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Tão sem palavras... |
No meu último retiro, esse espaço ou lugar que gosto especialmente porque me encontro com Deus de forma ímpar, o orientador, aquele que me ajudava a encontrar-me e a encontrá-lo, disse-me algo que ainda hoje me inquieta. Os seus olhos, de um azul e de uma expressividade que me faziam lembrar a imensidão e infinitude do mar, pousaram em mim para me dizer “És um homem com uma espiritualidade forte”. Eu pensava que não, e reagi. Acenei com a cabeça e com o corpo. Olhei para o lado. Acenei que não com tudo e fiz de conta que ele não falava comigo. Mas eu rezo tão pouco, disse. Rezo tão pouco, repeti. E ele voltou a mim. “És intenso na tua intimidade com Deus!” Não disse mais nada. Acho que também não quis ouvir. Passei umas horas a olhar para estas palavras, na tentativa de as deixar dizer o que significavam. É certo que me deixo arrebatar quando me sinto arrebatado na oração. É certo que sou honesto comigo – ao menos comigo – quando tento atravessar os meus sois e sombras. É certo que me gasto com um tu que sinto amar na pessoa de Cristo. Mas isso, para mim, sempre foi apenas um poucochinho de nada. Tão pouco e tão insignificante. Tão raro. Tão anónimo e escondido. Tão sem palavras...
3 comentários:
ó padre, às vezes invejo-o no modo como está com Deus.
Gostei muito deste texto!
Muito obrigada por partilhar este episódio tão íntimo connosco. Ajuda saber que não estamos sós nesta busca por amar o Amor que cada dia nos desafia a mais.
Boa noite Senhor Padre,
O seu orientador consegiu ler-lhe o coração.
Sente-se nos seus artigos, nas suas expressões, essa sua espiritualidade e fidelidade a Deus.
Desejo-lhe uma boa semana.
Ailime
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