sábado, agosto 22, 2009

Uma noite em Fátima

Estava em Fátima e, como sempre, aproveitei para dar uma saltada ao Santuário na hora do terço. Vinte e uma e trinta. O tempo estava nublado. Eu também estava. Digamos que o cansaço ruíra sobre mim e precisava de um conforto espiritual. Tudo se conjugava para uma noite com Maria. Coloquei-me debaixo da capelinha, mas ao fundo. Curiosamente de cima da passadeira. A famosa passadeira que sempre me costuma incomodar. A passadeira das senhoras e senhores que cumprem promessas de joelhos, a arrastar vidas, dificuldades, problemas, e muitas vezes, crendices. Nunca aceitei bem, como espero que Deus não aceite bem, estas promessas que fazem do sofrimento gratuito um negócio com Deus, como se a este agradasse o sofrimento por si. São estas as mesmas pessoas que, muitas vezes, põem em causa o sofrimento que Deus permite acontecer no mundo e que, ao mesmo tempo, se infligem, sem necessidade, sofrimentos fortuitos. Não sei nunca como explicar estas dicotomias que as pessoas vivem ou pensam.
Estava eu nas minhas respostas do terço quando me tocam no ombro para me afastar. Não entendi logo o que se passava. Mas depressa percebi, quando uma senhora passa a poucos centímetros de mim, a arrastar-se na passadeira. Mesmo que a promessa fosse oportuna, a hora não o era de certeza. Olhei-a bem no fundo dos olhos procurando uma resposta. Curiosamente ela não escondia o rosto. Antes me parecia que gostava de o ostentar. Por isso tive oportunidade de a olhar nos olhos. Mais pessoas foram distraídas da sua oração para dar lugar à promessa. Eu quase que interroguei a senhora. Ainda me inclinei para o fazer. Não tive coragem, ou desfaçatez. Justifiquei-me, imaginando que até podia ser estrangeira e não entender a minha linguagem. Não entenderia, de certeza.
Não consegui rezar mais, porque a cabeça perguntava-me, mil e uma vez, porquê.
Desta vez a promessa foi mais forte que a oração. Quantas vezes é até mais forte que a fé!

55 comentários:

João Simões disse...

É com um misto de alegria e tristeza que comento esta notícia!
Alegria, porque me apercebo que eu um simples leigo, com alguma formação, mas nada que se compare á formação de um Sacerdote, não estou sozinho na minha falta compressão para com a questão das promessas, do sacrifício gratuito e de espontânea vontade, o qual considero não ser a vontade de Deus, e que Deus não quer que nos auto-molestemos para que ELE olhe para nós!
Tristeza, porque sem querer chamar ignorante a NIMGUEM, tenho que dizer, que considero que as pessoas que fazem promessas, em grande parte são pessoas com um grande desconhecimento de Deus, e de Sua palavra. São pessoas com baixa cultura religiosa! Estão em desespero e por tal motivo recorrem á promessa!
Cabe á Igreja, aos Sacerdotes e Leigos empenhados, elucidar e dar formação, para que as pessoas aprendam a amar a Deus! O Deus de verdade aquele que nos ama incondicionalmente!
Já Jesus nos disse:
«Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós mais do que elas?
Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?
Porque vos preocupais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé?
Não vos preocupeis, dizendo: 'Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?'Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas; porém, o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema.» ( Mt 6 25-34)

Abraços Consolatinos

Luisinha disse...

Pois é... Às vezes acho que existe muita "fé de interesse", daquela que reza para ter algo em troca e aquilo que desejam conquistar vale qualquer esforço físico ou condição precária. Mas... Bem lá no fundo... não deixa de ser uma "espécie" de fé. Não deixam de dar uma certa credibilidade à existência de Deus e daquilo que podem fazer para alcançar os Seus Caminhos. Nunca fiz esse tipo de promessa mas acho que compreendo em parte o que vai na alma dessas pessoas que se entregam a isso. Foi pena não ter questionado a senhora, talvez tivesse surgido uma resposta interessante... Mas agora deixa lá, não penses muito nisso! Ainda deves estar a precisar de descanso...

Paz e Bem
Luisinha

Canela disse...

Á primeira leitura... sentir-me-ia tentada em concordar. Mas... na verdade, não posso!

Nunca fiz nenhuma promessa, que fosse exteriormente visivel. Mas já fiz promessas.

1º Porque se fazem as promessas?

Creio que serão, quase todas elas pelo mesmo motivo... causas desesperantes: familiares muito doentes, causas impossiveis... digamos assim!

Se Deus quer?
Deus ama-nos, logo não quer o nosso sofrimento, mas este também existe, e, não é castigo de DEUS. Faz parte da vida, do nosso crescimento...

Este tipo de promessas, creio que devemos respeitá-las acima de tudo. Quem somos nós, para questioná-las? Quem somos nós, para avaliar o sofrimento que leva a tão duras promessas?

Na verdade; somos um nada, achando-nos um muito!

Este tema, é uma verdadeira ratoeira. Onde nos sentimos tentados, entre a nossa sabedoria e a dos outros, esquecendo a relação pessoal do outro com DEUS.

Aceitemos com caridade, e, com ela respeitemos a dor do outro...

a Paz de Cristo

Alma peregrina disse...

Caro amigo Confessionário:

Lamento imenso em dizer-lhe, mas desta vez irei discordar de si…



Ora comecemos pelo básico. Desde os primórdios que o Ser Humano tem, instintivamente, um certo sentido de Justiça. Chamemos-lhe Lei Natural, ou chamemos-lhe simplesmente espírito de Humanidade… o que é certo, é que uma pessoa educada no sentido da honra e que recebe uma bênção tem uma necessidade pungente de retribuir a bênção atribuída. Seja a Deus, seja ao Universo, seja aos equilíbrios cósmicos, etc…



Os jejuns, os processos de mortificação e ademais sacrifícios foram (e isto é um facto inegável) praticados pelos mais venerados santos da História Universal. E, com isto, não me refiro apenas aos santos da minha religião, mas também a todos os homens considerados de alguma forma santos noutras religiões (judeus, muçulmanos, budistas, hindus, etc…) e até filosofias (veja-se os estóicos, por exemplo).

Mas também me refiro a santos católicos, obviamente. Leio os diários deles e fico pasmado com a naturalidade com que eles lidavam com o sofrimento, como se fosse uma forma integral da sua Fé. Parece que eles viam em tais processos uma forma indispensável de crescimento espiritual.

Devo eu, que não sou santo, criticar tais actos única e exclusivamente porque sou pós-Vaticano II e tenho um diferente entendimento de Deus? Um entendimento “moderno”?

Não. Isso não é razão. Nascer no séc. X ou no séc. XX não são méritos pessoais, são acasos do Destino. E uma pessoa “moderna” não tem mais nem menos mérito por ser “moderna” do que uma pessoa “medieval”. E Deus veio salvar todos, em todas as épocas e em todos os lugares.

Achar-me, de alguma forma, superior às pessoas que fazem promessas apenas porque isso vai contra o meu entendimento de Deus, tresanda a um certo snobismo intelectual pseudo-moderno. Um snobismo em tudo semelhante ao de jammarques. Ou seja, eu sou intelectualmente superior apenas porque professo as doutrinas da moda, porque acredito no mainstream elitista da minha época.
Se nós não gostamos de ver julgadas as nossas práticas apenas porque são consideradas antiquadas, devemos ter o mesmo respeito por quem nós consideramos antiquado. Quem sabe, podemos estar a deturpar aquilo que as outras pessoas pensam com os nossos preconceitos (como o jammarques fez no post abaixo).



