Eu cá tenho a minha fé. Justificava-se diante da vizinha que é uma senhora de hábitos de oração e que costuma ter muitas atenções para com as vizinhas e as pessoas que sabe que necessitam de alguma coisa. Sejam bens alimentares ou uma palavra, uma atenção ou um pouco do seu tempo. Estavam a conversar sobre a pandemia e Deus que não tem feito muito ultimamente, mas que as pessoas também o procuram pouco. Nem que seja para terem força. Até que a primeira disse de rompante Eu cá tenho a minha fé, para justificar a pouca oração e a pouca presença comunitária e comprometida. E a segunda, a propósito disso, veio perguntar-me como se poderia contabilizar a fé de uma pessoa.
A fé e a intimidade das pessoas com Deus não se contabiliza. Como é algo muito pessoal, ninguém o pode perscrutar ou quantificar. Contudo, os indícios são também sinais, embora com uma enorme relatividade. Um indivíduo apaixonado sente essa paixão no mais fundo de si e só ele sabe o que sente. No entanto, as hormonas dão de si quando a sua amada está por perto. Os sinais de que a ama costumam ser bastante manifestos, por mais que se tentem esconder.
A fé é do mais íntimo que possa existir. Perpassa o coração e o que somos no mais profundo de nós. Mas deixa rastos à sua volta. Por isso quando alguém diz que tem fé, mas arrasta poucos indícios dela consigo, o mais certo é não ser fé ou ser uma fé tão incipiente que ainda não se transformou na fé apaixonada e amadurecida.
10 comentários:
Desculpe, mas não percebi.
..Um individuo....mais que tente esconder. Gostei da comparação do sentido da fé. A fé é majestosa, sublime, magnífica, linda uma sensação divina.
É como a história do perfume no Crisma, o bom odor: é pessoal, é invisível, mas os outros notam, reparam, reconhecem.
31 janeiro, 2022 19:14,
A fé não é para se mostrar. É para se viver. Mas, por isso, ela deixa rastos ou sinais quando é verdadeira. Assim, apesar de ser algo do mais íntimo que possa existir, é também algo que, de certo modo, se torna visível na vivência.
Nós é que não podemos catalogar ou qualificar essas sinais de fé de outrem.
A fé prova-se e manifesta-se nas obras.
Já dizia o Tiaguinho: "mostra-me a tua fé sem obras, que eu, pelas obras, te mostrarei a minha fé".
E o próprio Jesus referia que a árvore conhece-se pelos frutos.
01 fevereiro, 2022 12:20
Mas tb não é necessário viver para mostrar as obras da fé. Quem procura ser autêntico na sua fé, verá desveladas as suas obras como "um rasto" ou "sombra"...
Era, mais ou menos isto que pretendia afirmar, para justificar que uma pessoa não pode ter apenas uma "fé escondida", pois ela transparecerá. Há muitos denominados cristãos que acham que basta a afirmação "eu tenho fé"... mas se não a transparecem, dificilmente têm uma verdadeira fé. Ou ao menos uma fé amadurecida!
A dimensão nuclear da fé cristã é a relação interpessoal, que ela gera e traduz, entre o crente e Deus. Por isso, única, irrepetível.
Mas está bem longe de se reduzir a isso.
Boa tarde Senhor Padre,
Belo e bem explícito o seu texto reflexivo.
Mas e aquelas pessoas que dizendo não terem fé (conheço uma pessoa assim) que agem como se tivessem e são amigos de ajudar, são compreensivas e dão a vida se for necessário por uma causa? O que as faz mover? Não será Deus em quem não acreditam ou têm dificuldade em aceitar?
Desejo-lhe continuação de boa semana.
Ailime
Ailime, uma pessoa sem fé pode ser boa e fazer muito bem. A diferença da pessoa que tem fé e que aquilo que faz de bom e os esforços que faz para ser boa, o faz unido a Deus através de Cristo!
Mas também é verdade que, estando Deus em todos nós (não se restringe ao espaço cristão, Ele pode operar em qualquer pessoa... mesmo sem fé!
Não sei se me fiz entender. Fiz-me entender?!
Muitíssimo bem. Muito obrigada, Senhor Padre.
Boa noite.
Ailime
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