheco Pereira, vivemos "Dias de Lixo". Não deprimamos mais as Pessoas... demos-lhes Razões para terem uma Esperança Activa.
Desculpe/em o meu desabafo.
Um forte Abraço para Tod@s.
Moçambicano
"A dor e a morte não terão a última palavra: uma intuição paraticamente UNIVERSAL" (José Gómez Caffarena sj)
Mas não há nenhum comentário feito às 15.14, Moçambicano...
É verdadedira a frase que citas, Africano.
Porque Cristo, é fonte de vida.
Porque Cristo, é renovação.
Porque Cristo é a ignição desse processo.
Quando olhamos Cristo crucificado, notamos por cima da Sua cabeça, pregada na cruz, uma plaquinha onde figuram quatro simples letras: INRI.
Para alguns, essas letras têm um significado: Jesus de Nazaré Rei dos Judeus. Para outros, os que acreditam Nele e na Sua força regeneradora, as quatro letras significam: Ignis Natura Renovatur Integram!
Perdoem-me a dureza nas palavras!
Não se enganem, nem enganem ninguém. A solidão, não é, nem nunca foi saudável.
Todos nós precisamos de silênciar o nosso ser. Necessitamos fazer silêncio, nos sentidos, nas vontades... encontrar-mo-nos connosco e com Deus, mas jamais fomos criados para a solidão, JAMAIS!!!!
Quantos dos que vivem a solidão, têm o seu ser em silêncio? Ao invés, o seu olhar grita de dor que até dói... e por isso, escamoteamos a verdade, para termos um pretexto de nos deitarmos e dormirmos de consciência tranquila!
Deixo a pergunta:
O que eu posso fazer, para minimizar a solidão do outro?
Façamos SILÊNCIO, talvez até saibamos por onde e com quem começar!
Vá aprendendo aqui a viver a solidão caro JS. Pode ser que um dia lhe seja útil:
http://www.ionline.pt/fotogaleria/isolados-la-dos-65-ha-uma-luta-escondida-contra-solidao
Nao sei porque mas penso que todos voces se sentem muito sós... Até o confessionário... Pois passam a vida em frente ao ecran do computador a falar da vida alheia... Vao-se lá confessar e apanhar uns raios de sol, bem que a esta hora seja impossível fazer qualquer uma dessas coisas, mas amanha é outro dia... Va lá toca a sair de casa e a mexer esse esqueleto... So vos vai fazer bem...
Principalmente ao JS que lida muito bem com a solidao, talvez porque ainda nao a conheceu realmente...
Caro anónimo (ou anónima) do dia 28, 23:30:
Gostava de saber que tipo de fantasmas ou preconceitos assolaram a tua mente quando leste a palavra "contrato". Certamente não estarás consciente de que se trata de uma das palavras mais nobres do vocabulário humano, que implica e abarca liberdade, igualdade, respeito, honra, compromisso e responsabilidade.
Sabes que o casamento é um contrato? Ou que a Aliança entre Deus e os homens, confessada por judeus e cristãos, é um contrato?...
Fazes muito bem em cuidar da tua mãe. Mas se ela, por acaso, vive no terror de estar sozinha e não consegue lidar com a solidão, por muito bem que cuides dela, não evitarás que ela viva os seus últimos dias na infelicidade. E essa é que é a questão.
Cara Filha de Maria:
Nunca saberás o que é o silêncio sem saberes o que é a solidão; e nunca amarás o silêncio sem amares a solidão.
Se os que vivem na solidão não encontram o silêncio, isso significa apenas uma coisa: não vivem a solidão, mas o terror da solidão.
A forma como te referes à solidão deixa transparecer o medo que te habita. E parece que estás mais disposta a usares as tuas forças para combater a realidade do que para te libertares (e libertares os outros) desses receios.
É como se houvesse uma pessoa com medo de aranhas e tu pensasses que a solução seria acompanhá-la noite e dia para evitar que ela tivesse qualquer tipo de contacto com uma aranha. Implicaria um esforço descomunal mas deixar-te-ia de consciência tranquila, porque acharias que estavas a fazer tudo o que te era possível para que a tal pessoa não passasse por algum susto. Todavia, o medo continuaria dentro da pessoa, e não passaria muito tempo sem que ela começasse a confundir outros insectos com aranhas, ou a ver aranhas onde elas não existem. E acabar-se-ia com a pessoa a gritar de terror e tu, extenuada e invadida pela culpa, sem saber em que tinhas falhado...