Não desejo que me interpretem mal… eu não ando por aí a esfolar os meus joelhos na calçada nem a auto-flagelar-me com cilícios. E também não acredito que Deus exija tais sacrifícios de quem os não pratica.



Mas recordo-me daquilo que disse nos primeiros parágrafos do meu comentário. O que leva as pessoas a fazerem tais promessas é um sentido de Justiça, de equilíbrio cósmico, que elas precisam de manter para manterem também a sua sanidade. E quando eu olho para os antigos e os comparo com os modernos, vejo que eles tinham muito mais sanidade do que nós.

Nós, os modernos, somos incapazes de tolerar a mínima contrariedade. O mínimo sinal de frustração e já consideramos que existe um direito não reivindicado que não foi satisfeito. E assim vamos corroendo a sociedade ao sabor dos nossos caprichos, sem qualquer consideração pela Verdade, pela Justiça e pela Sabedoria. Pela minha experiência são estes modernos que (como o Confessionário diz) são as “pessoas que, muitas vezes, põem em causa o sofrimento que Deus permite acontecer no mundo”.

Quanto aos antigos (aqueles que são devotos destas promessas e afins “crendices”) vejo neles uma serenidade ante as dificuldades, uma presença forte e obstinada, como a das árvores que morrem de pé ou a rocha que não é derrubada pelas tormentas marítimas. Eles aceitam que o mundo tem sofrimento e, em vez de se ajoelharem para berrar, ajoelham-se para caminhar. Estas são as pessoas que vencem as dificuldades, por vezes com grande custo pessoal, alimentadas apenas por um sentido de honra que antigamente era prevalente. O mesmo sentido de honra que os faz considerar que, se Deus lhes foi benévolo, então eles devem pagar a Deus de alguma forma.

Alma peregrina disse...

E vendo estas duas pessoas, o antigo e o moderno, quem pode negar qual é o mais são? Apenas os cegos como o jammarques. Aquele que sente o sofrimento na pele e desata a bater o pé “Eu quero! Eu quero! Eu quero!” age como uma criancinha. O outro ajoelha-se, diz “Deus toma de mim o que quiseres, mas dá-me forças para suportar esta prova” e depois pega na enxada com as suas mãos calejadas e vai fazer pela sua vida… esse, esse é um homem adulto, maduro, viril.

Sem dúvida, um é uma criança e o outro é um adulto. A criança geralmente aponta para o adulto e diz que o que ele faz não tem sentido… afinal de contas, que sentido tem para uma criança que o adulto passe o dia a penar no trabalho, quando ele poderia passar a vida a brincar e a divertir-se?



E por que será que um se comporta de forma tão adulta? Por que será que o antigo tem uma tal maturidade espiritual?
Porque sem sofrimento não há crescimento. É impossível subtrair uma criança a toda e qualquer frustração e esperar que ela se torne um adulto seguro e responsável. A nossa alergia moderna ao sofrimento legou-nos uma sociedade adolescente e superficial, que está disposta a suprimir tudo para se sentir bem. Os antigos, que não têm diplomas nem mestrados em pedagogia, sabem isto instintivamente. Os modernos não conseguem ver esta verdade tão simples, mesmo que tenham diplomas e mestrados em pedagogia. Por isso os antigos são mais sãos do que os modernos.



Poderá o Confessionário replicar-me que nada disto implica que Deus deseje o sofrimento destas pessoas. Que nada disto implica que essas pessoas devam procurar o sofrimento voluntariamente. E terá razão no que diz. Não sou teólogo, portanto não sei e confesso a minha ignorância neste assunto.

Limito-me a conferir as evidências. Ao agirem de uma forma irracional e instintiva que apazigua o seu Sentido de Justiça, os antigos acabam por comportar-se no seu dia a dia com uma sanidade que os modernos não possuem.

Diz o meu irmão comentador José Simões, que estas pessoas têm uma “baixa cultura religiosa”. E terá razão. E também terá razão o José Simões (que eu muito respeito, apesar de discordar dele) e o padre Confessionário se disserem que as pessoas que procuram tocar as relíquias dos santos para se curarem têm uma “baixa cultura religiosa”.

Mas quem lê a Bíblia vê que estas pessoas de “baixa cultura religiosa” tentavam tocar a túnica de Jesus Cristo ou a sombra de S. Pedro Apóstolo e ficavam curadas de suas maleitas. A sua Fé simples e primitiva era recompensada, porque transpirava a Humanidade. Uma Humanidade que era esquecida e, por isso, escarnecida, pelos veneráveis intelectuais do Templo. Uma Humanidade que não pretende entender Deus, mas tão somente amá-lo, ainda que de uma forma tão irracional como apenas o verdadeiro Amor o poder ser.



Uma Humanidade que Jesus Cristo redimiu com a Sua Encarnação. É por isso que há santos tão diversos na nossa querida Igreja. Há aqueles que, como a Beata Madre Teresa de Calcutá, se procuram assemelhar a Cristo nas suas obras. Há aqueles que, como os religiosos enclausurados, se procuram assemelhar a Cristo na sua solidão orante junto ao Pai. Há aqueles, como os padres, que se procuram assemelhar a Cristo na Sua componente sacerdotal e há evangelizadores que se procuram assemelhar a Cristo na Sua componente missionária. E há aqueles que procuram assemelhar-se a Cristo na Sua Paixão, sofrendo. Todos vivem a sua vida como uma oração de glória ao Pai. Há os que oram em silêncio e em reverência como o Confessionário e há os que oram arrastando os joelhos no chão em cumprimento de uma promessa (tal como Cristo se arrastou no Calvário para cumprir a Sua promessa de Redenção). Todos são caminhos para Deus e todos os caminhos vão dar a Deus desde que sejam sinceros e desde que não sejam pecaminosos.

Alma peregrina disse...

E a nossa Igreja canonizou todos os santos em todos os caminhos possíveis e imagináveis, porque na Igreja existe espaço para todos os caminhos, excepto para o pecado. Se a Igreja não considera as promessas como pecado, não serei eu que as considerarei. Há espaço para todos, por que temos de guerrear? Já não basta a guerra contra o Demónio? Deixemos a mulher passar de joelhos, deixemo-la seguir o seu caminho que nós continuaremos seguindo o nosso caminho. Se os nossos caminhos se cruzam, é porque temos alguma coisa a aprender uns com os outros.



Confessionário, não se ofenda por eu lhe dizer isto, porque eu sei muito bem qual é o meu lugar, o lugar de um leigo que não condena o seu sacerdote, que é o seu pastor. Digo-lhe isto apenas como amigo… o que venceu a sua oração naquela noite em Fátima? Foi a promessa? Ou foi a sua incompreensão? Porque você diz que não conseguiu rezar mais, porque não parava de perguntar “porquê”!

O Confessionário conhece o coração daquela mulher? Sabe que promessa é que ela fez? Sabe aquilo por que ela teve de passar para se ver obrigada a fazer tal promessa? Tem uma janela para o interior da consciência dela? Talvez, mas eu não tenho e portanto não julgo… Talvez o corpo dela, na sua postura altiva e vaidosa, espelhasse as suas verdadeiras intenções, mas por vezes as primeiras impressões não são as melhores para construir uma imagem de uma pessoa desconhecida…

E talvez (o Confessionário saberá melhor do que eu, porque estava presente e eu não) essa mulher estivesse a fazer a sua promessa apenas para se evidenciar. Mas em que é que isso refuta a importância das promessas? Também há aqueles que só vão à Missa para se evidenciar… e, no entanto, que sacerdote católico diria que, por causa disso, a Eucaristia é vã e fútil? As coisas boas são sempre abusadas… senão não seriam verdadeiramente boas.



