A dona Silvina tem oitenta e nove anos e vive com a irmã que tem menos que ela uns seis. Foram toda a vida o amparo uma da outra. Ambas vestem preto. Mas a Silvina cuida-se, arranja-se mais. Terá, porventura, uma perspectiva da vida mais convicta e interessada. Tem oitenta e nove anos e ainda cuida da irmã que caiu e partiu a perna. Mesmo sem grandes forças, não desiste de oferecer o melhor à irmã. Porém, começou a faltar-lhe a paciência e ontem queixou-se. Que hei-de fazer, senhor padre?
Para esta gente e estas idades que podem cair na resignação da vida, é necessário encontrar sempre o lado positivo das coisas. Ó dona Silvina, a senhora em vez de desanimar deve dar graças a Deus porque ainda está e é capaz de ser útil a alguém. Ela ergueu o tronco, retocou ao de leve o cabelo branco com a mão direita, e sorriu como há muito eu não a via sorrir. A nossa dona Silvina tem agora mais uma razão para viver.
Para esta gente e estas idades que podem cair na resignação da vida, é necessário encontrar sempre o lado positivo das coisas. Ó dona Silvina, a senhora em vez de desanimar deve dar graças a Deus porque ainda está e é capaz de ser útil a alguém. Ela ergueu o tronco, retocou ao de leve o cabelo branco com a mão direita, e sorriu como há muito eu não a via sorrir. A nossa dona Silvina tem agora mais uma razão para viver.
10 comentários:
Para isso também contribuiu o teu sorriso, a envolver as palavras que lhe disseste.
Um abraço, meu amigo, em Cristo
Que giro, nunca tinha pensado desta forma!
Vou aproveitar a dica para falar com a minha mãe (que já tem alguma idade).
Ó Senhor Padre, tem uma forma tão engraçada de descrever as realidades tão ricas. Continue!
ZN
Na verdade, quando nos sentimos úteis, a vida tem outro ,objectivo, faz-nos viver com maior intensidade.Se pensarmos que estamos cansados «o prazo de validade está a acabar» e ninguém nos mostra que somos úteis é muito difícil ter forças para sobreviver.
A sensação de ser-se útil, de fazer falta, de ser-se necessário, é um dos mais poderosos afrodisíacos existenciais. Quanto voluntariado, quanta solidariedade, quanto altruísmo têm como força motriz esta necessidade básica de (auto) reconhecimento e gratificação...
E como é terrível alguém sentir-se inútil, dispensável, não havendo quem queira aquilo que temos para oferecer. Nesta situação estão especialmente os desempregados e, sobretudo, os idosos, que, para além de se debaterem com a incapacitante falta de forças e de saúde, têm ainda de lidar com a rejeição da sociedade, que os considera um peso (quase) morto.
Todavia, porque se trata de uma poderosa droga, muitas vezes tal sensação cria dependência. Torna-se um vício.
Assim, há gente que é incapaz de dar espaço aos outros para trabalhar, ou de partilhar tarefas, precisamente porque teme perder utilidade, perder valor.
Há quem se recuse a passar testemunho, não aceitando retirar-se de cena, dando a sua missão por cumprida, ou reconhecendo que o seu tempo, em determinado trabalho ou função, chegou ao fim.
Há gente que se dedica a inventar mil e uma formas de se fazer útil, de se tornar indispensável, como é típico da mentalidade burocrata.
Há muito boa gente que alimenta a dependência dos outros, na prática impedindo-os de crescer, de se tornarem autónomos. Fazem tudo o que podem pelos outros, mesmo o que os outros deveriam fazer por si mesmos. E, claro, não falta quem se aproveite disso, acomodando-se na preguiça de ver tais boas almas a afadigarem-se para servir a mandriagem; chegando-se ao cúmulo de se reivindicar isso como um direito.
Infelizmente, este é um dos maiores pecados da religião: infantilizar as pessoas, a sua fé, tornando-as cada vez mais dependentes de Deus.
Diz-se que a religião é salvação, mas a verdade é que as pessoas nunca estão salvas ou libertas. Os nadadores-salvadores parece que se comprazem em enfiar a cabeça do náufrago na água, para ver se ele se convence mesmo de que precisa de ser salvo; e quanto mais se anda no salvamento, parece que mais a pessoa se afunda.
Uma pessoa será tão mais útil quanto mais trabalhar para se tornar inútil:
Explico: devemos trabalhar para que aqueles que precisam de nós deixem de precisar. Porque cresceram, aprenderam connosco, tornaram-se autónomos, são capazes de fazer por si próprios.
Devemos trabalhar para que aqueles que precisam de nós deixem de precisar e possam ser eles a trabalhar para quem precise deles.
Devemos trabalhar para que haja quem possa dar continuidade ao nosso trabalho junto daqueles que precisam de nós.
Devemos trabalhar para o dia em que, possivelmente, sejamos nós a precisar dos outros. Como, de uma forma ou de outra, não nos faltaram quando precisámos deles. Ou quando vamos precisando uns dos outros...
Pois é, as vezes é preciso tão pouco para fazer alguém sentir-se melhor. As vezes uma palavra, um olhar, um gesto de carinho ditos e/ou feitos na hora certa, podem fazer um bem imenso e levar a quem precisa a presença de Deus. Quem bom Padre que o senhor tem a sensibilidade de fazer ou dizer ás coisas certas, nos momentos certos. O senhor também é um Grande Padre. Abraços em Cristo.
:) simples e belo...
Enviar um comentário