segunda-feira, novembro 27, 2006

Como podemos ter a certeza da nossa fé, senhor padre?

Ele de óculos. Professor. Ela de um penteado de cabeleireira. Filha de um médico. Gente culta. Entendida. Com formação. Estávamos a preparar o baptismo do seu filho mais novo, o Rodrigo. Até pelo nome parecem o que são. Digo eu, que tenho um nome mais usual. Costumo explicar o baptismo e o ritual com palavras simples, comparações engraçadas. Coisas da vida de cada um. Uma hora de diálogo aberto. Claro que abordamos a fé. O tema. Porque, às vezes, a fé não se aborda. Não está no lugar. Não se sabe. A tradição é que aparece. Ou os avós. Ou a festa de apresentação da criança. Ou sempre foi assim. Ou a religião onde nascemos. Ou… sei lá. Mas o baptismo é uma questão de fé. Nem que seja a fé dos pais ou dos padrinhos.
Depois de umas quantas palavras e sorrisos e assentimentos, o professor rodou a cara ligeiramente. Olhou-me de soslaio e declarou. Honestamente Senhor padre, como podemos ter a certeza da nossa fé? Não leve a mal. Pode até parecer que não sabemos o que estamos a fazer. Mas esclareça-me, por favor.
Apanhou-me desprevenido. Não o tema, mas a pergunta. E falámos mais uns largos minutos. A fé não é fruto de certezas, mas pode ser uma certeza. Ou ser uma certeza nossa. São coisas distintas. A fé é fruto do coração e não da razão. Não podemos raciocinar a fé. Podemos senti-la. E podemos ter a certeza desse sentimento. Quando acreditamos (em algo que é mistério) estamos a sentir que amamos e não a provar que conhecemos o mistério. Esta dualidade é que confunde muito as pessoas. Quando um jovem se enamora de uma jovem não tem certezas de saber quem ela é, como é ou como vai ser. Mas ama. E mesmo depois de casado, vai descobrindo novas coisas, porque está mais próximo da amada. Porém, esta permanece um mistério. E porém também, ele continua a querer estar do lado dela, a querer viver com ela. É mais ou menos assim a fé. De qualquer forma, quando a fé é verdadeira, ela passará indubitavelmente por momentos de incerteza e de dúvidas. Mas é isso que a enriquece. Também não concordo muito com aqueles que têm a fé porque sim. Só por isso. Que não questionam. Costumo dizer que essas pessoas vivem mais a religião que a fé. E Deus o que nos pede é que vivamos a fé.
Não sei se expliquei bem. Ou o suficiente. Eles foram embora com vontade de voltar, disseram. Fiquei apenas com a certeza da minha fé.

24 comentários:

Anónimo disse...

Olá querido irmão/ A e com muita alegria que encontro mais um blog a ser dedicado a este grande Deus, gostai muito da forma que o querido/a irmão fez o seu blog esta muito criativo e bem construído que Deus continue abençoar este grande trabalho.
Querido irmão/A também tenho um blog meu qual chamo o oficial gostava muito de que o irmão/a visse e deixa-se uma opinião, e muito importante para que eu possa cada vês fazer melhor o endereço do blog e este que passo a mencionar,


http://pedroaurelio.blogs.sapo.pt/

Querido / O Irmão será que posso mencionar o seu blog no meu

Que Deus a abençoe ricamente a sua vida e dos seus, fique com a paz do Sr.


Esperou pela sua visita.

Querido irmão será que me pode linkar o seu blog, para que o meu blog possa ser visto cada vez, porque nunca se sabe quem pode ver no outro lado de lá, pode estar uma alma sedenta de sede.

Elsa Sequeira disse...

Amigo!!!
Pois explicaste muito bem, claro que sim!!!
"A Fé é fruto do coração, não da razão"!
Deixo-te a marca do meu coração!!!

beijinhos!!!
:))

David de Sousa disse...

