A conversa não aconteceu no café, mas foi uma conversa de café. Conversa de café de padres. Falávamos das nossas vidas, das nossas canseiras, das nossas paróquias. À medida que cada um falava, eu anotava no meu semblante conclusões para o futuro da nossa Igreja. Ouvi mais que falei. Falei mais com expressões do rosto que com as palavras a sair da boca. Reconheço que estava mais interessado em tirar conclusões. E hoje, quase a entrarmos em Novembro, mês em que as folhas caem mais sem pedir ajuda, e em que o tempo nos faz ver tudo mais escuro, recordo o que um deles disse a determinada altura acerca de uma paróquia onde entrara há uns meses. Sabiam que não tenho lá primeira comunhão faz já uns quinze anos? Perante tamanha afirmação feita como pergunta, não fui apenas eu que esbocei um rosto de admiração. Todos imaginámos que o trabalho do pároco anterior não tinha sido cuidado e que agora o nosso colega teria de colocar toda aquela gente a fazer a primeira comunhão. Julgámos errado. Bem costumo dizer que não devemos ser juízes dos outros e que apenas Deus verdadeiramente pode exercer esse acto de julgar. E só o pode fazer Ele, porque o faz sempre numa perspectiva de amor para com quem exerce o julgamento. Julgámos errado e o colega explicou. Não tinha havido primeiras comunhões porque durante estes anos não tinha havido crianças naquela paróquia. Mais admirados ficámos. Um outro colega, rindo despregadamente, insinuou que assim não teria tanto trabalho nem preocupações. Todos nos juntámos à risada. Mas o nosso colega confidenciou. Mais uma vez julgastes errado, porque isto constitui maior preocupação. É que as nossas paróquias estão a morrer.
12 comentários:
Pois é...
Aiaiai padre...
Outra vez a calcorrear caminhos perigosos, hã? Tsk tsk tsk. Já devia saber que há temas tabu.
:)
Lamento, mas hoje deu-me uma veia criativa, portanto vai sair asneira:
Obra: "Children of God"
Autor: "Confessionário" (pseudónimo)
Sinopse: Inspirado no célebre "Children of Men", a obra "Children of God" é um romance distópico acerca de uma inexplicável pandemia de infertilidade. O enredo desenrola-se em redor da luz da esperança, manifestada na única criança a receber a primeira comunhão naquela paróquia. Ela receberá a Sagrada Eucaristia do único padre a ser ordenado naquela década (também os seminários se ressentem de uma súbita pandemia de perda de vocações). Ao longo do romance, estas personagens vão descobrir o significado da família e da doação de si. Conseguirão sobreviver? Poderá a Humanidade ainda salvar-se? Será já demasiado tarde?
Ironia? Ficção? Nem por isso...
Se calhar é esta a alternativa para a falta de padres. Menos paróquias, menos padres são precisos.
Céu
Caro amigo
Eu penso que o que está a morrer é a religião Católica.
Independentemente da existência ou não de Deus, o catolicismo, como qualquer pessoa, não pode ter medo de reconhecer os seus erros. Caso contrário, está condenado ao fracasso.
O segredo do sucesso reside em não deitar as culpas para os outros...
Um abraço
Olá!
"As nossa paróquias estão a morrer"
Cada vez mais nós escutamos estas palavras. É uma realidade bastante actual. A crise não é só monetária, tambem é espiritual.
Cada vez mais encontramos menos crianças na catequese, não porque não querem ir, mas sim porque não existem. A minha paroquia vai estar um bom punhado de anos sem que volte a haver primeira comunhão, porque simplesmente temos dois bebés com apenas um ano.
Mas...
Ai vem a criatividade dos padres!
Não há crianças! Há adultos.
Que tal uma catequese para adultos!(este grupo vai desde os 18 anos até os 80 anos)
O nosso padre já há algum tempo que nos vinha preparando para tal coisa(os adultos já não pressisam de catequese!!??)
E este ano resolveu dar esse passo. "caminhar com São Paulo" Não sei se é o livro mais indicado , mas passei a ver o Apostolo S. Paulo com outros olhos.
Temos de escontrar outras formas de dar vida ás nossas paroquias, e ai cabe a todos nós arranjar maneira das paroquias não morrerem.
Um abraço!
Alexandra
Concordo com Fernando Vouga, está morrer religião cristã.
As razões essas são imensas,
e entre elas, na minha opinião está o facto das pessoas dizerem que são catolicas mas não conhecem o Deus de que falam; como disse sábado o Pe Luis, são muito poucos os catolicos que leêm a biblia, e só "ir missa" não chega para conhecer um Deus que gosta anto de nós;
também é mais fácil não acreditar em Deus....
e o "ressuscitar" das paróquias a cabe a todos, não só aos padres...
um abraço
Eu concordo que as nossas paróquias estão a morrer e isso começa em cada um de nós...quantas vezes somos hipócritas, vivem na igreja para se evidenciarem e serem os donos da Igreja.
