quarta-feira, abril 09, 2008

a senhora vai à missa

Doente, a senhora Ascensão, não pode caminhar por seus pés. Estes não ajudam a transportar o peso da vida, da idade, da doença, das dores. Antes era capaz de fazer quilómetros para se encontrar com o Senhor na Eucaristia. Em muitos anos não me lembro de faltar à missa de Domingo, senhor padre. Mas agora só vou quando a minha filha me leva de carro. Ela mora longe. Não vai sempre. Não me visita sempre. Não pode sempre. E aqui, como é uma anexa, passam-se várias semanas sem missa. Sabe, já não há padres que cheguem para as encomendas. A paróquia fica a três quilómetros. Não consigo. As pernas não ajudam, as malvadas. Sorria e olhava para elas. Inchadas. Rosadas. Mas olhe que eu vejo a missa na televisão. Interrompi-a para dizer que fazia bem. O importante era o coração que estava disponível para celebrar o dia do Senhor. Que às vezes se podia ir à missa sem celebrar a Eucaristia e sem celebrar o dia do Senhor. Interrompeu-me ela o raciocínio para acrescentar. Mas olhe que faço tudo como se lá estivesse. Levanto-me e sento-me. Ajoelho-me. Respondo. Será que faço bem?
E nesse momento lembrei aqueloutras que me contavam que viam a missa enquanto cozinhavam ou arrumavam a casa. E pensei: faz bem melhor que aqueles que ouvem a missa enquanto fazem outras coisas. Por isso repeti com mais força. O importante é o coração disponível para celebrar o dia do Senhor. A Ascensão celebra com mais verdade que muitos que vão à missa. Saiba que nesta dor de sofrer e de não poder ir à missa, a senhora vai à missa.

14 comentários:

Caminhantes da Paz disse...

Que lindo a senhora..."vai (mesmo) á missa"...se todos fossem de coração seria lindo!!!

bjts pa ti!

Anónimo disse...

Bonito testemunho...

Quantas vezes entro na Igreja, á procura do silêncio...pois é no silêncio da Igreja, que melhor "dialógo" com JESUS "escondido" no Sacrário.

Muitas dessas vezes, em vez do silêncio...encontro aquelas pessoas caridosas, que adornam a Igreja, que a limpam e reparam... mas que falam como se estivessem na rua... é nesses momentos que sinto que Deus N. Senhor me trabalha na Paciência...

Outras vezes... durante a celebração da Santa Missa... é o "cuchicho"; os comentários(diverssos);as orações proferidas em surdina; os telémoveis que teimosamente tocam... enfim!

Fico triste... porque sinto a necessidade do silêncio.
Fico triste... porque acabo sempre por fazer juizos de valor.
Fico triste... porque já se não dá o devido valor e respeito ao SAGRADO.

Mas é com estes testemunhos, que sentimos que vale sempre a pena continuar...

Numa sociedade; onde os valores morais se perdem diáriamente, com a desculpa da evolução; da modernização; etc... em que cada projecto de vida é tão elaborado, que quase sempre falta o espaço para DEUS, cabe-nos a nós sómente acolhe-los com paciência....e, alguma dose de determinação.

Kalos

Teodora disse...

Tem razão padre.

Esta senhora celebra com mais verdade do que eu que vou à missa.

Juro que não tenho culpa. As ideias fogem-me!

Ora reparo num pormenor do padre. Da última vez constatei que o homem se tivesse enveredado pelo mundo da canção iria ter muito sucesso. No género romântico, claro. Tipo Tony Carreira, mas para melhor!

Que ia ganhar muito dinheiro ia, se seria mais feliz? Não sei!

Não faltaria clube de fãs, camionetas de raparigas muito felizes nos seus casamentos (como as do Tony Carreira, claro. Os únicos homens que por lá aparecem são "filiados no sindicato") a entoar as suas canções... portanto, com direito a tudo que um artista de sucesso tem.

Eu gosto tanto de ouvir a Rádio Romântica! Era o meu sonho o meu padre a cantar na Rádio Romântica.

Eu já acho que mesmo assim ele tem duas fãs incondicionais. Ambas têm uma panquinha. Têm panquinha mas têm bom gosto. Reconheço-lhes!

Outro pormenor foi um casal que me barra a visibilidade. Ambos são meus vizinhos. Ele altito mas mais baixo do que a senhora sua esposa. Ele estilo desportivo pimba, com uma bolsinha a tiracolo (não tenho nada contra as bolsinhas de homem. Depende do homem e da bolsinha), camisa toda pop e ombros enrroladinhos. Ginga levemente enquanto caminha.

Ela toda maior, mais firme, mais imponente, mais dominadora, estilo businesswoman de cabelo aramado!

Desculpe padre mas de costas fizeram lembrar-me o Nelo e a Dália... (os do Herman?!)

Perdão padre, mas com a sua permissão direi que a partir do momento que eles casaram ambos descobriram-se. Ele descobriu a gaja que há dentro dele e ela o gajo que há dentro dela!