Termino este já longo comentário com uma das recordações que mais me comove. Em Fátima também vi, certa vez, uma família de origem africana a cumprir uma promessa. Marido e esposa, pais e avós, os filhos adolescentes, três gerações de joelhos a percorrer o recinto (as crianças mais novas iam a pé, acompanhando-os). Não sei por que terão feito tal promessa. Mas sei que aquele calvário que eles se auto-impuseram era um reflexo de um grande sofrimento pelo qual eles passaram. Juntos. E sei que família que atravessa tal sofrimento unida… não se desune jamais.
Talvez aqui esteja uma lição sobre como devemos ser família com Deus.



Pax Christi

Alecrim disse...

Eu era uma teenager muito teen quando fui a Fátima a pé pela primeira e última vez. Gostei, porque fui acompanhada das minhas melhores amigas da altura, e pensámos e orámos alguma coisa, mas também brincámos muito. Depois perguntei-me o que me levara lá, e ninguém mais lá fui, a pé. Voltei algumas vezes em meios de transporte mais cómodos. Gosto do silêncio de Fátima, mas além de me causarem muita tristeza as ditas promessas, não acredito nas aparições. Não acredito mesmo. E eu sou cristã, cristã praticamente, mais ou menos católica, isto é, em discordância com muita coisa na Igreja Católica, mas não tendo encontrado melhor.
Queria saber: choca-o que haja cristãos católicos que não acreditem nas aparições de Fátima, não gostem de procissões e liguem pouco a santos?

Anónimo disse...

Pois, a mim a passadeira também sempre me fez impressão. Mas da última vez que estive em Fátima "fiz as pazes" com ela.

No hotel onde fiquei, estava também um grupo de estrangeiros, do qual faziam parte quatro meninas, entre os 6 e os 10 anos. Todas muito loirinhas e com um ar perfeitamente angelical. As "anjinhas" rapidamente puseram o hotel de pantanas, a jogar ãs escondidas e à apanhada, tudo acompanhado de grande gritaria. Felizmente não eram irmãs, porque assim a conta de loiça partida e outros estragos deve ter sido repartida e pesado menos no bolso de cada pai.

Gosto de ir ao Santuário de manhã cedo, antes de encher de gente. Uma manhã, quando cheguei já lá estavam as "anjinhas". Sem sinal de pais por perto. Ou ainda estavam a dormir no hotel ou a rezar nalgum local sem as terem debaixo de olho. Bonito servico, pensei. O problema não era o perigo de rapto - as miúdas gritariam tanto que a população de Fátima apareceria em peso, a pensar que era uma nova aparição. O problema era que as "anjinhas" eram capazes de tudo, desde pintarem o jogo da macaca no chão, até treparem à estátua do Papa João Paulo II.

Afinal, tiveram outra ideia: "experimentar" a passadeira. E lá foram elas de joelhos por ali abaixo, numa velocidade espantosa e com um ar felicíssimo. Não tinham qualquer protecção nos joelhos e as calças de ganga, pelo menos, devem ter ficado num lindo estado.

Não sei se as miúdas fizeram aquilo por devoção ou por diversão. Inspiraram-se nas mortificações dos pastorinhos, ou acharam que era um desporto radical? Fosse como fosse, acho que Nossa Senhora se terá rido muito... Foi uma imagem bem diferente das pessoas que se arrastam pela passadeira, sob o peso do dramatismo das suas vidas.

Comecei a pensar que a atitude das miúdas podia dar outra interpretação à ideia do "sacrifício gratuito". Também me repugna a ideia do negócio. Mesmo na mortificação dos pastorinhos, havia uma troca implícita, se bem que altruísta: era pela conversão dos pecadores.

Mas imaginemos que as miúdas fizeram aquilo, que de certeza lhes causou dano, para dizer a Nossa Senhora que gostam dela. Há namorados e namoradas que fazem grandes maluquices para demonstrarem o seu amor... Não poderá a mortificação ser uma demonstração de amor?

Anónimo disse...

O PAGAMENTO DE PROMESSAS

Os factos reportados no texto, remete-nos para o espectáculo do pagamento de promessas. Espectáculo este que a hierarquia da Igreja compreende e o tem consentido.

O acto resulta dum contrato de fé pessoal e directa entre o suplicante duma Graça Divina e a Entidade (normalmente um Santo(a) católico(a) como intermediário) a quem é dirigido. Se aos olhos do pedinte a Graça fôr obtida há a obrigação do pagamento da promessa. Caracteriza-se por não ter acompanhamento espiritual, pelo menos do pároco.

Se observarmos melhor, na história da civilização - na mitologia grega, romana, no judeísmo, nos incas, aztecas, etc - também se praticaram estes costumes de cumprimento de promessas aos Deuses, onde se incluiam sacrifícios.

Reporta o autor do post a opinião da prevalência do recolhimento e oração em detrimento do sacrificio fisico do pagador de promessas em locais de oração, com a qual concordo plenamente.

Mas o acto em si, não será também resquícios de tradições pagãs e dos primeiros tempos do cristianismo ?

Como comenta João Simões, não caberá à igreja paroquial um papel primordial de orientação e pedagogia para os fiéis ?

Fernando Gonçalves

gralha disse...

É pena que haja tanta gente para quem chegar ao Senhor, que podia ser um atalho tão pequenino e directo, possa tornar-se uma longa estrada confusa e tortuosa. Mas acho que há pessoas que precisam mesmo dessa dificuldade e cada vez mais me abstenho de julgar quem prefere percorrer estes caminhos. Eu não sei o que lhes passa pela cabeça. Pode ser que o Senhor saiba...

Maria disse...

Fui duas vezes ao Santuário de Lourdes e sempre me interroguei sobre a ausência desses arrastamentos de joelhos.

A Fé seria menor ? Ou a pedagogia eclesial mais forte?

O Senhor e Sua Mãe sofreram o que era necessário,não procuraram o sofrimento, mas muito ensinaram sobre a maneira de agradar a Deus que não passava por auto-agressões voluntárias.

É claro,sempre descontando a sinceridade das pessoas, que estão mal esclarecidas.

Alecrim disse...

Gralha dixit. E disse muito bem. No meu entender, claro.

peregrino disse...

...e não há quem tenha a coragem de libertar essas pessoas dos tanques de Betzetá dos nossos tempos... que Deus tenha compaixão...

teresa disse...

desculpe mas concordo plenamente
com a canela e com alma peregrina .
eu nunca fiz este tipo de promessa mas o meu marido já , e sinceramente não devemos julgar nem chamar ignorancia .
na minha opinião não se faz estas promessas para {pagar o favor}
mas sim para agradecer , acredito que o senhor não queira o nosso sofimento , mas acho que estas promessas são mais um sacrificio e na historia da igreja esta repleta de sacrificios até os pastorinhos faziam sacrificios .
por isso acima de tudo devemos respeitar , e ainda bem que não questionou a peregrina , pois todos nós temos direito a nossa privacidade e ela podia não ter aceitado bem a pergunta ,,,

Nuno Andrade Ferreira disse...

Meu caro amigo,

Cada um vive a sua fé da maneira que muito bem entender. E a sua fé se consuma em promessas, porque não? Não será a promessa uma forma de oração? De conversar com o Pai?

Inquietam-me sempre as visões maniqueistas da fé, da religião. Não há uma fórmula única, não pode haver uma derradeira doutrina da fé, pois ela é demasiado pessoal, demasiado intima para ser a regras impostas.

Se há sítio onde somos livres é na fé que temos.

Com isto, não "gosto" de promessas, nunca fiz nenhuma, mas não posso censurar quem as faz.

Sobre o episódio relatado... porque é que a sua oração haveria de ser mais importante do que a promessa da senhora? E bem vistas as coisas, o senhor padre é que estava no caminho dela, no sítio que sabia ser de passagem de quem está a "pagar" uma promessa.

