quinta-feira, outubro 16, 2008

É dentro de nós que a vida se resolve.

O Guilherme tem dezanove anos. Bateu à porta com o rosto curvado. Com o corpo curvado pela vida e não pela idade. Faz parte desta geração que consome as coisas, a escola, os amigos, os prazeres, o tempo, a estrada, a vida. Faz parte da nossa geração, daqueles que tendo vinte, trinta, quarenta, cinquenta, sessenta ou setenta anos, vivemos consumindo o que a vida nos dá sem que o sabor dela se entranhe no nosso corpo e na nossa mente. Vivemos mais numa e para uma sociedade que nos define, do que nos definimos perante e para uma sociedade. Por isso hoje o mundo passa depressa e se ontem tínhamos um bibe no corpo e uma chupeta na boca, hoje temos os cabelos grisalhos. Tudo não passa de uma noite mal dormida e quando acordamos estamos a uma grande distância daquilo que éramos.
Por isso hoje queria dizer-vos aquilo que disse ao Guilherme por causa da imensidão de problemas que ele mencionou na sua vida. Queria dizer-vos que nós resolvemos a vida desde dentro. Não resolvemos os nossos problemas com a mudança das situações, com a mudança das coisas à nossa volta, com a mudança dos outros. Tentamos esquecer. Tentamos mudar de lugar, de habitação, de curso, de carro. Tentamos mudar de amigos, procurar amigos, mudar os seus comportamentos e atitudes. Impingimos a nossa forma de sentir e pensar. Mas é dentro de nós que a vida se resolve.

32 comentários:

Luis Carlos disse...

Olá,

Excelente reflexão.

Concordo contigo, relembrando que alma é o nosso guia, nessa resolução de vida dentro de nós.

Até já,
Luís Carlos

Fá menor disse...

Ai como me fez bem "ouvir" estas palavras! Logo hoje... logo hoje em que tenho uma decisão para tomar e que me está a atrofiar os neurónios! :)
«Impingimos a nossa forma de sentir e pensar. Mas é dentro de nós que a vida se resolve.»

"É dentro de nós que a vida se resolve."

Está a ver, padre, a falta que andava aqui a fazer?

Estou tão feliz pelo seu regresso! E em grande!

Beijinhos
Fa -

Vilma disse...

De dentro para fora.
Bem vindo de novo! :)

Anónimo disse...

Olá
O meu nome não é Guilherme, mas poderia ser, também tenho auns quantos anos a mais, e sou do sexo feminino. Já tive 19 anos, e pensava que para mudar o emaranhado de situações que me rodeavam, eu tinha que mudar de lugar, de amigos de aparência exterior, etc... E mudei, mas o emaranhado continuou, pioru até.
A partir do momento em que me encontrei comigo mesma, despi-me de preconceitos, e reconheci a minha real essência, aí sim a minha vida resolveu-se e vai-se resolvendo pouco a pouco.
Foi a partir do meu interior que o exterior se transformou.
Um abraço,
Pramos

Anónimo disse...

Feliz pelo seu regresso!
Como este post hoje me faz sentido em relação a uma situação da minha vida.Até parece ter sido escrito só para mim!Vou repensar a minha atitude e talvez assim se mude um comportamento.
Obrigada

Elsa Sequeira disse...

Oláaaaaaa!!

Voltaste que bommm!
Tudo acontece dentro e ainda bem que é assim, porque aí não estamos sujeitos a tantas e tantas coisas do fora! Só dentro tudo é genuino!!

Bjtssssss pa tiiiiiiiiiiii!!

Micas disse...

Como o Sr. Padre tem razão!!!
Tudo o que vivemos, não o vivemos ate... Exploramos, consumimos, como diz e bem, e quando damos conta ja la vai e não vimos passar...

E eu posso ler e ter consciência que isso está errado... Hoje ainda posso mudar e amanha igual, mas depois esquecer-me-ei... a vida encher-me-á com problemas, ocupará o meu tempo... E isto tudo do qual me apercebi hoje e me tenho vindo a aperceber ao longos destes dois ultimos anos (não me chamo Guilherme, mas tenho 19 anos!) não me servirá de nada! Pois voltarei ao normal e rotineiro da minha vida...

Muito obrigada!!

Sinceros cumprimentos de uma jovem que o segue à anos... =)*

Canela disse...

Graças a Deus que voltou em força Pe.

Há muito, que se vive de aparências.
Há muito, que nos programam para chegarmos á meta, de preferencia no 1º lugar.

Já tenho bem mais que 19 anos.
Lembro com tristeza os meus 19 anos. Nessa altura "apaguei", num abrir e fechar de olhos vi-me a fazer "shut down".
Sem saber como, tinha que recomeçar.