Caro Moçambicano
Não sei muito bem o que te diga.
Criticas o Velho Mundo, falas com prazer das tuas raízes africanas, manifestas que muitas vezes te sentes um estranho... E, no entanto, por cá estás e por aqui vais vivendo.
Assim sendo, a pergunta é: como vais vivendo? Numa revolta e numa lamentação permanentes, convencido de que é impossível um africano viver na nihilista Europa, rezando para que Deus faça o milagre de nos transformar a todos em africanos espirituais, contando os cêntimos para comprar logo que possível a passagem aérea de regresso ao país natal? Ou vais procurando, na tranquilidade, adaptar-te e lidar com as circunstâncias que rodeiam a tua vida actual, muitas das quais não dependem de ti nem as podes controlar, sabendo aceitar as coisas más, sabendo também aproveitar as coisas boas, mas sobretudo não deixando que as incompreensões, as dúvidas ou os receios te roubem a alegria de viver?
Quanto ao que dizes sobre Jesus, desconfio que tens obrigação de saber mais e melhor.
Nada é somente filosófico e nada é exclusivamente material.
Assim, não podemos confundir dor física e, ou psicológica, exclusão social e familiar, ausência de objectivos, desmoralização e falta de incentivos para prosseguir, com silêncio e recolhimento.
Áqueles que sofrem e precisam de apoio físico e moral, compete-nos dar-lhe a mão a ajuda-los a erguer-se e a readquirir as forças para continuar a viagem, esta viagem comum que nos iguala nas fraquezas e nas forças.
Mas a introspecção, a oração, o recolhimento, a reflexão, o contacto íntimo conosco e com o divino, não são exclusões, nem isolamentos, nem solidões. São a nossa fonte de energia, o lugar onde encontramos a serenidade do espírito e onde podemos encontrar-nos e arrumar-nos. A forma de limparmos o nosso interior de coisas inúteis, ganhando espaço para novas ideias e novas acções, inclusivamente para receber novos amigos e as suas preocupações, alegrias, experiências, etc.
Olá a Tod@s.
Tem razão, Amigo "Anónimo de 29 Maio, 2013 20:56".
Rectifico: Referia-me ao Amigo "Anónimo de 28 Maio, 2013 14:16": "Há momentos em que estás sozinho e há vidas sozinhas. A maior pobreza é o abandono. Argumentar que é necessário aprender a viver sozinho tranquiliza a consciência de tantos. Estou a lembrar-me dos nossos idosos despejados em casas a que pomposamente chamamos lares. Necessário seria aprender a ter respeito com eles. Até Deus é comunidade de 3 pessoas."
Um forte Abraço para Tod@s.
Moçambicano
Quero agradecer-Vos, Paizinho, pelo consolo que me dais por saber que a minha mãe, viúva, não se encontra só, esta tranquilidade de espírito não tem preço!
Quero agradecer-Vos pelo maravilhoso exemplo de vida de quem a trata, que ouviu do seu próprio filho, então com cerca de 10anos: - Mãe,quando for grande quero cuidar de ti como estás a cuidar da avó.
Graças Vos dou, Senhor, por este amor maravilhoso!
ó anónima de 30 Maio, 2013 00:17
Não sei porquê, mas penso que tu ou fazes parte do mesmo grupo dos solitários ou andas aqui a cuscar o que dizem eles da vida alheia. Precisas de ir apanhar uma chuvinha para te refrescar.
Caro Amigo "JS":
Tem razão, o "defeito de fabrico" deve ser meu, que cresci junto de uma Igreja Missionária - e Profética -, na senda desse Grande Bispo que foi D. Sebastião Soares de Resende.
Uma Igreja que estava nos "antípodas" da maior parte da Igreja Portuguesa, que pactuava com o Regime.
Se hei-de voltar a Moçambique? Assim o espero. É sempre bom visitarmos a nossa Terra Natal.
