domingo, janeiro 25, 2009

Nem uma palavrinha de agradecimento, parte I

Andava eu atarefado pelos corredores da Igreja. Dirigia-me ao confessionário, o meu local de eleição. Vem uma zeladora dos altares, borrifada de batom e aquilo dos olhos, o rímel, cuido eu: Vou desistir, senhor padre. Nem uma palavrinha de agradecimento! Sua ou dos outros! Fiquei boquiaberto com a frase e com o rímel. E atalhei quando fechei a boca e abri de novo: o melhor agradecimento é quando estamos em sintonia com a pessoa que merece o nosso agradecimento e apoio. Melhor do que falar na missa dos valores de cada servidor, é sintonizar com eles, partilhar, simplesmente estar com. Aprendi isso porque um dia o bispo louvou muito o nosso trabalho, meu e da equipa diocesana, durante a homilia. Mas depois da missa, ausentou-se para outras actividades, que nem eram bem diocesanas. E estavam lá mais de mil pessoas. Suas ovelhas. Fiquei, como há pouco, boquiaberto. E “olhiaberto”. O melhor agradecimento ou demonstração de valor era ter ficado connosco o resto do dia.

23 comentários:

Canela disse...

Ai...aí...

As pessoas, até vão fazendo as coisas de boa vontade... mas a vaidade... a vaidade de ouvir um obrigado em publico...

Há uma passagem na Biblia, em que Jesus nos fala, desse nosso grande defeito, o qual devemos abandonar!

Será que uma palavrita de alento, não deixaria a Senhora mais consoladita...?

Que Deus N. Senhor o abençoe, e, que o ajude (muito).

CrisR disse...

É verdade que não são as obras que nos levam ao céu, nem o reconhecimento e louvores dos que nos rodeiam...mas a verdade é que nós povo português não temos o hábito do elogio, é nos dificil sair da boca um "obrigada", um "bom trabalho, fizeste bem.", um "Gostei do teu esforço, continua assim".
E não sei qual é o caso dessa senhora, nem a vou julgar, mas se calhar (e o padre é que sabe se estou errada) apenas lhe bastaria um " Lindas flores no altar...ficam mesmo bem".
Não sei...
Eu quando liderava um grupo de louvor na igreja, tinha por hábito orar com todos eles antes de começarmos o culto, e pedir a Deus que ali limpasse os nossos corações para que não nos tornassemos vaidosos e que apenas tocassemos ou cantássemos para louvor Dele.
Mas também tinha o hábito de no final de lhe ir agradecer a todos pelo apoio que me tinham dado como dirigente e pelo bom trabalho que tinham feito para Deus.
Lhe garanto padre...no rosto deles via sempre um sorriso, e no Domingo seguinte lá estavam cheios de entusiasmo.

Carla Santos Alves disse...

O agradecimento vem do coração!
Mas ás vezes uma palavrinha cai bem!
Tb nao devemos fazer as coisas com o intuito do agradecimento, porque quando é feito de coração, o agradecimento é um pormenor!

Bjs

Anónimo disse...

Será possivel que em todas as paróquias haja "donas da igreja" que assumem o ar de que quem sabe tudo ali são elas?
Pois!O rimel e o baton quando colocados com arte passam despercebidos e aliás deve ser essa a sua função.Aqui a senhora não terá a culpa de não ser artista.Digo eu!
Quanto ao elogio,concordo que mesmo funcionando como uma mola que provoca entusiasmo,também lá bem no fundo favorece a vaidade.
Eu gosto imenso de ser elogiada, mas.....
Tudo de bom para si e todos os que aqui vêm à procura das suas partilhas

Luisinha disse...

Eu acho que essa senhora se sente a servir não só a Deus mas também às pessoas que lá fazem a sua parte, e dessas ela espera um reconhecimento, mas muito me admira que ela leve isso tão a peito a ponto de dizer que vai abandonar tudo!! Eu compreendo que na vida as pessoas têm uma certa necessidade de se sentirem reconhecidas e valorizadas, independentemente do contexto em que vivem e trabalham ou se voluntariam. Penso que é difícil esperar que alguém se entregue de verdade e nesse sentido devemos ter atenção às pessoas que nos rodeiam, procurando dar-lhes o mínimo de valor, incentivo, mostrar que vale a pena a sua entrega. A menos que a própria pessoa se "auto-anule" dizendo que nada disso é tão necessário como o sentir reconhecimento na tal sintonia que para poucos basta!
Lidar com pessoas não é nada fácil... Daí talvez imagino o porquê da "parte I" e aguardando a "parte II" :)

Paz e Bem!