Daí para a frente, foram anos de tormento. Tentar perceber o porquê... não tinha sido desejada; não tinha sentido que tinha sido amada; apenas sabia o que ouvia: rejeição, e, isso era insoportável.

Só há dois anos, iniciei um processo de descoberta maravilhoso.

Deus amou-me desde sempre!
Deus pensou em mim, desde antes da concepção.
Deus é AMOR!
Tive que perdoar a todos (um processo bem demorado).
Tenho que perdoar a cada dia, cada ofensa...

Tudo é mais fácil, quando os pais se empenham em demonstrar que amam os seus filhos. Quando estes o não fazem, eles necessitam buscar "algo" que os preencha, e, isso não é nada... escolhem amigos como sendo familia, escolhem actividades como realização, escolhem ruidos, para não ouvir o seu grito de solidão interior.

Ups! Acho que me excedi.

joaquim disse...

Ora então que sejas bem regressado!

Pois é, tens toda a razão e nós vamo-nos esquecendo disso.

Primeiro há que ser, para depois ter e saber.

Se não somos antes ser, que se cosntrói no interior, o ter e o saber não ajudam apenas podem atrapalhar.

Abraço amigo em Cristo

SCAS disse...

que bom que é ler-te. Penso-o sempre que te leio, embora nem sempre o aqui partilhe... obrigada por tanto!!

Ikea disse...

Caro Padre,
O que diz é tão verdade, ainda que às vezes seja difícil atravessar o nosso interior ou descobri-lo. Já agora aproveito para perguntar: será que a Igreja (enquanto educadora) não deveria falar mais vezes nesse interior? Porque parece-me que às vezes esse lado se descura e se dá mais importância ao que está “por fora”: ir à missa, ir à procissão, ir comungar, pertencer ao grupo de jovens ou ao coro… Obviamente que tudo isto é importante, mas não estará a faltar um pouco de “teologia” do “interior”? E já agora, como poderemos nós desenvolver esse encontro connosco e ensiná-lo aos outros? Um abraço,
Ana

CrisR disse...

Boa tarde Padre,
eu não sou católica, mas gostei do seu blogue, por isso lhe escrevo.
À algum tempo que ando a refletir sobre algo que leva exactamente as pessoas a nã terem paz interior e viverem esta vida dia após dia sem pensarem no sentido da mesma. De onde viemos,o que andamos cá a fazer e para onde vamos.
Hoje em dia todos se preocupam com a educação escolar, com a educação desportiva (porque faz bem á saude), com a educação alimentar, etc...Mas já ninguem acha importante ou se preocupa com a educação espiritual! Os pais não acham importante educar a parte espiritual do seu filho.
E esquecem que somos feitos de corpo, alma e ESPIRITO! E podemos alimentar o corpo, podemos educar a alma (que são as nossas emoções, sentimentos), mas se não educarmos o espirito NUNCA haverá equilibrio em nós, e nunca teremos essa paz interior que se reflete na paz exterior.
No tempo dos meus pais, as crianças iam á catequese, faziam a primeira comunhão, etc...porque os pais sabiam que era importante para eles terem um relacionamento com Deus.
E hoje? Quem se preocupa com isso?
Acho que todos deviamos pensar nisto!

Vítor Mácula disse...

Incarnação: por dentro e por fora.

A fé e as obras ;)

Daí, no limite, Não é digno quem não abandonar etc

Libertar-se, mudar - pode ser inscrição da caminhada de fé; ou obstáculo desta, claro.

E tantas vezes resolvemos os problemas, precisamente com uma mudança de situação; que parta de dentro, sim; mas que chegue ao acto, à vida; e se fôr mudança, fiat.

abraço, padre, bom regresso

Anónimo disse...

Que saudades tinha do o "ouvir"
nem imagina as vezes que abri a pagina e não havia novidades.
Seja bem-vindo

O que disse ao Guilherme também serve para mim.

Eu quero mudar trabalho, para ver se mudo...mas isso não será a solução :S

guardarei a Frase:
"... é dentro de nós que a vida se resolve."

um abraço amigo

Alma peregrina disse...

Caro Confessionário:

(Psssstt sou eu, o Kephas! não precisa assustar-se com a mudança de nome ehehehe, é que estive a ler o "Admirável Mundo Novo")

Muito obrigado pelo seu regresso! Penso que falo por todos quando digo que estávamos cheios de saudades suas! Faço votos sinceros de que esteja devidamente repousado e pronto para enfrentar mais um ano, na Graça de Deus!
:)

Também já vi no post abaixo que a MJG apareceu aí, o que me enche de satisfação e alívio (sobretudo depois da despedida seca com que ela nos deixou na última vez).





Passando ao post propriamente dito:

Sempre achei bastante interessante o facto bíblico
[ah! eu ainda falo no português arcaico pré-Acordo Ortográfico, espero que não se importem eheheheh]
de que Jesus Cristo não iniciou o Seu Ministério sem uma profunda introspecção.