Sou seu leitor regular, mas hoje não concordo consigo.

Como se diz aqui em Angola, um forte kandando (um abraço).

alma rebelde disse...

Estas "cenas" das promessas fazem-me recordar enquanto aluna de uma Instituição Religiosa antes do 25 de Abril, faziam-nos andar arrastar de joelhos pela calçada do Colégio,porque era necessário expiar os pecados e para agradar ao Senhor.
Nós "parolas" acreditávamos e tinhamos que obedecer.
Estes comportamentos distorceram e afastaram-nos da Igreja,quando precisávamos era que de nos falassem do Seu AMor.
"Eu quero misericórdia... e não sacrifícios."
Tb não simpatizo com estes Santuários,porque os responsáveis da Igreja tornaram-nos em locais de negócios à custa de boa fé de muitos crentes.
Se Cristo fosse a Fátima,estou em crer que Ele fazia tal e qual como fez com as bancadas dos Vendilhões do Templo.

Mª José Tavares disse...

Há muitos anos a minha mãe, fez uma promessa de ir desde a Régua até Fátima a pé. Fê-lo num momento de grande aflição e com muita fé na intercessão de Nossa Senhora junto do Pai.
Milagre ou intervenção da Senhora, verdade é que o pedido foi atendido.
Entretanto, minha mãe falou com um sacerdote em confição e este garantiu-lhe que poderia cumprir a promessa, dando em dinheiro à paróquia, o equivalente ao que iria gastar na ida a Fátima a pé. Mas a minha mãe, não aceitou tal proposta. Cumpriu a promessa indo a pé e quase se divorciou da Igreja. Valeu a sua fé em Deus e na Nossa Senhora.

Anónimo disse...

Caro Confessionário:

Ouvi do Bispo Emérito da Diocese de Leiria-Fátima uma história semelhante à que nos conta...

Dizia que uma noite, andando ali pelo recinto do Santuário, viu uma senhora, jovem, a rastejar, já ensanguentada... sentindo o horror daquele cenário, aproximou-se... Não era preciso dizer-lhe que era padre, porque o cabeção o identificava... Disse que a podia ajudar... que através do Sacramento da Reconciliação a Igreja podia converter aquela promessa em algo que lhe fosse menos doloroso...
A resposta da senhora, disse o Bispo, não se fez esperar:
«Foi o Senhor Padre que fez a promessa? Não foi, pois não? Então deixe-me cumprir a minha promessa como eu quero!».
(Talvez as palavras não tenham sido excatamente estas, mas teriam sido similares).
Comentava o Sr. Bispo que desde aquela hora passou a compreender de um outro modo aquelas promessas que tanto o perturbavam e, sobretudo, a RESPEITAR quem as cumpria...

Acrescento apenas que por muito que a nós, sábios e inteligentes, nos pareça contrário à nossa Fé e ao nosso Deus este tipo de promessas... só ELE conhece o Coração de quem as faz...

Eu não concordo... mas respeito. E rezo com cada uma daquelas pessoas que vejo ali a cumprir as suas Promessas.

Talvez o nosso Confessionário, e cada um de nós na mesma situação, pudesse ter feito o mesmo: oferecer a sua Oração, o seu Rosário, pelas intenções de quem ali rezava não apenas com as palavras doces, mas também com o corpo...

disse...

Vamos tentar pensar que aquilo que viu não eram negócios com Deus mas maneiras de agradecer... A educação cristã feita ao longo de muitos anos -e ainda tão presente em determinados pontos- apelava ao martírio do corpo. A morte de Cristo na Cruz justifica-o em certa medida. Pessoalmente, entendo por sacrifício (sacro + ofício) algo feito com amor que se dá de forma altruísta. Podendo ser doloroso, não tem que o ser. Quando, por amor, nos obrigamos a fazer algo que nos custa fazemos um sacrifício. Mas também é sacrifício a entrega a um trabalho que dá prazer e entusiasma. Um e outro têm dignidade e podem ser oferecidos. Entendido, nesta perspectiva, talvez perca sentido o esforço inútil, desperdício de energias, num mundo onde há tantas e tão diversificadas carências. Se a ostentação marca presença, pior ainda... Também aqui a indiferença e a intolerância são os males maiores.

ruialme disse...

"Não consegui rezar mais, porque a cabeça perguntava-me, mil e uma vez, porquê." - Será q não foi nesse momento q começou a rezar?

someone disse...

Boa tarde,

Peço desculpa se este assunto não é propriamente oportuno para este post, mas uma vez que fala em fatima, gostava muito de saber qual a opinião do Padre relativamente ao controverso Cristo que se encontra na nova basílica...

Cumps,

Someone

Anónimo disse...

Someone:

A Igreja da Santíssima Trindade não é uma Basílica. Não tem (ainda) esse 'título' que só lhe pode ser dado por privilégio pontificio...

Mas não é essa a questão que levantou e sobre a qual manifesto a minha opinião pessoal...

O(s) Cristo(s)... Porque são os dois - o interior e o exterior - que causam perplexidade. E compreende-se porquê.

Simplesmente porque são DIFERENTES do que estamos habituados a ver...

Mas a arte aacra é também Arte... uma expressão pessoal (do autor) e plástica (seja escultura, pintura, vitral, etc...) do que é representado...

Aquele(s) Cristo(s) não agrada(m) a todos pelas mais diversas razões... e seria impossível ter ali uma representação de Cristo que agradasse a todos.

Creio que a Autora - porque julgo ser uma Mulher a 'mãe' daquela escultura -, querendo-o ou não, trouxe às palavras de Paulo uma nova actualidade: «A cruz é escândalo para os judeus e loucura para os gentios».

Aquela Cruz é causa de 'escândalo'... ainda bem... significa que não nos deixa indiferentes, que nos põe a pensar sobre o Mistério da Morte do Senhor na Cruz.

Daniela Vilaça disse...

Olá a todos.

Acho este tema bastante oportuno e interessante. Penso que é uma lacuna da nossa Igreja portuguesa.

Concordo perfeitamente com o Confessionário.

Alguem disse acima que se deve deixar cada um viver a sua própria fé. Eu concordo. Mas nao quer dizer que essa fé seja a fé cristã, é uma fé humana. Porque todos nós sabemos da nossa fragilidade e sentimos necessidade de alguem superior a nós, de um poder divino, para nos sentirmos seguros. É a fé humana.., todos a têm. Penso que nao passa de uma 'fézada'.

Tambem digo isto relativamente aqueles que se dizem católicos 'nao praticantes'. Como é qe alguem pode dizer que acredita em Cristo, que ama a Cristo e nao vai à idreja? Se conecesse e amasse verdadeiramente a Cristo, vivia em Igreja (Isto é o primeiro passo.., porque para viver em Igreja e ser Igreja.., é preciso mais. Não é fácil.)
Mas como alguem tambem já disse, as pessoas nao têm culpa, é a ignorancia que as impossibilita de caminharem na fé em Igreja em direcçao a Cristo. Eu posso dar graças a Deus por ter tido um Ananias que me agarrou e encaminhou.

Em relação às promessas, quando estou no Santuário, faz-me pena as pessoas.., rezo por elas. Porqe elas nao têm culpa. Penso que elas ainda nao tiveram o Ananias que lhes ensinasse a verdadeira doutrina, a direcção de Cristo.

Sim, este ano fui a Fátima a pé, em Maio. Foi a primeira vez. Nao levava promessa. O que levei comigo foi um grupo de peregrinos. Levei a minha comunidade cristã. Foram tres dias unicos que nunca esquecerei. Celebrámos Eucaristia todos os dias com o nosso prior, cantámos, rezámos. Foi maravilhoso. Fomos guiados por Cristo ao encontro de Maria, Senhora de Fátima, Sua e nossa Mãe.

