sábado, julho 17, 2021

"A pecadora da cidade"

Era conhecida na cidade como a pecadora. Era portanto o símbolo, a presença, a essência do mal na cidade. Ser conhecido como pecador sem nome é o mesmo que ser conhecido pelo pecado. A encarnação do pecado. Não interessa a intensidade ou a qualidade do pecado, porque na cidade o que importava era como a conheciam. A pecadora. A sociedade, aqui representada na “cidade”, é demasiadas vezes aquilo que nos fasta de Deus e de nós próprios. Porque passamos a ser o que parecemos e passamos a sentir-nos ausentes de quem somos de verdade. Mesmo diante de Deus, numa humanidade sofrida em que pesa a indignidade de amor por parte do senhor do amor. Vivemos apenas a nossa humanidade frágil. 
Não gosto das cidades que não se importam com quem nelas moram. As cidades indiferentes. Mas gosto ainda menos das cidades que vivem a apontar dedos. Já lá dizia Bernanos que a mediocridade era o pior mal da sociedade. Os medíocres, para não sentirem que o são, apequenam os que conseguem apequenar. Fazem da sociedade um lugar apequenado. Apequenado porque todos os seus habitantes são, por motivos diferentes e paradoxais, cada vez mais pequenos. 
Gosto, porém, do modo como Jesus deixa que esta mulher o toque na sua impureza e pecado. Que leve até ele a condição de pecadora. Mesmo os adereços. Tudo o que levou com ela era o que usava com outros homens. Menos os beijos de verdade. E o que fez Jesus? Mandou-a em paz. Na paz que brota de saber-se amado por Deus. E ela foi. Imaginamos que foi, porque o relato do evangelho não nos diz para onde foi nem como foi. Nem se voltou à vida pecadora de antes. Certo que deve ter continuado a ser conhecida como a pecadora. Mas o que interessa isso, quando nos sabemos amados por Deus? 
 
revisitar Lc 7, 36-50
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "O padre tem de saber perdoar"

13 comentários:

Anónimo disse...

Nossa que bênção grande este texto. Eu muitas vezes pensei em estar numa posição desra. Mas eu tenho um Deus. E diante DELE o importa é seu agir com as cousas por outrem, Que dane-se língua humana. O mer ser,o meu estar aqui, quem pode me avaliar é Deus. A indiferença para muitos, é na verdade a interferência para quem sente, aproximar mais Deus, e aqueles que locam afastam de Deus, devido um olhar de desprezo ao indiferente, mas quem tem a função de abrir olhos dos que se julgam, diferente para a sua mesquinhez que na na sua concepção foi o que lhe afastou de Deus. Deus age na sua pequenez até nos espinhos da roseira, mas mesmo assim ela é atacada, devido a sua beleza e sua essência em perfumar o mundo, com sua pequena parcela de perfume. Um abraço de paz e bem; Sr padre. Chm.

Anónimo disse...

...continuar o assunto acima. Cado Jesus Cristo viesse a terra hoje Ele não era aceito e nem recebido nas igrejas ou templos. Sabe pq ??? A bendita indiferença. Chm

Anónimo disse...

ó padre, que espiritualidade tão intensa.
Revi-me neste texto da pecadora da cidade, e adorei o final do texto.
Obrigada

Anónimo disse...

ahhh, depois de ler a passagem que deixaste no final ainda fez mais sentido, padre

Anónimo disse...

Não acredito que depois de experimentar Deus, a pecadora continuasse a vida que levava antes. Com Deus não há meio termo: ou se ama ou se odeia. Sob o olhar de Deus não há vida mediocre... há transformação. Deus não lhe deu os parabéns pelo seu passado, por vezes interpretamos muito mal a frase: "ama e faz o que quiseres" Jesus perdoou mas também disse: "Vai e não voltes a pecar!" Este é o meu Deus: Misericordioso e Justo!

Confessionário disse...

17 julho, 2021 17:0
a experiência de Jesus é assim tão mágica que as pessoas deixam logo de ser como eram antes dessa experiência? O que significa não voltar à vida de antes? Terá ela deixado de pecar definitivamente? Quem é que consegue viver sem pecar?
Eu penso que a vida dela mudou completamente, mas não teria tantas certezas sobre se ela deixou a sua história para tras. Nós não somos uma "linha". Somos um "novelo".

abraço amigo de quem quer pensar e não deixar tudo encerrado, porque nem Deus encerra

Ailime disse...

Boa tarde Sr. Padre,
Esta pecadora aproximou-se de Jesus verdadeiramente arrependida, segundo as escrituras e Jesus perdoou-lhe e mandou-a em paz!
Isto foi o que aconteceu no momento. Não nos cabe julgar ou apontar o dedo, se voltou ou não a pecar, porque só Deus sabe e como Pai Ele ama todos os seus filhos por igual e tem o dom de perdoar. Deus perdoa sempre. Nós é que tantas vezes não O merecemos.
Ailime

Anónimo disse...

Eu acredito que o amor é mágico, padre! Acontecem grandes transformações em pessoas que descobriram o amor num plano natural. Quando se ama de verdade lutamos para que as nossas acções não façam sofrer a pessoa amada. Ter a experiência desse amor naquele Homem, que a faz sentir a dignidade de filha de Deus, ao contrário da experiência com outros homens com quem não passava de um objecto,acredito que a vida dela a partir dali mudou. Mas isto é ainha opinião que vale o que vale.

Confessionário disse...

17 julho, 2021 22:25
concordamos que ela mudou. Eu acrescentaria que não tenho a mínima dúvida disso. Exactamente porque o amor transforma. Só não tenho as outras certezas, porque a humanidade respira fragilidade e nós vamos caminhando a nossa vida e crescendo no meio dessa humanidade. Jesus transforma pelo seu amor. Mas não deixamos a nossa condição humana na mesma. Ele dá é sentido a essa condição humana. Só vamos fazendo caminho para conseguirmos ser cada vez melhores e correspondermos a tão grande projecto de amor.

Confessionário disse...

O ideal é não nos encerrarmos numa ideia e estarmos abertos ao Espírito.
Eu estou a gostar desta nossa pequena discussão que nos pode ajudar a ver para além do nosso pequeno mundo. Pensar com outros horizontes, tentar ver como vê o outro, ajuda-nos a pensar para além das nossas certezas. heheheh

Anónimo disse...

A consciência de sentir-se amado faz que os milagres aconteçam. É isto, se somos pequeninos diante de Deus Ele pode fazer o que lhe dá mais alegria: SER PAI!

Anónimo disse...

Postas em prisma, a combinação de todas as ideias é superior e por isso mais aproveitável.
No entanto, a discriminação é demasiadamente abundante para poder ser evitada. Há que deslocar as pecadoras, o amor de Cristo e o seu perdão é extensível, creio eu.




Anónimo disse...

Na actual situação. O que menos importa agora são as cousas de diferenças e indiferenças. Estamos todos nós no mesmo barco, com ondas gigantes atrás, do lado do outro e na frente. A fé é a ferramenta que muitos desconhecem, tentam ativarem. Mesmo em plena evolução tecnológica ainda somos grãos de areia diante do oceano.Hoje a mais riqueza é o "Ar"que temos de graça e ninguém nunca parou para agradecer a Deus. Presente do momento acordarmos e vermos a luz do dia. Sao coisas simples que podemos ajudar o proximos o sorriso abafafo e simples no olhar e un de um Bom dia, Boa noite, um caldinho pra uma pessoa acamada que busca forças pra viver. Este é o momento de todos nos retornos dos esquecidos proximo e DEUS. Chm.