Os célebres 40 dias no deserto...

Nesses 40 dias, Ele teve que enfrentar os Seus demónios, ou pior, o próprio Demónio!

E o que lhe propunha esse Satanás?

Que transformasse pedras em pão, que reunisse Poder e Glória, enfim, que Se tornasse um Super-Homem capaz de mudar o Mundo!

Parecia lógico, não? Não era isso que Se esperava de um Messias? Não era isso o mínimo indispensável, se Jesus queria deixar a Sua marca indelével numa História marcada por césares e conquistadores?

Porém, Jesus recusou. O Messias deveria fazer a Vontade do Pai e não a d'Ele próprio. Mesmo que essa Vontade O conduzisse à humildade, à humilhação e ao martírio.

Portanto, nós não somos mais do que Jesus. Antes de procurarmos mudar o Mundo, devemos confrontar-nos com a Vontade do Pai. Será que a minha obra, o meu projecto, vem de Deus ou do Diabo? Temos que ter o discernimento e a abnegação para mudarmos em nós aquilo que não vem do Pai... só depois podemos partir pelo Mundo fora, tentando muda-lo. Antes de mudarmos o Mundo, devemos mudar-nos a nós próprios.

Era isso a que Jesus se referia, quando dizia para retirarmos primeiro o tronco do nosso olho, antes de tirarmos o cisco do olho do nosso irmão.

Foi isso que, infelizmente, Judas não percebeu. Judas quis vergar Deus ao seu próprio projecto de um Mundo melhor. Infelizmente, apenas encontrou pecado e desespero.




E, de facto (cá está o português arcaico outra vez) vivemos numa era de pleno consumismo. Mas, à parte da mentalidade da nossa época, temos que compreender que o consumismo é uma condição intrínseca à nossa existência.

Eu preciso de consumir alimentos para sobreviver. Não há outra forma! Se eu renunciar aos alimentos, morro! E o que é pior, se eu renuncio aos alimentos, então não estou a ser menos consumista! Se renuncio ao alimento, estou a consumir fome!!! Para quem não pense que é possível consumir fome, basta relembrar os fariseus, que se gabavam dos jejuns que faziam! Os fariseus consumiam jejuns como os romanos consumiam guloseimas!

Mesmo aqueles que tanto apregoam uma sociedade menos consumista, são ávidos consumidores! Geralmente essas pessoas são, na verdade, consumidores de ideologias, consumidores de Absurdo, consumidores de Vácuo. Eles passam a vida glorificando o Caos e o Niilismo como se fossem deuses! Por vezes, consomem tanto que são atirados para um redemoinho de desespero e desequilíbrio psicológico.

Portanto, se é impossível não consumirmos, qual é o segredo?

Bem, na minha opinião, o problema não está em consumirmos coisas, mas em deixarmo-nos consumir por elas.

Não há mal nenhum em consumirmos as coisas, a escola, os amigos, os prazeres, o tempo, a estrada, a vida.
Isso é bom.
Mas quando nós somos consumidos pelas coisas, pela escola, pelos amigos, pelos prazeres, pelo tempo, pela estrada, pela vida...
aí sim nós perdemos as perspectivas relativamente ao que é a vida, não deixamos que "o seu sabor se entranhe no nosso corpo ou na nossa mente".





Penso que o melhor antídoto contra esta situação é consumirmos Deus. Consumir Deus e tudo Aquilo que Ele é. Consumir Fé, Esperança, Amor, Logos, Bem...

Podemos consumir Deus à vontade, que Ele não nos consome.

Quem não se recorda do episódio da sarça ardente? Na sarça ardia todo o fulgor de Deus, mas a sarça não era consumida pelas chamas!

É a Graça! Se nós aceitarmos Deus, então ter-nos-emos mudado a nós próprios! E aí já podemos tentar mudar o Mundo, como Jesus depois dos 40 dias no deserto! Já não é o nosso projecto, mas o de Deus! Já não há o perigo de sermos consumidos pelas coisas, porque não "é possível ter dois mestres".

Claro que nós, ao contrário de Jesus, temos que visitar o deserto com frequência... ou podemos voltar à estaca zero.





E concordo com o Vítor Mácula. Mas uma ressalva: a partir do momento em que mudamos por dentro, a mudança por fora torna-se mais natural... Se nós nos mudamos a nós próprios, então estaremos obrigatoriamente mudando o Mundo.

Abraços em Cristo

P.S. Adorei a frase "Vivemos mais numa e para uma sociedade que nos define, do que nos definimos perante e para uma sociedade"
Continue, por favor, com as suas brilhantes reflexões.

erute disse...

Que saudades destes posts... espero que agora sejam para continuar.