Pelo caminho encontrámos vários outros grupos e penso que quase todos eles seriam 'grupos de promessas', ou sejam.., queriam chegar a fatima pela promessa x, e agradecer à Nossa Senhora. Nao condeno, mas tambem nao aplaudo. Condeno, sim, o facto de o deus ser a Nossa Senhora..., mas este já seria outro assunto.

Espero ter conseguido explicar o meu ponto de vista.

Bem-haja!

Daniela Vilaça

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

O padre! Você só pode estar a provocar discussão com a reflexão que faz. Penso que não pensa como diz. Ficaria muito triste. Mas não lhe perderia o respeito. É humano. Todos nós temos as nossas fraquezas. É que : 1. Vou a Fátima hámuitas dezenas de anos. Vejo gente de todas as idades e "classes" a fazer esse gesto de humildade e de gratidão. Sempre senti admiração. Eu não seria capaz.
Não os censuro minimamente.
2. O padre foi pôr-se num ponto da passadeira?
Pois, aí, acho que devia pura e simplesmente dar passagem.

jammarques disse...

Pois é VER PARA CRER:
A questão que tão bem coloca é fulcral.As promessas e respectivo"pagamento" não serão afinal consequências (por vezes dramáticas)da venda que as Instituições (maxime as católicas)
fazem da "fé" na omnipotência,omnisciência e omnipresença de um "ser"com tais propriedades?Não será pois a fé um eufemismo mais de uma crendice mais?
Que diferença faz,senhor padre,a crendice dos tristes pagadores de promessas e a vossa crendice na reza do terço, rosário ou algo assim?
AMBAS DESOLADORAS E TRISTES tem a última a agravante de ser RIDÍCULA E INFANTIL!!!
E só não é grave porque é inofensiva perante a inenarrável farsa da construção de Fátima(outra questão, mas que vem aqui à colacão...,que lá se passa a sua correcta reflexão!).

Anónimo disse...

Eu penso que os responsáveis pela pastoral deviam fazer perceber às pessoas que existem milhentas maneiras de agradecer sem ser necessário passar por situações deprimentes. A minha catequista diz que é a passadeira da vergonha. Estamos no séc XXI e não na idade média. Mas pelos comentários que aqui li há muito quem concorde. Já lá vi situações que punham em risco a vida de crianças que peregrinavam com a mãe na maior torreira do calor. Também mexe comigo. Serve isto para alguma coisa? Não seria melhor rezar e fazer qq coisa útil. Por exemplo dedicarem um dia do seu trabalho a alguém que realmente precisasse.

Anónimo disse...

Muito interessante a maneira como a Fá entende o sacrifício. Nunca me tinha passado pela cabeça mas tem toda a lógica. Tantos disparates se podiam evitar se deixassemos para trás certos ritos bacocos e passassemos a raciocínar com as nossas cabeças. Obrigado!
JF

JS disse...

Sem dúvida, um tema complexo e, observável nos comentários supra, gerador de reacções vívidas e de sentido contrário.

O "porquê" do Confessionário tem uma profunda razão de ser: é que uma prática como a descrita possui, pela sua singularidade, pela sua radicalidade, um verdadeiro carácter testemunhal. Interpela-nos, provoca-nos, não nos deixa indiferentes. E surge, pois, a questão: o que significa isto?, o que move esta pessoa?, em nome de quê ou de quem se assume tal acto?...

Antes de mais, penso fazer falta um esclarecimento. É que a prática descrita decorre, em 99 por cento dos casos, do cumprimento de uma promessa (algo que alguém se compromete a fazer, na expectativa de uma graça divina a receber). Não se identifica, pois, com práticas de carácter ascético (em busca do domínio das própias pulsões) ou de âmbito penitencial (de expiação dos pecados). Alguns comentários confundem um pouco as coisas.

Também será bom ter em conta que quando se fala deste tipo de promessa, quase sempre se trata de um compromisso formulado aquando do pedido de uma graça concreta, e que precede, portanto, a recepção dessa graça solicitada; sendo que bastas vezes a promessa é cumprida antes mesmo da graça ser obtida. Não se poderá, pois, classificá-la como uma prática puramente de acção de graças (se bem que possua indubitavelmente essa característica), enquanto resposta gratuita a algo (alguém) que se acolhe e reconhece como puro dom.

JS

Someone disse...

Agradeço a resposta ao meu comentário!

Fico, de facto, mais feliz por conhecer uma opinião positiva e, sinceramente, mais descansada!

Infelizmente, tenho-me sentido incompreendida pelos que me rodeiam por ter imensa admiração por aquela imagem, ao contrário do que se passa com a maioria das pessoas...

De qualquer forma, aquela escultura só me faz ter mais fé no Cristo Vivo e acreditar que cada um de nós pode estar tão perto Dele quanto desejar...

Obrigada!

Confessionário disse...

Someone, eu tb gosto. Venho a correr so para dizer isso. Há um sentido estético muito interessante tanto num como no outro. Se me perguntassem se gostaria mais de outros estilos, responderia que talvez. Mas gosto destes.

quanto ao assunto em causa aqui, depois digo mais qualquer coisa. Tenho gostado de ler muito do que aqui já se escreveu. E não confundindo respeito com concordância, fico à espera de mais...

Anónimo disse...

O “controverso Cristo” …

Ainda não tive a oportunidade de o ver pessoalmente, mas já o vi em fotos.

Ao vê-lo reparei que não é um cristo igual a muitos outros que estamos habituados a ver. O Cristo que vemos não é bonito não, com o sofrimento e a dor cruamente materializados naquela figura.

Como obra de arte, acho-a notável e interventiva e que nos questiona sobre a nossa fé.

Um crucifixo não pode ser um biblô de decoração, que fique bem na parede em que o pessoal passa e não se pensa mais nisso !

Fernando Gonçalves

Anónimo disse...

(continuando)

Que testemunho podemos entrever numa caminhada de joelhos em Fátima? Recolhendo dados avançados por outros, penso que podemos acordar no seguinte:

- tal prática fala-nos da existência/experiência de um drama humano, causador de grande sofrimento e ansiedade. Não é de ânimo leve que tal prática é assumida, nem à conta de assuntos corriqueiros;

- fala-nos de um intenso sentimento religioso e devocional, que implica o experimentar da própria impotência/contingência perante determinada situação, e o confiar intensamente numa entidade divina que se crê ter o poder e a boa vontade necessários para resolver o assunto;

- fala-nos de determinação, de resistência à dor física, de "desprezo" pelas opiniões alheias e contrárias, de sentido de honra (o que se promete é para se cumprir). Elementos que podem transparecer na face e na postura, num hipotético ar de vaidade, orgulho ou altivez.

JS

Anónimo disse...

Já sobre os seguintes pontos haverá alguma discordância:

- será que tal prática nos fala da apologia do sofrimento, como se a sua finalidade fosse o sofrimento em si, de forma gratuita ou mesmo masoquista?
Parece-me que não. Seria não ter em conta que a promessa foi feita precisamente para se alcançar a libertação de um grande sofrimento. Por outro lado, basta observar os romeiros para ver que a maioria tem o cuidado de proteger de algum modo os joelhos. E caso o objectivo fosse mesmo sofrer, bastaria que o percurso fosse feito em cima do alcatrão.
Todavia, o sofrimento é parte integrante deste tipo de promessas. Porque a ideia é oferecer a Deus algo de valioso. E segundo a nossa maneira de pensar, só tem valor aquilo que nos custa, que nos sai do bolso, ou do corpo...