Pelo menos ela deixou de ter chiliques! Ficou sanada.

Portanto, padre, sou uma pecadora involuntária. Sou! Sou!

Teodora disse...

O meu padre é um animal de palco!

Graças a Deus e aos anjos não é animal político o que revela bom carácter, no fundo bom berço.

Teodora disse...

Kalos

Façam como cá na igreja da terra.
Antes da missa começar há sempre uma pessoa que usa o sistema de som e lembra os presentes para desligarem os telemóveis pois a missa vai iniciar. Como antes dos espetáculos!

Desde que começaram a utilizar esta estratégia a coisa melhorou a olhos vistos. Já quase não acontece.

Relativamente a cochichos só acontece quando o senhor Presidente da Câmara (animal político)aparece estrategicamente atrasado e fica num lugar bem pensado. Claro como é um homem muito ocupado deve ter reuniões a toda a hora (até às 22h!)abandona o local rapidamente. São homens muito ocupados. Mas sabem fazer o sinal da cruz! Eu vi nas fotos!

A atenção deixa de ser o altar e passa ser a nave lateral! Nem sei como não se levantam e fazem vénia. A vida está difícil e nunca se sabe se precisamos dele para arranjar um emprego limpinho. Assim nos computadores?!

Relativamente à faladura das zeladoras, fale com o padre que se calhar ele consegue resolver isso. É que elas levam uma desanda que nunca mais voltam. Pelo menos aqui foi assim.

A igreja daqui ficou tão sossegadinha que até tenho medo de lá estar sozinha. No Verão é fresquinha. Só falta uns livritos e uma máquina de café. (Juro que não estou a gozar. Não acho que fosse uma heresia).

anamaria disse...

Confesso: essa senhora vai mais à missa que eu...

Anónimo disse...

Teodora;

Deixe-me que lhe explique;

Por aqui o sistema de som, também é utilizado...as pessoas é que "não se lembram" que levam os telémoveis... só se recordam... quando ele toca, e, curioso.... saem a correr, e, algumas vezes ainda se consegue ouvir: "Tou!!!"

Não dá para acreditar... só vendo!!!!

Quanto ás Senhoras, que caridosamente tratam, e, embelezam a Igreja... não vale a pena... não abundam aqueles que oferecem horas do seu dia para fazê-lo...cada vez que procuro este silencio da igreja... não é porque tenho tempo de sobra... é porque no espaço do trabalho e uma consulta (várias), consigo lá entrar...

As Igrejas passam tempo demais fechadas.
Os Pe. são cada vez menos, e, entre funerais; casamentos; batizados; celebrações; direcção espiritual; visitação aos doentes, etc... faltam as verbas para que se possa pagar a alguém que tome conta das Igrejas... que abra as suas portas... que zele por elas, e, que não apareçam vandalos!

A do café na Igreja... não me parece... mas a Biblia rezada no silêncio da Igreja... é muito proveitoso!


Kalos

Alma peregrina disse...

Uma bela metáfora da nossa vida actual.

Neste mundo em que a família é planeada como se de uma carreira se tratasse, com o mero objectivo de autogratificar, e em que tudo o que não é planeado (ainda que sejam seres humanos) é relegado para a morte física ou social, a senhora Ascensão é uma bela representação de Deus.

Deus é o nosso Pai. Ele sacrificou-Se ao máximo por nós. Como os nossos pais e avós, que viveram tempos mais difíceis do que nós.

Que lhes fazemos? Nós, os civilizados do séc. XXI. Depositamo-los em "lares" próprios. Aos encargos de "cuidadores", que saberão melhor do que nós o que fazer. Visitamo-los uma vez por semana, se tiverem sorte.

Também Deus parece ser relegado para um "lar" (a igreja) e os padres que "cuidem" dele. Pois que eu visito-O uma vez por semana... se Ele tiver sorte.

A senhora Ascensão não faz isso. Ela tornou o seu próprio lar o lar de Deus. Ela não O visita, porque está sempre com Ele.

Mas penso que é importante que ela veja a missa na TV. Porque senão corre o risco de O abandonar, como os demais. O esquecimento é uma forma de abandono.

Por outro lado, penso que neste caso em questão, estamos muito imbuídos pela nossa mentalidade pós-moderna. Partimos do pressuposto de que está em causa a ida à Missa por "obrigação".

E a ida à Missa por "devoção"? Será que a Dona Ascensão não quereria ir à Missa para manifestar algo mais grandioso do que uma "obrigação"? Ela não faria gosto em ir à Missa? Não seria uma actividade que lhe promoveria a saúde e a libertaria das terríveis garras de um quotidiano passivo? Não seria uma forma de convívio com outros? Ela não sentirá falta da Eucaristia e da Graça dos Sacramentos? Do ritual?

Por isso o papel da Missa não deve ser desvalorizado. Pelo contrário. A senhora deve ser estimulada a continuar a ver a Missa na TV ou no rádio. E os seus esforços devem ser aplaudidos. Para que não perca a sua identidade. É o pior que pode acontecer a um idoso.

