terça-feira, janeiro 11, 2011

A Maria do Céu

A Maria do Céu é uma rapariga que tem mais de cinquenta anos. Suponho que não tem consciência da maior parte deles. Celebra-os porque alguém lhe diz que esses dias são muito importantes. A Maria do Céu é uma rapariga que, apesar da idade, tem a ingenuidade e simplicidade de uma criança. Aparte isso, é apenas mais vivida. Tem alguns dos calos da vida. Se soubesse contar, teria muitas vidas para contar.
E há dias, ao entrar, por acaso, numa das minhas igrejas, ela estava lá sentada. Observei-a durante alguns minutos. Ela não deu conta da minha presença. Pensei que ela estivesse dormitando. Mas não. Parecia bem atenta ao que estava a fazer. Não estava a rezar, pensei. Pois habitualmente murmura muitas palavras na sua oração. Até durante a missa. E ouve-se. Hoje não a ouço. Mas a curvatura da cabeça indiciava-me que estava a olhar para a cruz. Fixamente. Não se mexia. Eu já não conseguia deter nem os pensamentos nem a posição das costas e das pernas. Estava nestes preparos quando me recordei daquele aldeão, em Ars, a paróquia do João Maria Vianney, que passava horas em frente ao sacrário. Um dia o santo perguntou-lhe que fazia tantas horas naqueles preparos e o aldeão respondeu-lhe. Eu olho-O e Ele olha-me. A Maria do Céu olha-O e Ele deve estar a olhá-la. Um e outro não se devem ter distraído comigo. Vou embora. Um dia ainda hei-de saber rezar assim, na simplicidade dos que se amam.

8 comentários:

Anónimo disse...

Eu também gostava de aprender a rezar assim, com essa calma e serenidade...
bigada, migo

Confessionário disse...

olá, amigos, hei... tá aí alguém? Era giro que, ao menos, alguém dissesse que se riu com a anedota e gostou da novidade!! Chiça, que o pessoal anda calado! Ou então os textos dizem tudo e nao deixam mais nada para dizer! lol

laureana silva disse...

Meu amigo, comovente e simples este texto tal como já nos habituou e com um subtil de humor nas entrelinhas.
Na verdade, não é para dar "graxa"
passe a palavra, mas para expressar a preferência por este blog, faz-me bem lê-lo. Quem me dera padre eu conseguir rezar como
esse homem ignorante, mas que se entendia muito bem com Deus.
Maria

Anónimo disse...

Realmente Confessionario tem direito á indignação.Somos uns ingratos.Tanta beleza vinda desse lado devia deixar-nos mais atentos ás novidades,mas o que quer falam tanto na vinda do FMI que o pessoal tem medo que até o sorriso vá passar a pagar imposto.Na duvida é preciso estar alerta.Olhe e para terminar,e lembrando o evangelho de ontem dia 12/01,não sei se sabe que foi a unica vez em que São Pedro se zangou com Jesus? Porque curou-lhe a sogra! Vá agora embora lá,todos,a ir ler. Beijinhos.E é optima ideia essa da anedota do dia.Um santo triste é um triste santo.Maria Ana.

Anónimo disse...

Padre, tem razão... faz falta o eco.
Gosto dos seus textos, escritos com o coração. Gostei da partilha a propósito do ano novo.
O mês de Janeiro é grande, húmido, frio... não tenho dúvidas que as pessoas continuam a vir aqui ler as suas mensagens, mas andam mais voltadas para o seu eu. Talvez.
Ás crianças a quem dou catequese costumo dizer-lhes que a forma de falar com Jesus não é só com frases e orações feitas. É saber escutar e falar com Jesus, com o coração. É necessário parar por fora e estacionar por dentro.
Um abraço e muito obrigada por andar por essas bandas.Zn

D. R. disse...

Sinceramente, da minha parte, é o que acaba por acontecer. O que se sente ao ler os seus textos nem sempre é fácil de explicar e fica a sensação de que tudo o que se possa dizer não virá acrescentar nada. Engraçado, mas é o que sinto.

Quanto à anedota, está um máximo... :)Ri-me bastante.. :)

Ana Loura disse...

Li a anedota e sorri, li o seu post e fiquei assim como que a olhar, a sentir Paz de que tanto preciso

Anónimo disse...

O que me foi lembrar nesta noite pacata Padre !!!
Tenho de partilhar! Esta Maria do Céu era uma mulher com mais uns 30 anos que eu na altura, que se passou uns anos por minha amiga. Tão amiga que um dia me levou a casa dela. Entrei para a sala. Os tectos estavam todos bolorentos e a casa muito maltratada, tinha lixo espalhado e vários gatos, mas os pretos, tinham o rabo cortado! O filme de terror estava ainda a começar. Levou-me para me mostrar o livro de S. Cipriano que tinha na estante. Eu devia ler algumas orações que me iriam ajudar ainda mais nos amores. Nessa época ainda não frequentava a igreja desde os mais remotos tempos da minha infância/ +-adolescência, e deixei-me ir na sua conversa de que era um anjo de luz e não fazia mal ler aquilo etc etc.. de facto a ignorância saiu-me caro. A Maria do Céu, passava os dias a infernizar a vida alheia, e a envolver-se sexualmente com os namorados das amigas. Um dia até me convidou para ir ter com ela a uma moradia onde me esperavam ela e um amigo em trajes pouco recomendáveis, de onde tive de sair a correr, mas devido à minha idade, perdoei-lhe. O marido era delegado de propaganda médica e passava temporadas longas fora. Desde aí a minha vida passou a ser um inferno. Eu não percebia efectivamente o que se estava a passar, mas hoje vejo que aquela mulher tinha-se colado à minha vida. Um dia convidou-me para dormir em casa dela, que quando voltei para casa e me fui pentear lembro-me de achar estranho, tinha um bom bocado de cabelo cortado, mas acreditem eu não percebi!!! Quando estive hospitalizada ela sempre se colava ao meu namorado de então para me ir ver contra minha vontade. Quando sai do hospital, debaixo da minha cama tinha uma tesoura aberta (parece que significa cortar uma relação) e soube depois que ela havia dormido com ele várias vezes. As minhas roupas parte delas tinham desaparecido lá de casa, camisolas … e sempre que tentava deixar de falar com ela, não conseguia de facto e eu nunca acreditei nestas coisas, pois de tal maneira algo andava mal que pensei chegar ao desespero sem saber porquê. Pois não eram propriamente os episódios em si, embora que graves! Eram certamente as suas sórdidas orações. Mas um dia entrei na igreja para agradecer uma graça a Deus. E foi então que vi um padre com um comportamento fora do comum, só assim me poderia ter atraído a atenção para lá voltar… um padre que queira ou não, saiba ou não mudou a minha vida, mesmo apesar do sofrimento que veio depois… Talvez se não tivesse sido ele e Deus, Deus e ele, mais Deus do que ele, quando a Maria do Céu me veio bater ao vidro do carro eu não lhe tivesse conseguido dizer “não” com o dedo sem abrir o vidro. Não lhe tivesse conseguido dizer que não …em nome de Deus! Com isto tudo aprendi, que os que não estão com Deus estão muito mais susceptíveis, e que é preciso rezar muito por eles, para que cheguem até Deus, pois há sempre o que não é Deus a rondar.