- pelo dito anteriormente, não será também o mais correcto deduzir de tais práticas a crença num Deus sadista, que exija ou a quem agrade o sofrimento dos seus fiéis. Embora não se possa negar a influência de um certo tipo de pregação e imagética dolorista, de que é representante, por exemplo, o ainda recente filme de Mel Gibson, A Paixão de Cristo.

- será justo ainda dizer que tais práticas são promovidas pela Igreja ou contam com a sua aprovação? Sem dúvida, a existência da famosa passadeira confere certa legitimidade e visibilidade a este tipo de promessas; mas a verdade é que ela foi construída apenas no intuito de os romeiros terem à sua disposição um piso o menos abrasivo possível. Por outro lado, será quase impossível encontrar um peregrino a cumprir este tipo de promessas por sugestão ou conselho de um sacerdote; sendo que as frequentes recomendações em contrário são normalmente recebidas com desconfiança, indiferença ou até viva oposição.
Quanto à falta de formação, diga-se que o problema é generalizado. E de urgente enfrentamento, como foi referido na última visita dos bispos portugueses ao Vaticano.

JS

Du disse...

Fernando,

Não sei qual é a polémica corrente sobre a imagem de Cristo do interior, mas o meu problema com ela não tem a ver com ser bonito ou decorativo. A questão é que parece que Cristo passava a vida no Holmes Place ... Se calhar a autora tem um fraquinho pelos maníacos da musculação, eh eh eh.

Brincadeira à parte, nunca se pode agradar a Gregos e a Troianos. Eu, por exemplo, gosto de imagens "pouco figurativas" (espero que a expressão seja correcta), em que a imaginação de cada um possa actuar. Não gosto que me impinjam que Cristo é loiro ou moreno, que é mais ou menos narigudo, ou que tem ou não tem o cabelo encaracolado. Assim, gosto muito do estilo do Cristo do exterior. No entanto, concordo que uma imagem "mais figurativa" como a do interior faz pensar mais concretamente no Seu sofrimento por nós.

Em conclusão, na minha opinião as duas imagens complementam-se. Cada uma responde a um gosto ou a uma mecessidade pessoal diferente.

obidence disse...

sr.padre ola queria deixar o meu comentario em relacao as promecas penso que quem as faz e numa altura de grande perigo e grande sofrimemto para as pessoas em causa , como ja disseram anteriomente aqui no confessionario. eu sou como o senhor penso que sao duas obras de arte diferentes, mas belas , e quanto mais se veem , mais se gosta.

Anónimo disse...

A controvérsia maior costuma surgir quando se procede a uma análise objectiva da estrutura relacional subjacente à prática das promessas. Não propriamente por aquilo que se diga, mas mais pela forma como se é interpretado.

Assim, para que fique bem claro, não se pretende pôr em causa a sinceridade da pessoa que faz a promessa, a seriedade das suas intenções ou a nobreza dos fins perseguidos. Tudo isso merece o nosso respeito e consideração.

Também não se poderá negar a validade deste tipo de práticas, dado que correspondem a necessidades humanas primordiais, e servem de veículo à expressão de sentimentos muito profundos e primários.

Seria, pois, contraprocedente (e inútil) proibir tais manifestações religiosas, ou combatê-las abertamente. O caminho justo passará por compreender os seus mecanismos de funcionamento e acolhê-las como ponto de partida para formas mais ricas e perfeitas de relacionamento com Deus.

JS

Anónimo disse...

Uma análise objectiva:

O tipo de promessas em causa cai no âmbito de uma forma de relação definida usualmente como de "comércio sagrado". A expressão latina típica é "do ut des" - dou para que (me) dês.

Implícito está que, depois de se ter alertado a divindade para uma necessidade pessoal (própria ou de outrem), será necessário/conveniente induzir, seduzir, conquistar, convencer a divindade a ajudar, pelo que se promete/oferece algo em troca ou como pagamento desse auxílio requerido.

Poderá também entrever-se a tentativa de estabelecer um contrato ou de chegar a um acordo tácito com a divindade, na expectativa de que esta se sinta pressionada e obrigada moralmente a cumprir a parte que lhe cabe.

Uma relação deste tipo possui um carácter interesseiro (no sentido neutro do termo) e instrumental. É também de carácter ocasional, na medida do surgimento das necessidades e enquanto se mantiver a esperança delas virem a ser satisfeitas.

JS

Anónimo disse...

O grande problema (do ponto de vista cristão) está na concepção de Deus patente nestas práticas.

Porque se trata de um Deus, digamos assim, de segundo plano. A iniciativa pertence ao ser humano, não à divindade. Somos nós que nos preocupamos, somos nós que pedimos ajuda, somos nós que estamos dispostos a fazer/dar o que for necessário para obter a graça.

Deus aparenta ser alguém alheado dos problemas dos seus fiéis, algo indiferente aos seus sofrimentos. Não estará muito interessado em ajudar, ou então só ajuda quem lhe apetece. Ou quem lhe interesse ajudar, quem for capaz de lhe agradar ou lhe fizer prova da sua devoção.
Em última instância, a ajuda de Deus acontecerá, não por vontade divina, mas por nossa vontade, como resultado da nossa insistência e perseverança.

JS

Anónimo disse...

Ora, o Deus dos cristãos é, de facto, o Deus das promessas: o Deus que em primeiro lugar promete e se compromete, em favor do ser humano e da sua plenitude.

É o Deus do contrato, da Aliança que, por livre iniciativa, Ele deseja estabelecer com os homens: "Sereis o meu povo e eu serei o vosso Deus".

É o Deus do "admirabile commercium" (expressão típica do tempo de Natal), que quis assumir a nossa natureza humana para que pudéssemos participar da sua divindade.

É o Deus sempre atento, sempre presente, sempre operante, sempre sustentando e dinamizando a nossa existência no/pelo seu amor. O segredo está, pois, em abrir-se a Deus, acolher o seu impulso, deixar-se trabalhar pela força salvadora da sua graça. Não conquistá-lo, mas nos deixarmos conquistar por Ele; não convencê-lo, mas nos deixarmos convencer (Torres Queiruga).

JS

Anónimo disse...

Vamos estrapular para uma peregrinação a pé. Eu organizo uma que leva mais de 100 peregrinos todos os anos. Sabem o que mais custa na peregrinação? Não é o colocar um pé à frente do outro, por muito que isso doa, e fira. O que acontece é que, disponibilizar o coração durante 5 dias, onde a minha vontade, não prevalesse, a obediência é uma constante e a atenção a quem segue, é indispensável, isso sim, é verdadeiramente difícil e implica muito sacrifício. Todos achamos que sabemos tudo, a sociedade treinanos para o individualismo e tentamos ter opinião sobre tudo e todos. Seguir? é coisa que ninguém sabe o que é! Obedecer? Já não andamos às ordens de ninguém! Ali, a andar em direcção a Nossa Senhora, a ser educado a ser capaz de lhe oferecer, até a humilhação de ter que entrar no carro de apoio, em vez de teimar em continuar, atrasando tudo e todos e colocando-me numa situação fisica que me impossibilitará de chegar lá. Ali, onde o silêncio, a eucaristia, a oração, a confissão e a companhia, me fazem esquecer o sofrimento dos pés, para me centrar no essencial do tempo que me é dado. Ali, onde o limite fisico põe a descoberto o amor ilimitado que Deus tem por todos e por cada um. Ali, onde vemos partir 100 indivíduos e chegarmos como um Povo aos pés de Nossa Senhora. Ali, dizia-vos eu, conseguimos, realmente, dar sentido ao sacrifício. Quero dizer-vos com isto que, o coração dos que se arrastam na passadeira que hoje existe, porque foi sulcada a sangue pelos joelhos dos peregrinos, só Deus conhece. Nós não fazemos assim... mas fazemos de outras formas. O homem é mendicante de Cristo, como Cristo é mendicante do homem. Essa é a condição humana, apesar de toda a diversidade.
Joana

Anónimo disse...