As pernas dela não podem caminhar, mas a sua alma apenas deixará de peregrinar quando estiver de novo no regaço do Senhor. Até lá, precisamos de algo que nos refresque a caminhada... a Missa é como um oásis.

Pior estão aqueles a quem incharam as pernas da alma. Por esses devemos rezar muito.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Kephas.....UAU!!!!!!

3xxxxxx UAU!!!!!!

Desculpe-me a giria... mas... vergo-me á profundidade do seu comentário.

Talvez... um dia... ao encontrarem o verdadeiro sentido do "ritual" de ir á missa... se lembrem de todas as Donas Ascenção!!!!

Um abraço em Cristo;

Kalos

Alma peregrina disse...

Agradeço-lhe imenso Kalos. Estou vermelho como um tomate.

Também gostei muito do seu comentário de 9/4 22:12.

Abraços em Cristo

P.S. Se a Lisa passar por aqui, mando-lhe já uns bjs antecipados, senão ainda me esqueço...

Anónimo disse...

Eu não acho que a senhora Ascenção faz bem melhor do que aquelas que vêem a Missa enquanto cozinham e arrumam a casa.

Estas, fazem tão bem como ela.

Afinal, o que vale é "ter o coração disponível para celebrar o dia do Senhor".

Se os homens trabalhassem em casa, numa de entre-ajuda e, de uma vez por todas, deixassem de ver as mulheres como "sopeiras" deles, veríamos se elas não iam à Missa à Igreja.

Anónimo disse...

- Um ponto para o anónimo(a) das 16h17. :)

- O que no post se diz da missa também se poderia dizer do terço "da Renascença".

- Fica um alerta e um desafio à pastoral nos media. Sobretudo na rádio, nas rádios locais. Em vários casos vão percorrendo as freguesias do concelho ao domingo para transmitirem a missa dominical e entrevistarem os responsáveis dos diversos sectores e movimentos das comunidades. Há que valorizar e potenciar essa proximidade.

- Também há que reflectir na questão dos lugares de culto. Haveria grandes vantagens em que muitas das eucaristias actualmente celebradas ocorresem em espaços ligados a lares de idosos. São eles que compõem maioritariamente as assembleias cultuais. São quem mais valoriza a participação na eucaristia e quem mais sofre quando disso se vêem impossibilitados. Se os espaços de culto, mesmo inter-confessionais, são imprescindíveis nos hospitais, nos quarteis, nas prisões, muito mais se justifica a sua existência nos lugares dedicados ao cuidado da população idosa. É curioso como tantos projectos (de apoio a idosos) ligados à Igreja são edificados sem ter isto minimamente em conta. O (bom)exemplo das Misericórdias devia ser estudado e utilizado como referência.

JS

Anónimo disse...

Nos dias de hoje nós temos tempo para tudo... ir ao shopping, ir ao mercado, assistir novelas, conversar com os amigos. Mas parece que quando precisamos de um tempo para "falar" com Deus não temos mais tempo de sobra.
Muitos deixam para rezar no caminho para o trabalho, dentro do carro, do ônibus, ou enquanto fazem alguma atividade.
Como podemos ter tempo para tantas besteiras e não temos um tempo exclusivo para nosso Pai, para Deus...
Quando me deito e começo a fazer minhas orações as vezes o sono vem com tanta força que não consigo terminar um Pai Nosso. Me sinto culpada e fraca pois durante o dia fiz tantas outras coisas e na hora que reservo para Deus o sono toma conta de mim.
A senhora que assite a Santa Missa pela televisão, que reserva o tempo para Deus, celebra mais verdadeiramente que a maioria dos fiéis que vão à missa todos os dias.
Pois essa senhora respeita o tempo do Senhor, o tempo que é só de Deus.
Que isso sirva de lição para todos que não dão a atenção que deus merece.

Mariana

Anónimo disse...

O importante é rezar!

Se tomarmos o propósito de orar, enquanto fazemos tudo o resto no nosso dia-a-dia....teremos a certeza de estar "vigilantes".

Parece demasiado... mas não é!

É apenas um pequeno exercicio, que se vai fazendo (aos poucos).

Rezar, como e o que podermos! O Senhor só nos pede a nossa fidelidade!

Se a nossa ida á Igreja, enfurece a familia... podemos ir na mesma e oferecer "essa furia", as injurias (possiveis), e, tudo o mais que daí possa advir... N. Senhora de Fátima pede-nos isso mesmo (rezai muito e oferecei sacrificios)...

O Mundo está repleto de coisas muito sedutoras... mas a mais saborosa... é encontrar o amor de DEUS na nossa vida!

Se o peso das tarefas domésticas, é um peso já insoportável... faça-se o propósito de comunicar á familia... este Domingo vou á missa! Nessa Santa Missa, ofereçam todos esses fardos quase impossiveis de carregar... entreguem tudo com a plena confiança que Jesus Cristo agirá, com o derramamneto de muitas e grandes graças na vossa vida!

FAÇAM-NO COM FÉ E ENTREGA TOTAL!!!!!

Kalos