terça-feira, novembro 15, 2022

Unidades pastorais como comunidades pluriministeriais

A paróquia tem-se vindo a esgotar. Mais do que “comunidade cristã”, tem-se tornado um aglomerado de crentes, na sua maioria pouco ou nada praticantes, voltada para uma prestação de serviços religiosos. Tem aumentado o número de bancos vazios nas igrejas e o desinteresse em participar na comunidade paroquial. Também parece fazer cada vez menos sentido configurá-la como um território, pois residir numa povoação já não é sinónimo de fazer parte de uma paróquia. E a pandemia pelo novo coronavírus potenciou tudo isto, tornando necessário repensar as paróquias e a acção pastoral junto das pessoas. A paróquia ainda é a estrutura onde se faz mais prática e visível a acção da Igreja. É uma realidade pastoral necessária, mas tem cada vez maiores dificuldades para cumprir a sua missão. Por isso se tem falado muito na hipótese de se progredir para unidades pastorais como conjuntos agrupados de paróquias. 
No entanto, para se fazer esse caminho, a reflexão não pode centrar-se nos padres ou nos eventuais párocos, mas nas potencialidades das comunidades como um todo. É que alguns bispos, para colmatarem as debilidades das paróquias, têm procurado quase exclusivamente soluções clericalizadas. Desenham unidades pastorais por causa das necessidades efectivas de párocos, que são cada vez menos para cada vez mais comunidades paroquiais. Fazem pacotes de paróquias para sacerdotes. Reagrupam paróquias de modos diferentes. Procuram soluções ou alternativas com padres vindos de fora, padres substitutos, ou outras figuras eclesiais similares, para se continuar a fazer as comunidades cristãs dependerem de uma única pessoa, o padre. 
O ideal seria pensar e estruturar comunidades mais dinâmicas, menos ligadas a lugares, menos dependentes dos padres, mais animadas e confiadas a leigos e equipas corresponsáveis, comunidades a que poderíamos chamar de pluriministeriais. Uma unidade pastoral não pode ser um agregado de paróquias do padre para lhe facilitar a vida, mas uma comunhão de comunidades e cristãos que unem sinergias, capacidades, potencialidades, recursos, ministérios, numa diversidade corresponsável, aberta, dinâmica e participativa. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "As paróquias que estão a morrer"

11 comentários:

Anónimo disse...

Percebo pouco do assunto, padre. Mas percebo a sua preocupação, pois alguma coisa tem de mudar nas nossas paróquias! Qualquer dia nem haverá padres para elas!

Anónimo disse...

O maior problema está nas paróquias do interir, com aldeias quase desertas e a uma grande distância entre elas. Nas cidades, as igrejas estão muito próximas e a ageavar a situação,
uma populaçãoidosa sem possibilidadede se deslocar. Seria aqui fácil reajustar e deliberar padres para o interior. Mas quem quer tracar cidade por aldeiad?

Anónimo disse...

concordo

Confessionário disse...

17 novembro, 2022 07:39

Não devemos pensar a pastoral paroquial recolocando padres/párocos para zonas onde há mais paróquias e paróquias com menos gente. Na minha opinião, isso é uma continuidade com a ideia de que o padre é a solução para as comunidades paroquiais, muitas delas moribundas, independentemente de terem ou não pároco com disponibilidade para as atender.
Eu defendo que se caminhe para uma solução mais em consonância com o espírito missionário e de comunhão, onde se envolvem mais cristãos (para além dos párocos), em dinâmicas mais inclusivas e participativas. Não creio que se vá lá de outro modo.

Anónimo disse...

Não estou a ver como. São leigos que vão confessar, celebrar a Santa Missa, e outros Sacramentos? Desculpe a minha burrice.

Confessionário disse...

17 novembro, 2022 18:51

A vida de uma comunidade não pode girar à volta dos sacramentos. Há muito mais para além disso. E também não há verdadeira comunidade onde não haja o mínimo para celebrar os sacramentos, mesmo tendo um padre para presidir a eles. Lá está, para se ser comunidade não se depende de uma só pessoas, mas de várias.

Por outro lado, o que só mesmo os padres podem fazer é consagrar e confessar, assim como o viático.

Voltando ao suposto ideal: talvez começar a juntar comunidades e sinergias, ministérios e acções pastorais....

Anónimo disse...

Pois, mas é essência da vida do cristão é a Santa Missa. Não havendo padre, não há Missa. "Enviai, Senhor, operários para a vossa messe e tende piedade do vosso povo". Não se avizinham bons tempos.

Anónimo disse...

"O suposto ideal... começar a juntar Comunidades..." Quanto se podia fazer uma vez que é mais fácil hoje chegar a uma igreja, que pode ser onde geograficamente não pertencemos. Mas quantas vezes nos sentimos deslocados e desenraizados, porque a comunidade onde vamos é tão fechada, são só duas ou três pessoas que comandam tendo como aspiração a promoção do ego. Quantas vezes o Pároco tenta fazer com que essas pessoas se sintam acolhidas, mas esse núcleo duro não abre mão. Quantas paróquias poderiam ser enriquecidas com a ajuda de pessoas que se sentiriam bem, não só por serem acolhidas mas em sentirem-se úteis onde participam na vida comunitária pelos mais diversos motivos, perto do emprego ou outros motivos. Quando olharmos o outro como irmão, e o serviço com o objectivo de dar glória a Deus e não ao próprio umbigo, então isso será possível. Há um grande caminho a percorrer

Confessionário disse...

18 novembro, 2022 16:0

A essência do cristão é Cristo e não a Santa Missa. Esta é apenas o centro e o cume da vida do cristão, o alimento por excelenência da sua fé.

Ailime disse...

Boa tarde Senhor Padre,
Ainda não tinha vindo comentar, porque o seu post me fez pensar bastante e não sei se deduzi bem.
Pelo menos nas paróquias maiores já existe um envolvimento muito grande de leigos cristãos, nas várias atividades da comunidade, que tenho dificuldade em imaginá-las sem, pelo menos, um Sacerdote a coordená-las e, em que aspetos poderiam ter mais ação.
Falo pelo que me é dado conhecer e decerto não devo ter entendido bem o que pretendeu explicitar.
Desejo-lhe uma boa semana.
Ailime

Confessionário disse...

Ó Ailime,

O modelo das paróquias territoriais centradas no padre já não conseguem subsistir. Eu diria que cerca de 80% das nossas paróquias já não têm condições mínimas para serem comunidades vivas, com o básico que caracteriza uma comunidade paroquial. Imagina só o exemplo da catequese: quantas paróquias têm catequese organizada e quantas não têm?!
Temos, portanto, de caminhar para outro modelo de paroquialidade, e talvez o caminho para unidades pastorais, com estruturas mais abertas e dinâmicas, sejam o caminho necessário. Nelas, o governo da paróquia deverá fazer-se por uma equipa, ou como lhe quisermos chamar, coordenada por um pároco (mas só isso; não centrada nele), pois a verdadeira Igreja de Cristo não é o clero, mas todos os crentes.