Também eu sou um Guilherme. Esta semana foi semana de decisão para o futuro próximo e essa decisão após muita oração foi tomada com a consciência que só mudando o meu interior é que conseguiria resolver e atingir a meta.

Luisa disse...

Gostei muito das suas palavras, até porque nos meus 19 anos passei por situação semelhante, queria fugir dos problemas de forma externa (sair de casa, mudar amigos etc) quando na verdade tudo estava cá dentro à espera de ser revelado! Às vezes só precisamos de um empurrão de alguém que nos diga "presta atenção ao que tens aí dentro!" e tudo se encaminha bem melhor!
A sua bênção!

Canela disse...

É bom reler-te (kehpas)Selvagem de Huxley.

Este confessionario, é antes de mais um local de reunião, isso é bom (acho)!

Só um detalhe, "Kalos" deu lugar á Canela.

Desculpe este abuso do seu espaço Pe.

Alma peregrina disse...

Olá Kalos!

Não o reconheci eheheheh
;)

Também é bom reencontra-lo.

Abraços em Cristo

Anónimo disse...

O senhor é tão profundo, Padre!
Obrigada pelas partilhas, extensivo aos amigos que por aqui passam;)
Tenham um santo Domingo:)

PS: Veja lá se consegue contagiar os seus colegas. Tb uma obra de caridade. Está a rir-se? É verdade:)))

Anónimo disse...

Padre,a sua reflexãocaiu mesmo no prato, na hora e no momento preciso.Saí de casa,para me encontrar com alguem, que pensava eu,mudaria os meus problemas.Puro engano.Voltei para casa e atirei-me para cima do sofá. Chorei,chorei.O que preciso fazer?Não há solução.Mas limpei as lágrimas, e fui directa ao seu blogue,sem saber que já tinha voltado.Estupefacta dou com a resposta ao meu problema.Pensei, analisei e aí está.Só eu e DEus,podemos resolver o problema. Ao viver a vida tenho de a viver de dentro para fora.A essência sou eu está dentro de mim.Preciso dos amigos, mesmo os virtuais,mas é dentro de nós que a vida se resolve, mesmo com sofrimento.
abraço.Obrigada pela ajuda.

anamaria disse...

Voltou...Que bom!

Anónimo disse...

Oh Kalos porque mudou de nome?
Gostava mais do k de canela!..Ai padre, mas k rica equipe, tem no seu blogue...
Boa noite a todos.

osátiro disse...

Convido todos os participantes desta "reunião" em torno deste blog a defender os Cristãos perseguidos e assassinados na Índia, Irão, Iraque, Indonésia, Congo... enviando mails para embaixadas.
Já há blogs de Espanha, Brasil, América do Sul empenhados nesta missão.
Não podemos cruzar os braços!!!
Bem-Haja.

Anónimo disse...

Oxalá o Sr. Padre tenha também resolvido as coisas dentro de si, bem precisava.
Pena que tenha sido tarde demais mas, nunca é tarde.

Alma peregrina disse...

Caro Anónimo:

Canela é bom!!! É saborosa na aletria, fica óptima num cafézinho... e num blog, ai que rico condimentozinho!

É melhor canela do que morangos com açucar.

:)))))

Alecrim disse...

pois eu não sei...
concordo mas nem sp tenho força.
Vai um convite para o meu tasco, que mandei aferrolhar?
;)

Anónimo disse...

Olá, um bem haja pelas palavras de conforto e de despertar a todos aqueles que o leêm.Fui uma católica "praticante" (entre aspas, pois sempre defendi que ou se era católica ou não) mas agora vejo-me à deriva nas minhas crenças. A morte da pessoa mais importante de minha vida, a minha mãe, com muito sofrimento fisico e psicológico antes da partida, deixou-me neste emaranhado de sentimentos. Morreu. Acabou. Nada restou a não ser o bem que deixou pelas lembranças ( pelo sorrir do meu filho, que é igual ao dela, pelos passos que ela lhe ensinou para aprender a caminhar.... aquele amor infinito que eu sentia cada vez que falava comigo; era o telefonema que eu lhe fazia ao levantar e o que lhe fazia ao deitar... agora o vazio desse amor sem limites.
O meu filho de quase três anos fala todos os dia na avó e diz:" A Avó Mila está com o Jesus". será que está mesmo?

Confessionário disse...

Luinha, as crianças não mentem!

Moçambicano disse...

Caríssimo "Confessionário":

Também eu já andava com saudades suas...
Fico contente pelo regresso. Esta "tertúlia" estava a fazer falta.
Um grande Abraço, com Amizade!

Moçambicano

Carla Santos Alves disse...

É sempre tão bom ler-te!
Bjs

noctivaga disse...

Um OLÁ bem grande para o senhor padre.