Ainda à coisa de 1hora tive a discutir isso com uma pessoa!Ainda bem que não estava taõ distante da verdade!

Concordo plenamente contigo!

Abraços...

Anónimo disse...

É sempre um prazer vir a este blogue. Às vezes tenho dúvidas que seja mesmo padre. Mas também não tem importância.As minhas dúvidas sobre a minha fé também não me incomodam muito. O facto é que sinto a presença de Deus em muitos momentos da minha vida e isso, para mim é que é importante. A sua atitude perante o mundo não é muito comum aos padres. Normalmente estão muito fechados à vida e por isso não nos entendem muito bem. Felizmente que há excepções e eu conheço algumas. Poderia informar-me qual a sua paróquia? Gostava de ouvi-lo ao vivo!

Anónimo disse...

A fé é algo que acontece se tiver de acontecer e quando tiver de ser. Ou é ou não é!

Às vezes é preciso fazer longas travessias no deserto para lá chegarmos.

Teodora

Anónimo disse...

É sempre com muito prazer que visito este blog. Às vezes tenho dúvidas que seja mesmo padre. Está de tal modo aberto ao mundo, coisa tão rara na maioria dos padres que conheço, embora também conheça grandes excepções, felizmente, que me surpreende várias vezes. Foi o caso de hoje. Dúvidas sobre a minha Fé tenho muitas. Mas a presença de Deus em tantas situações da minha vida, e tão nítida, faz-me não valorizar assim tanto essas dúvidas. Pois se nem Ele se importa?
Gostava de saber qual a sua paróquia, para ir ouvi-lo pessoalmente.
O meu obrigado pelo bem que a sua leitura me faz.

Andante disse...

Fé razão vs fé coração.
Quando não se consegue passar da razão ao coração é porque algo vai mal na cabeça das pessoas.
Estou na pastoral do Baptismo, cá na paróquia, e custa ver tantas pessoas que pedem o baptismo para os filhos porque:
- é bom;
- é pretexto para mais uma festarola;
- é por tradição.
Na reunião alerto sempre para o sacramento, informando que o que se vive não é uma apresentação pública, nem um rito mágico.

Beijos peregrinos

Confessionário disse...

Amigo anónimo, fico contente com as tuas observaçõs, pois muitas vezes os meus colegas padres são de facto de outros mundos que não o da VIDA. Mas isso não faz de mim um padre bom. O que faz de mim um padre bom é o meu coração, simples. E acredita que tenho imensas fragilidades. Não sou nada perfeito. Há que dizer isto. Têm aparecido comentários neste blogue louvando a minha forma de ser e demonstrando que gostariam de participar nas minhas celebrações. Acredita que são iguais às outras. Claro que sou eu mesmo nelas e com naturalidade presido às celebrações. Mas muitas vezes serão chatas e cansativas. Se fosse o "tal", as minhas igrejas estariam a abarrotar. Agradarei a alguns , como não agradarei a outros. É sempre assim. Procuro ser aberto à vida, ver o lado positivo da Presença de Deus em nós. isso sim. Procuro abrir horizontes ás pessoas das minhas paróquias, para que esqueçam o Deus dos mortos, o Deus dos castigos e das devoções, para viverem o Deus da Vida, da esperança, do Amor e da Fé. Mas isso nãó é fácil tb por aqui.
Eu sou um simples padre, amigos! Gostava de vos ter aqui nas minhas paróquias... mas iríeis ver que sou apenas um padre como tantos outros!
Agradeço estes comentários, que animam sobretudo a continuar nesta seara. São emlhores que aqueles que apontam e crucificam.
De qualquer forma nao acho oportuno revelar esse lado da minha vida (as paróquias tais), ou outros... pois que as águas devem ser separadas.
Mas sempre podes entrar em contacto comigo de uma forma mais pessoal pelo meu email.
Um abraço...

Confessionário disse...