Anónimo disse...

Olá Padre,
Tão atarefado que apenas reparou no aspecto exterior da zeladora de altares, nem por um momento pensou que o aspecto exterior, o rimel o baton, poderiam tentar esconder a tristeza do espirito...
É uma tendência primária julgar o que os olhos fisicos vêm...
Onde fica o Espirito no meio disso tudo.
Por favor, não se eleve tanto espiritualmente, em relação às pessoas que o rodeiam...
É ministro da Igreja, o poder que detém foi-lhe atribuido pela organização católica, muitas vezes por pessoas, que, de tão instruídas, se esquecem o quão simples e humilde Jesus era.

O Espirito que habita em cada um de nós, nada tem a ver com o aspecto exterior, quanto a isso não há duvida, faz do corpo humano sua morada até que estejamos preparados para estarmos na presença D'Ele...

pescador de ilusoes disse...

Um elogio é sempre valido concerteza mas nao é mais do que o reconhecimento sem sequer uma palavra, nos meros mortais por mais que nao queremos ser reconhecidos, ainda coseguimos fazer atos e obras sem a espera de uma palavra mas a maioria das vezes esperamos nem que seja so um muito obrigado de quem quer que seja...
mas nao a duvida em concordar que atos valem muito mais do que palvras!e aproveitando o comentario acima tambem sempre agradeço aos meus companheiros de serviço da santa liturgia!

paz e bem!

Anónimo disse...

Como diria um padre meu amigo, julgam-se muito preciosas!

Leonor

Anónimo disse...

Deve haver aí uma pontinha de "embirração"... Tb aqui somos humanos e ela se lhe disse isso até foi honesta. Qd encontrar a sra dê-lhe lá a palavrinha e tudo fica resolvido.

joaquim disse...

Pelo teor do texto, parece-me que a senhora queria mais do que um obrigado do padre.

Quereria um reconhecimento público, talvez no final de uma homilia, ou coisa assim.

A ser assim parece-me um pouco demais.

Mas como não sei se assim é, não exprimo mais nenuma opinião.

Abraço amigo em Cristo

Anónimo disse...

Tipico comentário de padres!! Tb fico mts vezes farta, tal como essa senhora, de aturar a arrogancia destes padres destas igrejas! Eles ganham o seu ordenado ao fim do mês e os leigos que são apenas voluntários e dão do seu tempo disponivel para manter estas igrejas dignas, ainda são tratados como bichos!! Santa paciencia!!

bete p.silva disse...

E eu que uso muito rímel porque uso óculos, e então penso (bobamente) que o rímel melhora o aspecto, vou repensar meu visual.

Mas a grande verdade é que a beleza de Cristo aformoseia o rosto.

S. disse...

A verdade é que às vezes necessitamos de ouvir uns agradecimentos, somos fracos nesse sentido, precisamos ouvir que somos uteis. Mas que melhor prazer que passar despercebido e fazer o bem em segredo? Já dizia Sta. Teresinha do Menino Jesus...

Um beijinho, e que Cristo o continue a abençoar!

Teodora disse...

Estes padres são como alguns maridos de longa duração: não reparam na sua esponja quando esta vai ao cabeleireiro. No caso dos padres não reparam na beleza celestial das jarrinhas nos altares.

Eu quando quero que o meu padre repare em mim, levo um grande decote exibindo aquilo que a natureza me deu e valorizado pelo soutien de modelo ajustado para o efeito. Garanto-vos que resulta!!

Zeladoras?! Voilá!

Anónimo disse...

Gosto de agradecer... E tb gosto que me agradeçam... Significa reconhecimento. Até poderá não ser merecido; até poderá ser dito com pouca convicção. Mas sabe bem!
Já gostei mais da palavra obrigada/o. Parece que alguém é "forçada a..." nem que seja pelas mais legítimas razões. Prefiro o bem haja!
Vá lá fazer um miminho à senhora da paróquia... ande lá...

BEM HAJA, Padre!

Um abraço amigo:)))

Anónimo disse...