Voltamos á mesma história das caminhadas a Fátima. Mais uma vez pergunto, quem sois vós para julgar? Deus sacrificou-se, sofreu como ninguem, deu a Sua vida para provar o Seu Amor por nós. Há maior sacrificio? Então porque afirmais que Deus não quer sacrificios e sofrimento? Já pensaram no que o amor de uma mãe ou pai é capaz perante o sofrimento de um filho? è concerteza capaz de oferecer o seu sofrimento em troca do do seu filho.
E depois senhor padre, nunca reparou que as pessoas que fazem a sua promessa, por norma levam o terço na mão e vão rezando? Quem sabe se essa senhora de quem fala não escolheu a hora do terço para ter mais força ao cumprir a sua promessa. E se o senhor não estivesse a ocupar o espaço que para isso esta destinado, ela não o teria incomodado. Se calhar quem a incomodou foi o senhor a ela ao interromper o seu percurso e provavelmente a sua oração.

Felizmente que Deus ou Nossa Senhora o fez manter a boca calada.

Pense melhor alguns dos juizos que faz. Até porque é um bom padre.

Um abraço

CrisR disse...

Olá Alma Peregrina...desculpe a sinceridade mas os seus comentários são tão longos que me perco no raciocinio e na lógica dos pensamentos.
E desta vez desculpe mas não concordo consigo, até proque não podemos comprar "alhos com bogalhos"...não podemos comprar práticas pagãs com práticas cristãs, logo se outros usavam o sofrimento para adorar aos seus deuses isso não quer dizer que fosse correcto ou que o Deus da Biblia o ache correcto.
Mesmo o jejum que é mencionado na biblia é sempre referido como algo que ajudará a uma maior concentração na oração ou entrega a Deus e não como algo que devamos fazer para receber algo de volta ou porque Deus se agrade do nosso sofrimento.
O sacrificio de Jesus foi suficiente e não precisamos de passar por mais nenhum tipo de sofrimento para obtermos algo de Deus ou ficarmos mais santos...a não ser que esse sofrimento venha pela preseguição pela fé que professamos.

Unknown disse...

quanto às promessas....respeito....apenas isso. Acredito que muitas pessoas se viram em aflicoes mt grandes para rometerm kilometros de joelhos, alguns a sangue frio....:s mas tb sei que há pessoas que banalizam as promessas.... Acho que cabe a cada um....muitas pessoas poderima revoltar-se se fossem impedidas de cumprir as suas promessas-sejam la quais forem-....

Anónimo disse...

Mais do que tudo que já foi dito, que quase sempre bate na mesma tecla, ou melhor teclas... ontem ao deitar pensei.. nós afinal, dizemos que somos discípulos de quem?!!!!
Que tal olharmos só assim, vá lá!, um bocadinho para o Mestre!
Então, esse tal Jesus de Nazaré, o que é que ele faria? O que é que Ele fez? Qual foi a Boa Notícia entre situações destas?
Só isto. Focando o olhar n'Ele o que é que vemos?

Anónimo disse...

As grandes promessas do cristão são as promessas baptismais: o compromisso de vivermos em fidelidade ao que professamos no Baptismo - a renúncia ao mal e a adesão ao Deus verdadeiro.

Fomos baptizados na expectativa de virmos a ser formados para assumir pessoal e inequivocamente tais promessas; e fomos dando passos nesse sentido através da caminhada catequética realizada e as suas diversas etapas festivas.
Momento significativo terá sido a celebração do Crisma, em que fomos confirmados pelo Espírito na graça baptismal e nos compromissos inerentes.

As promessas baptismais constituem a base e a fonte do compromisso vocacional permanente que muitos de nós já assumimos: no matrimónio, ou no sacramento da ordem, ou na profissão religiosa.
É também à luz e como concretização das promessas baptismais que nascem os diversos ministérios eclesiais (catequistas, ministros da comunhão, acólitos, leitores, etc.) e a participação nas associações e movimentos de raíz e cunho cristão (escuteiros, confrarias, vicentinos, apostolado da oração, acção católica, etc.). Os juramentos, promessas e compromissos neste âmbito efectuados remetem todos para o que foi assumido no dia do Baptismo.

Pela sua importância e significado existencial, temos a oportunidade de renovar anualmente as nossas promessas baptismais, no decorrer da Vigília Pascal.
E somos recordados da nossa dignidade (enquanto dom e tarefa) de baptizados sempre que é utilizada a água benta, seja no rito de aspersão da eucaristia, seja no cerimonial de alguma bênção, seja de forma particular (ao entrar na igreja) ou privada (em nossas casas).

E será simbolicamente testemunhada a nossa tentativa, por entre inúmeras fragilidades, de ter permanecido fiéis a essas promessas baptismais quando o sacerdote aspergir os nossos restos mortais, no dia em que nascermos definitivamente para o céu.

Sttela disse...

Algumas frases de Anselm Grün no Simpósio do Clero em Fátima para partilhar aqui se achar pertinente:como Jesus devemos usar "linguagem que toque as pessoas, que não as julgue mas desperte vida nelas. Jesus falava aquecendo os corações; nunca com uma linguagem fria. Deus é visíve,l ou não, na linguagem que utilizamos. E ainda ”Ajudo os outros mas também tenho problemas. Preciso aprender a humildade e a sinceridade. A ser feliz com a minha condição. Aceitar a minha verdade é condição para ser mais verdadeiro.” Isto não se aplica só aos padres, mas a todos nós.

anamaria disse...

Não sei o que pensar destes gestos, também...

Perturbam-me especialmente aquelas promessas que envolvem crianças ao colo de pessoas de joelhos, ou que vão a pé longas distâncias também ao colo, ao calor, à chuva...

Entendo que as aflições da vida fazem perder a cabeça e talvez a luz cristalina da fé a muita gente, talvez mais "simples", mas...se são actos de Fé, Amor e Esperança, agradarão a Deus, decerto.

Suponho que tudo se resumirá a uma questão de atitude!

Alma peregrina disse...

Cara CrisR:

Em primeiro lugar, não tem de pedir desculpa por não concordar comigo.
:)




Em segundo lugar, concordo com tudo o que você disse. Eu acho que o sacrifício de Cristo foi suficiente. O que eu disse é que não foi suficiente para certas pessoas. Ou seja, há pessoas que se sentem na obrigação de "fazer mais"...




Quanto a eu misturar "alhos com bugalhos" (algo que o irmão JS já tinha referido) devo dizer que nunca pretendi comparar as práticas cristãs às práticas pagãs. Nem comparar as promessas com as práticas ascéticas. Quem ler os meus comentários verá que o que eu pretendi comparar foi, isso sim, a postura face ao sofrimento de duas mentalidades: a moderna e a antiga.

Numa perspectiva antiga (que inclui todas as civilizações e todas as religiões, nomeadamente o Cristianismo) o sofrimento é encarado como uma forma de crescimento pessoal, como você o disse. Numa perspectiva moderna o sofrimento deve ser evitado a todo o custo, mesmo que para tal se tenha de sacrificar a ética.

E penso que o repúdio moderno pelas promessas de Fátima não se deve a divergências teológicas, mas a um repúdio do sofrimento em si.




Agora, se me permite, vou ser um pouco controverso...

Os pagãos eram idólatras, mas nós hoje também o somos. Os nossos ídolos são aqueles que se entrepõem entre nós e Deus. Dinheiro, promiscuidade sexual, materialismo, indiferença, egocentrismo, superstição...