Pedro , estás à vontade. Em breve te colocarei nas minhas penitências.

Andante , como eu sei a que te referes... uiui...mas pelo menos que no final da preparação eles tenham alguma questão no coração, não achas? pelo menos é o que eu procuro..

João Moutinho disse...

Quando falo de Fé costumo ir buscar um exemplo à futebolândia. Isto é, acredito que o Sporting vai ser campeão mas não quero dizer que tenha a melhor equipa, ou que seja a lógica que conduza a isso.
Ou seja, há um misto de razão e coração.
Como é óbvio é um exemplo que não é de todo transponível para o assunto debatido.

Anónimo disse...

Nem sei que lhe diga ou confesse.Entendo que vivemos num mundo em que parece não haver lugar para a fé, ou, (quem sabe!) talvez que seja mesmo este o mundo das perguntas e dos porquês. Porém o silêncio e a ausência de respostas, custa muito porque fere. O Deus de que nos falam e que me dizem estar comigo e em toda a parte, nem fácilmente se consegue compreender e atingir. Sou do tempo dos medos e dos castigos e dos infernos e dos cheiros a cera nas igrejas pouco iluminadas da minha aldeia. Era no tempo em que as missas eram rezadas em latim com o celebrante de costas para a assembleia. E havia as pregações com imagens de terror e castigos no além. E havia pecados anunciados do alto do púlpito. E chamas lançadas. E diabos e anjos. E a assembleia, assustada, escutava todas aquelas histórias com algum terror e era pelo medo que muitos se tornavam "melhores" Cá fora, o trigo crescia e os pássaros empoleirados nas árvores iniciavam as uas melodias. Lembro-me de me perguntar, então, como era possível deixarmos um mundo de harmonia e beleza e mergulharmos nas trevas do desconhecido e das condenações eternas. Que Deus era esse de que me falavam e que teria,também, criado a maravilha dos montes, das fontes e dos regatos. E, de manhã cêdo, quando ia para a escola e o sol já ia alto, continuava a magicar nesta questão do mal e do pecado e das penas eternas. Mas também me interrogava sobre o perdão e as atenuantes, porque (interrogava-me ainda)quem me impele para o mal!? E o que é o mal? E, depois a liberdade. E estará a minha liberdade mesmo condicionada, por factores biológicos ou culturais?
Depois, à noite, quando a lua se levantava e iluminava os montes da minha aldeia, enxergava nas casas e pela suas pequenas e toscas janelas, a luz mortiça das candeias.E mesmo aí me perguntava quem me deu o dom de me interrogar e, ao adormecer,só queria sonhar.

Aceite a amizade da Alice

Confessionário disse...

João, todos os exemplos são bons, se ajudarem. É que é mesmo difícil explicar a fé. Eu gosto mais de utilizar a imagem dos namorados. Mas essa do Sporting só erra numa coisa. Devia tratar-se do Benfica. hihihi

Confessionário disse...

Eu bem te entendo, Alice. Mas faço votos que vás descobrindo o Deus Amor, que esse sim, é o nosso Deus.

joaquim disse...

A fé, para mim, é acreditar sem se ver, é sentir sem se tocar.
A fé, para mim, é também questionar e às vezes até duvidar com a mente , para acreditar com o coração.
Há um pouco na Eucaristia da tarde, em que participei, na altura da Consagração, veio esse pensamento: És Tu mesmo Senhor?
E a resposta veio pronta de dentro de mim: Se acreditas com o coração, sou Eu que aqui estou!
Abraço em Cristo

Maria João disse...

Obrigado pela dica que me deste para a catequese.

Ando a ler a Enciclopédia das Novas Religiões e só me vem à cabeça esta questão da Fé. Com tantas religiões, como é que conseguimos passar a mensagem de Deus? Apesar de em muitas haver pontos comuns, há sempre aquela questão de que a minha é que é a verdadeira. No fundo, a imagem que passamos aos que não crêem, é que andamos para aqui a "vender o nosso produto", como diz um colega meu de trabalho.

