terça-feira, agosto 24, 2021

Uma Igreja sem fé

A generalidade dos baptizados que fazemos são pedidos por e para gente sem fé. Os casamentos igual. A catequese da infância e adolescência está estruturada como se os seus destinatários fossem pessoas com fé. Promovemos acções pastorais e eventos religiosos para pessoas que não têm fé e que apenas vão precisando da Igreja para necessidades pessoais ligadas a sacramentos, festas e funerais como eventos sócio-culturais arreigados. Gastamo-nos numa acção eclesial para gente sem fé, convencidos de que têm fé. Ou pelo menos estruturamos e executamos a nossa acção pastoral e cultual como se fosse para pessoas com fé. E as consequências estão à vista. Os agentes pastorais, a começar pelos sacerdotes, desgastam-se a fazer actividades inconsequentes e que, em muitas ocasiões, fomentam problemas e conflitos que doem a quem se dedica com zelo e que, às vezes, ainda afastam mais do encontro com Cristo. 
Uma Igreja constituída maioritariamente por gente sem fé que se agrega, mais ou menos, a ela como instituição sócio-cultural não tem futuro. E se a nossa Igreja, que queremos mais missionária, não se focar especialmente no primeiro anúncio, essa experiência de encontro com Cristo que leva à conversão, será, dentro em breve, uma Igreja mais vazia ainda. Vazia sobretudo da fé. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Gostava de esvaziar a minha igreja"

6 comentários:

Anónimo disse...

Infelizmente é uma verdade, ben dolorida. Como que as pessoas estão sendo muito repentina caindo na msis desvarada atrocidade do mesmismo, sem fé por completos. E DEUS esta sempre em terceiro plano. Ou no ultimo por sempre no acaso do socorro de última hora. Triste sim, mas nada é pra sempre. Tudo se modifica pra melhor ou pior.Salve aqueles despercebido e até mantêm um pouco de fé.

JS disse...

Esse condicionamento sociológico de sermos ainda, em termos práticos, a religião do Estado, a religião oficial, a religião dominante, traz-nos uma série de vantagens mas também grandes cruzes.

Exemplo: doi-me o coração sempre que penso nos milhões de euros que nos vemos forçados a gastar, ano após ano, na conservação das nossas inúmeras igrejas e capelas, com suas talhas e dourados, e uma arquitectura que não corresponde às intuições actuais, quando parte desse dinheiro seria tão mais necessário aplicar-se em projectos pastorais e de solidariedade; e mais dorido e comovido fico sabendo que grande parte dessas verbas resultam de oferta de famílias remediadas, que dão generosamente do pouco que têm, por amor e devoção.

Como é evidente, não nos passa pela cabeça abandonar o nosso património, herdado da fé dos nossos antepassados, ou deixar alegremente que ele se vá arruinando, como infelizmente fez o Estado com muitos dos imóveis que expropriou à Igreja. Mas deveria haver a coragem de as autoridades pôrem em cima da mesa o facto de que dentro de 20 anos metade dos templos estará sem fiéis e sem culto, e avançar com alternativas à sua ocupação, desejavelmente geradoras de receitas para a sua manutenção estrutural.

Uma ideia em que vejo bastante potencial: columbários.

JS disse...

Sem dúvida que a situação de fé das nossas comunidades é complexa, dúbia, geradora de inúmeros mal-entendidos, frustrante e desgastante. Mas é também uma ilusão sonhar prazenteiramente com clarificações milagrosas ou com a teoria dos "poucos mas bons". Que fique na memória o final do evangelho do passado domingo: alguém consegue imaginar Jesus alegre ou satisfeito ou tranquilo ao acabar rodeado por meia (uma!) dúzia de gatos pingados? O evangelista não deixará Jesus esconder a mágoa e o ressentimento perante a rejeição. Se o status quo faz sofrer, o abanar da árvore trará também muita dor.

Confessionário disse...

JS, não sei se sou a favor do "poucos mas bons". Sou mais a favor de um outro entendimento da Igreja, mais dinâmico, mais aberto, participativo e inclusivo, em que o anúncio da Boa NOva fosse o centro da acção eclesial.

Nunca tinha pensado nos "columbários"!
Interessante... embora a maioria das paróquias que, em breve, vão deixar as suas igrejas às moscas, sejam comunidades do interior, de baixa densidade demográfica e envelhecidas, onde a cremação ainda não é algo comum e vulgar.

Ailime disse...

Boa tarde Senhor Padre,
Infelizmente é verdade todos os aspetos que foca. Ainda no passado domingo o meu prior falava dos batizados por tradição.
Haverá muito a fazer a nível de catequeses para transmitir o anúncio de Jesus!
Se antes da Pandemia as coisas já não iam bem, parece-me que neste momento muitos fiéis se afastaram, muitos deles já com bastante idade.
Nas paróquias maiores onde há grupos de jovens, ainda permanece a esperança de que a fé se vá propagando.
Ailime

Anónimo disse...

Como entendo sua indindignidade perante atual igreja, bom templos né? Pra corroer o coração a falta de fé e o derespeito a divindade. Chm