Os pagãos de antigamente tinham uma noção do Sagrado, embora não acreditassem em Deus. Nós, hoje em dia, acreditamos em Deus, mas não temos qualquer noção do Sagrado. E eu fico a pensar: então será que nós acreditamos realmente em Deus?

Veja o caso de S. Paulo e do discurso em Atenas acerca do altar ao deus desconhecido.

Quem honraria mais a Deus? Os gregos pagãos que se curvavam no altar do deus desconhecido? Ou os cristãos que não rezam nem vão à missa?

E, de igual modo, quem se une mais a Cristo e ao Seu Sacrifício na Cruz? O muçulmano que jejua em honra de Alá, que é o único deus que ele conhece? Ou o cristão que peca aquilo que lhe dá na real gana simplesmente porque "Deus ama-me"?

Eu não sei a resposta a estas questões. Penso que só Deus sabe. Mas será esta uma época triste, se os cristãos tiverem de olhar para pagãos idólatras para aprenderem como se honra a Deus.




Se queremos ser contra as promessas, temos de arranjar melhores argumentos do que "isto não é a idade média" ou "isso era antes do 25 de Abril". E, se queremos ser contra as promessas, temos de ser melhores cristãos do que aqueles que as praticam.

Deixo isto à reflexão das pessoas...




Pax Christi

Anónimo disse...

A minha mãe sempre me contou que fez comigo a via sacra ( de Fátima) a pé quando eu era pequenina, pois eu estava doente e ninguem conseguia descobrir o que eu tinha ( e o meu pai era e foi um "grande" médico).

Eu estou aqui 44 anos depois...!!

Confessionário disse...

Obrigado, amigos, pela reflexão que me ajudaram a fazer. Alguns esmeraram-se mesmo!

Tudo o que li me ajudou, mesmo as opiniões contrárias à minha, porque me ajudaram a pensar nalguns pormenores que nos podem escapar ou nalguns motivos que, às vezes, podemos esquecer. De facto nem todas estas promessas terão motivos menos adequados. Por outro lado, eu não quero julgar ninguém (quem seria eu para julgar?! só Deus). Julgo apenas este tipo de promessas em si. Mesmo a senhora em causa eu não pretendi julgar, mesmo que tenho parecido. O que pretendi foi perceber o significado daquela atitude. Posso tb advertir que o meu pensamento não a deve ter incomodado nada, e que aquela hora não era a mais própria para concretizar a promessa, pois era exactamente a hora da oração do terço.

Continuo, no entanto, ou por isso, a pensar da mesma forma. Sobretudo porque sei que grande percentagem das pessoas que opta por promessas deste tipo o faz como forma de negócio com Deus, e não estão dispostas a realizar outros sacrifícios que agradam muito mais a Deus, como é o caso de perdoar o irmão (atenção cue falo com a minha experiência sacerdotal de quem ouve as pessoas).

Não obstante a minha opinião, têm razão aqueles que acham que devo respeitar estas pessoas. Assim me esforçarei! Mas tb não deixarei de questionar aquilo que não me parecer tão adequado à verdade da fé.

Um abraço grande a todos

Unknown disse...

infelizmente, penso eu por aquilo que me é dado observar, a esmagadora maioria dos católicos prefere sacrificar-se de joelhos do que fazer as pazes com o vizinho da frente com quem teve um diferendo sobre, por ex:um corte de águas, ou de barulhos ou ruidos, ou até por se tropeçarem os dois no mesmo caminho de acesso ás suas casas...
Peça-me tudo, mas não me peças isso, costumamos ouvir por aí...prefiro ir a Fátima de joelhos do que lhe dirigir a palavra ou sequer dar-lhe os bons dias...pois...a mim parece-me que é muito mais difícil "engolir os nossos orgulhos" do que vivermos nos cantinhos "quentinhos" que é a nossa pseudo-fé pessoal (nem que a carreguemos de joelhos)...o dificil é cerescer na fé, é querer crescer na fé...isso sim, a mudança, sempre difícil, o estarmos abertos a uma nova dinámica de vinho novo em odres novos...o saltar para além não vendo a rede que está por baixo...o deixar as seguranças, sejam elas promessas tb...o depositar totalmente a nossa vida e seu acontecer, e o nosso coração nas mãos de Deus...
um Baraço amigo
Salvador Mota

sónia disse...

Adorei este texto pq me revi nele! :)

um bj mto grande e umas boas férias!

Anónimo disse...

Se lhe custa compreender estes actos, tente imaginar o seguinte:

Se estivesse num extremo de aflição entre a vida e a morte e fosse pedir socorro á pessoa de que tem a certeza absoluta que tem a sua vida nas mãos, o que é que não faria ou prometeria para obter socorro?

Por outro lado se está alguém a pagar o que prometeu é porque lhe foi dado o que pediu.

Então concordando com as vossas opiniões de que: "Deus não quer o nosso sofrimento"

O pagamento destas promessas só o comprova, a prova é que as pessoas que estão a pagar foram atendidas e curadas dos males de que padeciam.

Antes de julgar quem quer que esteja nessa passadeira, talvez fosse melhor tentar compreender qual teria sido o extremo do seu sofrimento ou aflição para ter prometido o que está a pagar. E lembre-se de que se o está a pagar foi porque Deus lhe concedeu o que pediu.

Então quem somos nós para julgar o sofrimento das pessoas?

E quem somos nós para julgar a Misericórdia de Deus?

A oração certa nessa hora poderia ter sido uma acção de graças pela Misericórdia de Deus para com esse penitente...

Anita disse...

Desculpe invadir este espaço, mas gostava de humildemente partilhar o momento em que senti necessidade de fazer também esse trajecto, aparentemente doloroso! Nunca o tinha feito. E fi-lo, sem promessa, nem propósito, por acaso e por Amor. Fiz esse trajecto, pensando no meu Pai que sofria nos CI do hospital de Coimbra.Admito que pedi muito pelo meu Pai à Nossa Senhora, mas o Amor que brotou de mim nesse instante foi inexplicável!Unir-me à dor do meu Pai, ou tentar...Quando fui ao curativo, nada me doia, e tenho a certeza de que aquelas peles, supostamente, magoadas nada eram perante a dor que o meu Querido Pai sentia e, unir-me em sofrimento com o seu, foi terrivelmente maravilhoso e triste! Nunca saberei explicar esta sensação. O Amor vence tudo, e Ele é AMOR! Agora, tal como na altura, já tem o meu Paizinho no colo, na Plenitude do verdadeiro Amor.
Aproveito e peço que rezem pelo meu Pai, só Deus sabe, já estará ele a rezar por nós...peço também que rezem pela minha Mãe, que tanto sofre com esta separação física. Quero acreditar que as promessas são feitas por desespero e não só por falta de formação...O mistério da Fé não se explica, cada um vive-o da forma que sente e sabe!
Parabéns ao autor do blog pela partilha!

BLUESMILE disse...

È por causa da passadeira que detesto ir a fatima.
Não podiam simplesmente proibir esses horrores? A última vez que lá estive ( emsetembro) vi um homem que obrigava os três filhos a andar de joelhos na tal passadeira ( desde o início até á capela) , uma aberração. O homem, com ar alucinado seguia atrás de braços abertos e as criancinhas a rastejarem à sua frente, o mais pequenino devia ter cinco anos, estive para ir ter com o homem e pegar na criança ao colo. O meu impulso foi chamar a polícia. Os amigos que me acompanhavam disseram-me para não ligar que em fatima tudo é permitido. Vim-me embora a correr de tal sítio mas ianda hoje me sinto mal por não ter intervido e se o homem se tornasse violento chamar a polícia.