Além disso, quando mostramos a nossa Fé através de obras, regra geral dizem-nos que qualquer pessoa pode fazer o bem. Não precisa de acreditar em Deus ou de pertencer a uma religião...

Isto não é fácil. Bem, Jesus avisou logo que não ia ser fácil! Que Ele nos ilumine!

Beijos em Cristo

Anónimo disse...

Gosto muito de visitar este blog, Acho que faz sempre bem refletir sobre estas questoes da fé.

Vem a proposito e muito bem a iniciativa do nosso Bispo, em apostar brevemente na catequese para adultos.
Ficar apenas com o que aprendemos em criança e
as tradiçoes,é muito pouco.
Falta algo mais, que dá força e alimenta a nossa fé, para manter sempre viva esta chama que nos foi dada no baptismo.
Apostar na formaçao, é um passo muito importante, pois sabemos que a maioria dos cristaos ficam muito aquem do que nos é pedido no Evanjelho.
Por isso, vamos todos dar força a esta iniciativa, para que dê frutos e no futuro tenhamos melhores cristaos e seguidores do Evanjelho.

Um abraço amigo e bom trabalho!...

mafaoli disse...

"Eu cá tenho a minha fé."
É o que muitas vezes ouvimos. Talvez seja a resposta mais usual, mas também a mais banal, mais oca.E assim se vai fazendo o Baptismo, a Comunhão,o Casamento e o Funeral.
E isto talvez se deva à falta de conhecimentos, de formação, de catequeses "quadradas". Temos que aprender a conhecer Deus, a formar a nossa consciência e coração e receber uma catequese esclarecida e fundamentada. Porque penso que para chegar à fé não podemos rejeitar a razão. A fé não é um dado adquirido vai-se fazendo caminho ao caminhar.

Gosto muito de passar aqui pelo confessionário.
Obrigada.

Anónimo disse...

mais claro nao podias ser!
a vida é feita de incertezas, de duvidas sobre os outros e ate sobre nos mesmos mas tb existem os sentimentos, q qd verdadeiros nao sao incertos mas permanentes, como aquele amor que dura a vida inteira ou a profissao que queremos viver...
a fé é um pouco assim. algo k sentimos sem fundamento previo, sem razao aparente; um sentimento inato, mas impossivel de controlar. e por isso mtas vzs nos deparamos cm indecisoes, duvidas acerca da nossa fé. confesso q por vzs tb tenho as minhas duvidas mas n e por isso q deixo de ser catolica! a fé é msm isso, um teste a nos proprios, mas provem de um sentimento que nasce em nos e nao de uma ponderaçao.
"a fé é fruto do coraçao e nao da razao"
mt bem respondido!
bjinhos e ate a proxima

João Moutinho disse...

Prezado autor do blog,
Mas o facto de eu ter preferido o Sporting ao Benfica só demonstra que a minha Fé é menor do que a sua..

Confessionário disse...

Joaõ, são estes momentos "de fé" que, apesar das opções de cada um, constituem um grande momento de largas gargalhadas. fartei-me de rir... Bem apanhada. heheheh

PDivulg disse...

Está bem explicado, a Fé é uma questão de Amor, verdadeiro e sincero. Quem não ama não tem Fé e quem não tem Fé nunca amou verdadeiramente, desinteressadamente, livremente...

Anónimo disse...

Acho que explicaste mesmo muito bem o que é a Fé! :)

Anónimo disse...

«Não podemos raciocinar a fé»? Entao, o que é a teologia?

Anónimo disse...

Hoje tirei as minhas duvidas, eu nao tenho qualquer fé!
Tinha duvidas porque já tinha ouvido que fé nao é um sentimento, mas uma certeza. Mas o confessionário diz que "A fé é fruto do coração e não da razão", concordo mais consigo.