sábado, fevereiro 27, 2021

ver a missa

Recebo diariamente notificações de alguns órgãos de comunicação social no computador, sobretudo de cariz religioso. Como um que, desde o início deste novo confinamento, envia diariamente uma notificação a dizer: “veja a missa diária em…”. Não sei se a escolha do verbo usado é de propósito ou não. Mas há dias estacionei os olhos nessa notificação e dei por mim a concordar com ela. Porque, nestes moldes, é mais verdade dizer que se vê a missa do que dizer que se participa nela, por mais boa vontade que as pessoas tenham, por mais que a eucaristia seja fulcral na vida dos cristãos e por mais que estas celebrações sejam as celebrações eucarísticas públicas possíveis nestes tempos confinados. 
Para valorizar de verdade as igrejas domésticas que são as famílias, tenho-me esforçado, em conjunto com alguns colegas, por providenciar aos meus paroquianos, semanalmente, uma celebração familiar dominical, em linguagem acessível e o menos clerical possível, com o essencial de uma celebração da Palavra, comunhão espiritual e um gesto para vivenciar um compromisso. 
Sou de opinião que, nestes momentos em que nos encontramos privados da eucaristia comunitária presencial, mais importante que assistir passivamente à missa, seja na rádio, na televisão ou nas plataformas digitais, muitas vezes em zapping, é participar presencialmente numa celebração da Palavra ou outra oração similar, sobretudo em família. Devíamos aproveitar esta oportunidade para transformar os nossos lares em igrejas, pois a comunidade paroquial é uma família feita de várias famílias, é uma Igreja feita de várias Igrejas domésticas. 
Se já antes era mais cómodo assistir à eucaristia presencial do que participar activamente nela, agora ainda se tornou mais cómodo fazê-lo do sofá, e não acho possível celebrar a fé como quem assiste. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "a senhora vai à missa"

9 comentários:

Anónimo disse...

Depende de como se assiste.

Depende. Nem toda a gente afunda o traseiro no sofá para ver a missa. Muita gente senta-se e levanta-se e ajoelha-se nos momentos adequados e soleniza a celebração. Vai de cada qual...

Depende. Podemos dispor o crucifixo, acender a vela, abrir a Bíblia no Evangelho do dia, colocar o PC no lugar do celebrante e assistir em família quase quase quase como se fosse presencial. Só não há a fração efetiva do pão e a comunhão do Senhor. Mas não é um assistir passivo...

Muito do que se lê, vê por aí não faz sentido porque são pessoas sem formação cristã a escrever. Há dias ouvi na tv (em ficção, acho) o que seria um padre afirmar que ia dizer ou fazer a missa. Sempre achei que deveria ser celebrar ou rezar.

Depende. Por isso, acho que o melhor é que não sejamos assertivos com as nossas ideias, sem perceber que há outras realidades.

Nina

Anónimo disse...

Verdade, tudo isso, um dia fui corriginda por padre, quando eu disse: que ficaria pra assistir a missa, daí ele né disse que: ficasse pra participar. Mas tudo modifica, sem que percebemos. Mas temos que adptar ao momento. Abrs fraternais.

Ailime disse...

Boa tarde Senhor Padre,
Subscrevo na totalidade o comentário da Nina.
Partilho do mesmo sentir e prática.
Continuação de santa Quaresma.
Ailime

JS disse...

Completamente de acordo em valorizar a oração/celebração em família. Todavia:

- haverá um grupo significativo (crescente!) de "fregueses" que vivem sozinhos. A que se junta um outro grupo de gente condenada a rezar sozinha no seu lar:"O meu marido não liga nenhuma, os meus filhos nem querem saber..." Não sei, caro Confessionário, como é elaborada e como fazes a distribuição da proposta de celebração dominical; mas pode não ser adequada à realidade vivida por um conjunto de pessoas que a recebem. Ter na mão uma folha que diz: "O pai diz...; a mãe reza...; um dos filhos...; agora todos...", em muitas casas é meio caminho andado para se dar uma olhadela rápida e juntar ao molhe de folhetos do Lidl. Desperdício e frustração.