Se me adaptei à Europa? Na medida dos possíveis.
Se tento não me deixar engolir pelo típico Fatalismo Português? Também, na medida dos possíveis.
Se tenho pago um preço elevado por isso? Tenho.
Mas também tenho um "Legado" - desde logo dos meus Pais -, que procuro não trair.
Se procurei habituar-me a conviver com a Solidão? Sim, até porque fui obrigado a emigrar, ainda adolescente. Mas não me fechei no meu "casulo" - e isso Salvou-me a Vida. Aconteceram Milagres na minha Vida porque eu não desisti de me abrir aos Outros, mesmo tendo por outro lado coleccionado uma série de desilusões.
Tenho muita Esperança no Papa Francisco, e rezo a Deus que não o "triturem", como aconteceu a João Paulo I.
Sobre Jesus, conceda-me a oportunidade de pensar como Boff: "Humano tão HUMANO, só podia ser Deus".
Pode ser? ;)
Quanto aquilo que desconfia que "sei", deixe lá, há coisas que preferia não saber. E procuro abandonar-me à Confiança. Nem sempre é fácil, mas procuro...
Um forte Abraço, no saudável respeito da Diversidade.
Moçambicano
Cara anónima do dia 30, 09:27:
Mesmo correndo sérios riscos de te ofender, cá vai:
Dizes que a tua mãe, viúva, não se encontra só. Ou seja: ela perdeu o companheiro de toda uma vida, mas tu estás convencida de ter conseguido evitar com êxito que ela se sinta só. Achas que a presença constante da filha compensa perfeitamente a perda do marido, é isso?
Ou será que aquilo que querias dizer é que o modo como cuidas da tua mãe a ajuda a suportar melhor os momentos em que se sente só, lhe dá ânimo para lidar com a solidão e a dor da perda do parceiro, que ninguém neste mundo poderá evitar que ela experiencie e tenha de enfrentar?
Caro Moçambicano:
Voltando a Jesus, e para evitar confusões:
Dizias: "Para terminar, só uma questão: Qual foi a 1.ª coisa que Jesus fez, quando iniciou a sua Missão? Rodear-se de Amigos/as".
Mas também sabes que Jesus, depois de ser baptizado, se retirou para a solidão do deserto.
Sim, Jesus passava os dias com os seus discípulos, e falando e aproximando-se das pessoas. Mas também sabes que à noite ele se afastava, sozinho, para rezar.
Sim, ele tratou de formar um grupo de amigos e partir para a missão. Mas tu sabes que Jesus entrou em ruptura com a sua família e os seus conterrâneos. Quem é que ficou a cuidar de Maria em casa e a dar atenção aos vizinhos? Jesus é que não foi.
E os discípulos, que também "deixaram tudo"? Quem é que ficou a tomar conta da mulher de Pedro? Ou do pai de João e Tiago?...
E não avisou Jesus que, à conta da fé, as famílias se dividiriam, e os pais entrariam em guerra com os filhos e os filhos com os pais?
É claro que podes sempre dizer: "deixe lá, há coisas que preferia não saber". E não sou eu que te vou impedir de viveres a tua fé num Cristo de fantasia, se assim o desejares. Abraço.
JS
O seu raciocínio demasiado bem estruturado parece não permitir outros pontos de vista, ou melhor outras posturas face aos acontecimentos.
Ao "impor" as nossas palavras/posições ou falar de situações que desconhecemos, como se a última palavra a dizer fosse sempre a nossa, corremos o sério risco de cair no ridículo.
Escrevo desta forma pois da ultima vez que o JS teceu um comentário a um desabafo meu aqui no confessionário fê-lo como se fosse o dono da sabedoria e conhecedor de toda a situação ( Inclusive chegou a sugerir o que eu teria de sentir ou fazer, pelo menos assim o interpretei na altura), chocou-me pela negativa.
Eu falava tão somente da minha mãe, e da realidade com a qual convivo, do que me magoa e do que sinto pois é o que vivo no dia a dia, não é mera opinião é vivência.
Deixe que as pessoas vejam a Cristo sob diversos prismas, sem as tentar "ridicularizar" por isso, que ninguém tenha medo ou vergonha hesitem em falar dessas "pequenezes" da fé.