Falta de amor pelo zelo do templo. Acontece ... Quando amamos o que fazemos nem nos lembramos dos agradecimentos... E isto é também humildade. Lembro-me a este propósito de que no sábado passado fui à " minha Igreja " ( i.e. da minha aldeia e paróquia ) para rezar e ouvir o seu silêncio. Lembrei-me muito das senhoras que a zelam porque havia um cheiro fresco a limpo, as flores frescas eram lindas, estava tudo encantador. Que o Amor de Deus permaneça nestas pessoas ...

Anónimo disse...

o homem é um ser social por natureza e tem necessidade de se relacionar. tem necessidade deouvir e de ser ouvido.. enfim tem necessidade de atençao. todos nos que professamos esta fé em Deus fazemos tudo por Ele e nao precisamos de mais nada. Só Deus basta... infelizmente esta nossa actitude nao corresponde com o nosso comportamento ou seja nao basta somente o amor de Deus mas necessitamos tambem do reconhecimento da comunidade,do paroco. enfim somos humanos e temos essa necessidade de reconhecimento o que em conta e medida ate faz bem pois motiva-nos e alenta-nos para o continuar a seguir. é muito bom estar numa comunidade onde somos reconhecidos pelas nossas tarefas quer seja a simples senhora que enfeita o altar ( e sim reconheço que algumas possam ser conflituosas) quer seja mec, acolito etc. todos devemos ter apreço e louvar a Deus por estas pessoas, todas elas sem excepçao.
cumprimentos
ricardo

CJovem disse...

Claro que não se deveria fazer depender o serviço a Deus e aos irmãos, onde quer que seja, à oportunidade ou à possibilidade, ou mesmo à exigência, de um reconhecimento. Mas é verdade que uma palavra de ânimo, de estímulo, sabe muito bem e não custa nada. De todos, para com todos! Até o padre precisa! Mas andamos todos tão distraídos...

Anónimo disse...

Sr Padre, Perdi me de Deus á muito e não encontro o caminho de volta, perdi o nas dores da vida, nas desilusões e sinto por vezes a falta dele, não sei porque escrevo isto agora aqui, venho ao seu cantinho visita lo sempre, mas nunca deixei uma palavra,mas hoje senti necessidade de lhe dizer que o seu cantinho me dá paz.
Bem Aja
Vanda

Confessionário disse...

Ó Vanda, se O perdeste nas desilusões e nas dores e sentes necessidade Dele, procura-O nessas desilusões e dores. Vais encontrá-Lo de certeza. beijinhos de Força

MIRANDA - MS disse...

Difícil tomar um partido, se por um lado a mulher se sente ignorada, pelo outro o padre tem mais o que fazer do que ficar cuidando de carolas mal-amadas. Pôxa, mas tentando pensar os pensamentos de Jesus: Essa mulher tem tanta sede que faz um serviço na igreja pra ganhar a atenção e talvez alguma palavra de elogio que por certo não tem em sua casa. Mas os homens em geral não enxergam certas coisas que são importantes só para as mulheres. É pra se pensar os dois lados... Acho que o equilíbrio sempre é a melhor saída.

Anónimo disse...

"Se O perdeste nas desilusões e nas dores e sentes necessidade Dele, procura-O nessas desilusões e dores."

É verdade, Padre... Através das desilusões e das dores encontra-se Deus. Ele, aliás, escolheu esse caminho para se nos revelar. Mas, convenhamos que não é fácil... E dito assim, a frio, mais afasta do que aproxima... O que tem escrito nestes últimos dias chega marcado por um azedume que sempre esteve ausente nos seus posts e comentários.
Anda cansado? Faço esta pergunta porque tenho tendência a irritar-me quando as preocupações apertam em demasia. Em regra, e para mal dos meus pecados, estas ondas de má disposição vão direitinhas a quem menos merece. Depois arrependo-me mas... é tarde...
Não desista de nos aceitar tal qual somos -fragilidades incluídas-e tente manter a tolerância que une, neste cantinho, pessoas de sensibilidades tão diferentes. Só a Paz é possível!

Nt. A hitória da senhora que cuida do altar deve ter matizes que ainda não contou. Acredito que haja uma parte III. Caso contrário continuo a pensar que agradecer (dar graças...) não é incompatível com a gratuitidade. Acrescenta gentileza e isso nada tem de mal pois não?

Bjinho

Confessionário disse...

Ó fà, não ando azedo.
Até proque este teto faz parte dos arquivos. De qualquer forma há parte III, há...