- haverá também um conjunto de famílias que em teoria estaria disponível para aderir à celebração proposta, mas que não sabe como rezar em família. Parece absurdo, eu sei. Alguns diriam que é tão simples como andar de bicicleta: basta pegar nela e começar a andar. Mas há também elementos de sabedoria e técnica em jogo. Nas novas gerações, muita malta nunca fez oração em família. Algo se perdeu na transmissão da fé, incluindo também neste campo. Dar bicicletas às pessoas é óptimo, mas pode ser insuficiente. Faria falta prever também uma espécie de formação teórico-prática e algum acompanhamento inicial para que os primeiros passos sejam dados de forma sólida e enquadrados na perseverança. E aqui, nada melhor do que famílias a ensinar outras famílias. Testemunho.

Anónimo disse...

Na presente situação, a Missa já está tornada (porque para aí os responsáveis a têm deixado resvalar), num autêntico e desprestigiado bem de consumo. Caminha-se em corrida de plano inclinado, para o deserto. E são muito poucos os que apontam "o rei vai nú!".
Mas o Senhor é bom e justo, e ensina o caminho aos pecadores.

Confessionário disse...

Estamos de acordo, JS. E estou consciente das dificuldades.

No rescaldo desta proposta têm-me chegado descrições desse mesmo tipo de dificuldade. Por isso há quem use a celebração apenas em parte, ou quem a use para aprofundar a meditação, ou quem não a consiga usar. E até há quem a use e, ao mesmo tempo, assista à missa na televisão.

Não deixa de ser uma optima opção para fazer algo que seja, de verdade, mais participativo.

Igualmente procuro que os meus paroquianos tenham outros recursos de apoio para poderem celebrar e viver o dia do Senhor. E sou favorável a que assistam à Eucaristia, seja de que modo for. Para muitas pessoas será a única forma possível de celebrar alguma coisa no dia do Senhor.

No entanto, e concordarás comigo, há um caminho por fazer para valorizar mais as “igrejas domésticas” e está ao nosso alcance uma excelente oportunidade que, se calhar, por mais que fique bem dizer que é a hora das igrejas domésticas, não estamos a aproveitar de verdade.
Há muito caminho por andar.
Faço votos de que estes tempos nos ajudem, ao menos, a descobrir o verdadeiro valor da Eucaristia e o verdadeiro valor das igrejas domésticas.

Anónimo disse...

Aproximam-se muitos "bons" tempos. No Quebec-Canadá, antigo baluarte católico, fecharam ou mudaram de função mais de 400 igrejas na ultima meia duzia de anos.

Anónimo disse...

Tomáš Halík, "O Tempo das Igrejas Vazias".

JS disse...

Eu aproveitava ainda para valorizar o assistir à missa pelos media ou redes sociais.

Certo, não é a mesma coisa; mas é qualquer coisa.

Quanto à questão da assistência activa, penso que o primeiro comentário (da Nina) é bastante elucidativo.

Mas mesmo o assistir passivamente, esparramado na poltrona, tem as suas virtualidades.

Pode-se, por exemplo, seguir bem mais atentamente as leituras bíblicas do que na igreja, onde os motivos de distracção são mais que muitos.
Ou acompanhar melhor o que se passa no altar e os gestos do sacerdote, algo que a maior parte da assembleia não consegue ver com nitidez por causa da distância e de alguns obstáculos.
Ou reparar em motivos arquitectónicos e detalhes dos objectos de arte focados pelas câmaras, que por hábito ou mais uma vez pela distância passam despercebidos aos presentes.
Ou dar mais atenção à homilia e às orações conduzidas pelo celebrante, quando na paróquia o padre já está Há muitos anos e o povo entrou na rotina de ouvir sempre o mesmo tipo de discurso e de tom de voz.
Ou sentir-se atraído pelos cânticos escutados, sobretudo se na paróquia o repertório é limitado e a execução deficiente.

Tais experiências podem predispôr e auxiliar o crente a uma participação mais consciente e plena nas próximas vezes em que tiver oportunidade de estar presencialmente nalguma celebração.