Deixe que as pessoas passem livremente e sem julgamentos ou inibições pelas fases todas antes de chegarem ao âmago...
Tal como o JS tem uma forma própria e pessoal de ver Cristo e o mundo, os outros também têm a sua forma.
Cristo apontou o caminho, não julgou ninguém pela fase de "ignorância" em que se encontrava.
Não gostei desta frase que eu, soa a uma ironia subtil "E não sou eu que te vou impedir de viveres a tua fé num Cristo de fantasia," mas o que é isto? cada qual passa por diversas fases e se queremos crescer não podemos "saltar" nenhuma delas.
Feliz o JS que pelos vistos já conseguiu ver Jesus Cristo na sua plenitude...
Desculpe se fui menos correta.
"Deixo a pergunta:
O que eu posso fazer, para minimizar a solidão do outro?
Façamos SILÊNCIO, talvez até saibamos por onde e com quem começar!"
Filha de Maria, gostei imenso deste remate final.
O que posso eu fazer?
E muitas vezes a resposta vem, do silêncio, sem palavras pois fala o coração através de gestos e atitudes que deveras tocam a vida dos que estão em solidão.
Eu já fui tocada por esses gestos que nasceram no coração de alguém.
A sua intervenção foi de "mestre", obrigada.
PR
Caro Amigo "JS":
Como diz a Anónima de "30 Maio, 2013 17:14", é provável que eu ainda tenha de passar por várias fases, para chegar ao "âmago" da Fé.
Não quero transformar este espaço num "diálogo paralelo". O Amigo "JS" tem as suas razões, a sua história pessoal, e eu também tenho. Por isso o saudei "no respeito da Diversidade".
Sabe se quem tive menos desilusões? Não foi de Pessoas "carregadas" de Teologia e afins (conheci / conheço alguns "Celibatos Estéreis"), mas de Pessoas Simples, com aquela "Fé de Carvoeiro" que alguns teólogos (?)parecem olhar com desdém.
Pessoas que, apesar de uma Vida cheia de Dificuldades e quantas vezes de Sofrimento, conseguem continuar a dizer: "Deus é Pai, não é Padrasto".
Foram essas Pessoas que me deram um Tecto, quando eu não o tive, e de Comer e de Beber, quando eu tive fome e sede. Me Acolheram, quando fui Estrangeiro. Me deram um beijo e um abraço, quando eu chorava (e tinha razões para tal).
Como diz Pagola, são essas Pessoas Simples que "mantêm Vivo o Evangelho de Jesus". E acrescenta uma "heresia": "Delas temos de aprender, Padres e Bispos"(sic).
Concerteza o Amigo JS conhece Andrés Torres Queiruga, que completou ontem 73 anos.
Não me parece que Queiruga tenha uma "Fé de Fantasia".
Há 8 anos, ouvi-lhe de viva voz uma coisa fundamental:
Um Amigo, Ateu, perguntou-lhe: "Andrés, tu que até és inteligente e culto, ainda Acreditas em Deus?!"
E Queiruga, certamente com aquele sorriso afável que o caracteriza, respondeu: "E Tu,que até és inteligente e culto, ainda Não acreditas em Deus?!".
Deram uma alegre gargalhada os dois - e continuaram Grandes Amigos.
Voltemos portanto ao Tema do Post: A SOLIDÃO.
Um forte Abraço.
Moçambicano
JS;
Não partilho da sua opinião e sem bem do que falo!
Nasci no seio de uma família, fui criada em família, rodeada de gente e vivi na pele a SOLIDÃO!
Hoje, tenho a minha própria família e por motivos que não interessam referir aqui, passo algum tempo sozinha, mas não na solidão.
Silêncio é o que o JS, se quer referir, e não a solidão.
Os monges que vivem apartados do mundo, vivem no silêncio e não na solidão. Convido-o a pensar nisto, com humildade. Não creia que sabe tudo... não lhe basta ler o significado das palavras no dicionário, há que viver o seu real significado.
Não tenho qualquer fantasma a ensombrar-me, confesso até que nos dias de hoje, me sabem muito bem os dias de silêncio, onde me encontro comigo mesma, com os meus erros, os meus projectos e com o amor de DEUS, e sabe-me tão bem!