Temos um Deus que nos quer humildes e que vivamos a fé no mais profundo.
A minha revolta como cristão é ver na minha paróquia que aqueles que são falsos, mentirosos e hipócratas, são aqueles que estão neste momento a afastar muita gente, pois cá fora dizem que quem manda são eles.
Sejamos Igreja Verdadeira.
Depende do conceito de "paróquias a morrer".
1- População envelhecida e parca.
2- População que abandona a religião Católica.
Sobre o primeiro ponto, pouco há a fazer. Tem a vêr mais com as condições (falta delas), que levam as camadas mais jovens, a procurar as cidades.
Sobre o 2º ponto, muito há a dizer e muito mais há a fazer!
Neste Domingo ultimo, alguém partilhava comigo este saboroso comentário de um sacerdote: "ir á Igreja, é ir á casa do nosso Pai, necessário é calçar as pantufas."
De facto, não é para passarmos a ir de pantufas á missa.
É antes o acolhimento que sentimos, ao ir á igreja.
Nos ultimos tempos (2 meses), comecei a frequentar uma outra Igreja... impressionante que em nada me sinto á vontade.
Os canticos, são cantados pelo coro, sem que a restante assembleia possa ter seja o que for, para poder acompanhar.
O Pe. entra muito lento, sem um sorriso, sem uma expressão alegre!
O Pe. sem se aperceber, vai incutindo na assembleia, gestos e atitudes medidas ao milimetro.
No que respeita á catequese; é exigido como que um "pica o ponto na missa"; as crianças têm de ir á missa naquela Igreja, sob pena de não terem sido vistas na mesma e porconseguinte serem penalizadas.
Eu questiono-me; onde fica a verdade e liberdade cristã? Pois eu prefiro ir á missa a outra Paróquia, e, quando o faço... tenho que dirigir-me á catequista e justificá-lo, para que a minha filha não seja penalizada!
Obedeço... mas não concordo!
Em nada me sinto "em pantufas".
Sinto-me antes, a marcar o ponto como o faço diáriamente no trabalho!
De facto não há comunidades perfeitas... mas muito se pode aprender, com as que puxam a cada dia mais fiéis!
Esta minha visão é apenas comparativa, a duas paróquias que frequento (a que gosto, e, a que fica mais perto de casa), nunca poderá ser uma unidade de medida...
O papel do Pe. aqui é fundamental! É o Pai que acolhe...
Meditemos!
A "morte" das paróquias, neste caso, não é um problema espiritual ou teológico. O que está em causa é a Geografia.
Portugal, tal como todos os países ditos desenvolvidos, está a atravessar uma série de fenómenos que conduzem a este "falecimento".
Tudo começou ainda antes do 25 de Abril, com a frequente emigração. As pessoas deixavam as aldeias e tentavam a sua sorte pelo mundo. Em 74, a emigração diminuiu, mas a sociedade mudou: Portugal começou a ter menos agricultura e as pessoas deixaram os campos e foram para as cidades.
Por isso, hoje temos um litoral super povoado e um grande número de habitantes concentrado nas duas áreas metropolitanas portuguesas (Lisboa e Porto). Em contraste, temos um Interior (basta olhar para o Alentejo) francamente desertificado.
A juntar-se à festa, há um decréscimo da natalidade muito grande, o que faz de Portugal um país extremamente envelhecido, logo, não há crianças e as paróquias morrem.
A culpa,desta vez e por mero acaso (=P), não é da religião.
Algumas sim, acrediro infelizmente. No entanto, com primeiras comunhões ou não, existem algumas em que a responsabilidade é dos leigos e outras do própio sacerdote. Penso, salvo melhor opinião de que, os movimentos de leigos são um alicerce importante nas comunidades.
Preocupa-me o tema.
Mas, ao mesmo tempo, senti a grandeza desse pároco, que num acto muito humilde e simples, tem este grande problema em mãos- o da desertificação humana dos nossos meios rurais sobretudo os de montanha.Mas aqui nessas paróquias se pode dar vida.Se não temos crianças, temos velhos e com esses há um grande trabalho a fazer, prepará-los bem para o seu encontro com Deus, sabendo que quanto melhor o fizermos, nós leigos e voçês padres, maior certeza teremos, da recompensa de termos uns intercessores a pedir por nós que ainda peregrinámos na terra.
Por isso, ânimo, afinal temos tantas circunstâncias, para sermos melhores e ajudar os outros no caminho para o Pai.
Um abraço
Penso que a pergunta deve ser feita deste modo. Porque é que as paróquias estão a morrer? Quais as razões? A partir daí fazer uma reflexão. E também acrescentar, qual a quota parte de responsabilidade da enquanto instituição «Igreja Católica».
Gosto muito do seu blog.
Anad
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