Faço questão, de pelo menos 1 dia por ano, "abandonar" a família, a casa e ir para o Santuário de Fátima sozinha, e sabes JS... não sinto a solidão, apenas o silêncio!
Acredita, são 2 coisas distintas!
caros amigos
Gostei quanto baste da discussão acesa. É das dicussões que nasce luz!
Só temos é de moderar a forma como nos tratamos quando discutimos.
Quanto à minha "peintência" e agora falo do fruto da experiência, ela tem de existir para ser uma autêntica confissão. Quantas vezes eu já experimentei não a dar porque não fazia sentido, como no caso descrito, e depois as pessoas ficam a pensar que não se confessaram. Além disso não tem só o valor da "recompensa" a Deus, mas da oração que brota da graça de Deus!
abraço a todos
Caro JS se ler melhor o que escrevi, verificará que não sou eu que cuido da minha mãe. Se o JS lesse as consciências não escreveria o que escreveu, pois, não é a realidade do que eu penso. Não penso que a presença da filha substitua a presença do marido. Não estou convencida de ter conseguido com êxito evitar que ela se sinta só. Sinto-me, sim, tranquila por a minha mãe não se encontrar só. Pode questionar o que entende, que não me ofendeu, mas não tire conclusões tão precipitadas porque as que tirou estão completamente erradas.
Agora vou-lhe dizer o porquê de ter dito o que disse:
- Deus sabe o que é melhor para cada um de nós, Ele orienta de forma maravilhosa os acontecimentos do mundo, e, também, há a liberdade humana que se Lhe pode opor. Tudo é Graça de Deus.
- Tenho a Graça de Deus de vê-l'O em todos os acontecimentos da vida, sejam bons ou maus, portanto, para lhe dizer que sei falar de solidão, e só sabe falar de solidão aquele que a vive, a experimenta na sua própria pele, principalmente quando Deus se esconde.
- É verdade que Deus caminha sempre connosco, e na solidão temos sempre a companhia de Deus, quer dizer que nunca estamos realmente sós; mas não quer dizer que não experimentemos esse martírio da solidão, por Sua Graça, para que nos compadeçamos e compreendamos quem realmente a sofre.
Nem todos conseguimos caminhar por estas sendas, da mesma forma que nem todos aguentam uma purificação forte de Deus, porque é assaz difícil aceitar e entregar a Deus todo o lixo interior que todos temos, "somos extremamente medíocres" como disse François Varillon,SJ, na sua maturidade espiritual. Requer-se sempre uma união com Deus, que todos devíamos procurar ter, porque d'Ele viemos e para Ele voltaremos.
É verdade que devemos libertar-nos das criaturas para amá-las em Deus, e amá-las-emos mais e melhor; e depois, o mais difícil, deixar-nos a nós mesmos! Meu amigo, são tarefas hercúleas, que implicam uma grande docilidade à acção do Espírito Santo, a constante negação de si mesmo (morrer para si mesmo a cada instante)em prol do Outro e dos outros, ou seja , o amor oblativo. É um caminho libertador, o da verdadeira liberdade, mas é uma caminhada para toda uma vida.
-Até lá vamos pondo em prática o evangelho que nos incita a cuidar dos órfãos e das viúvas, e a amar o próximo como a nós mesmos.
- Para seu esclarecimento, neste momento a minha mãe nem sequer deve viver sozinha.
- Sabe? Somos humanos e não podemos guardar esta humanidade no bolso, caminhamos com tudo o que temos e somos com e para Deus.
Um abraço em Cristo, Fonte de Amor
A anónima das 9:27
Padre poderia me passar seu email? gostaria muito da sua ajuda preciso conversar
Olá,anónimo/a de 31 Maio, 2013 16:56
O email está bem visível no blogue, do lado esquerdo, ao cimo.
Boa tarde!
Ajoelho-me neste confessionário virtual, não sei se preciso confessar-me ou apenas falar do que me vai na alma que estará doente.
Estou com medo de mim mesma e não é a primeira vez.
Se possível, perdoa Deus, a minha fraqueza e a minha inutilidade.
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