segunda-feira, novembro 09, 2020

A santidade dos que não são santos

O dia de Todos os Santos tem destas coisas. Faz-nos pensar na santidade. E toda a gente gosta deste dia. Primeiro, por ser feriado. Mas depois porque a piedade popular gosta de santos, devoções, ermidas e coisas ligadas aos santos das suas devoções. O que é bom. Muito bom. Mas que, nalgumas ocasiões precisa de uma certa purificação. Digo-o porque me parece que muitos dos nossos cristãos pedem muita interceção aos santos canonizados e pouca a Deus, mesmo que através desses mesmos santos. E também o refiro porque sei, pela teologia, o magistério da Igreja e, sobretudo, pelo meu próprio entendimento da fé, que a santidade é a nossa vocação universal. Não a santidade dos santinhos. Mas a santidade do dia-a-dia. 
Os santos dos altares são estímulos para a nossa santidade. Mas também eles viveram como nós, na fragilidade dos dias. A santidade não é nem uma conquista nem um prémio. Não é uma conquista que fazemos, nem um prémio pelos nossos méritos. Não é uma moeda de troca com Deus. É caminho para Ele. É comunhão com Ele. É a busca de nos configurarmos com Cristo. Como dizemos na Eucaristia, é a vida que procura viver “por Cristo, com Cristo e em Cristo”. Por isso não é privilégio de alguns, mas um dever de todos os seus discípulos. Ser santo é, aliás, na minha maneira de ver, a única maneira de ser verdadeiramente cristão. 
A solenidade de Todos os Santos serve para honrar e recordar todos os santos. Mas serve, acima de tudo, para nos recordar que todos somos chamados à santidade. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "O Carlos que é meu sacristão"

6 comentários:

Anónimo disse...

Quando era criança imaginava os santos como personagens esquisitas: pouco asseadas nas vestes, pouco simpáticas no relacionamento com os outros... e por ai adiante. Eram santos que não me atraíam mesmo nada e, verdade seja dita, algumas histórias destes eram em parte a causa da minha antipatia. Entretanto, veio às minhas mãos um livro de Santa Teresinha do Menino Jesus, a Santa da Infância Espiritual, que veio mudar a minha concepção dos santos. Os santos são filhos de Deus! Isto é para mim o mais importante. Na infância aprende-se a caminhar...caindo... levantando. Por vezes os trambolhões são difíceis mas a mão e a voz do pai, da mãe estão ali encorajando ...upa ...tu és capaz. Na vida espiritual é assim mesmo... cair, levantar e há sempre a mão estendida daquele que pacientemente aguarda o regresso dos filhos "pródigos"! Nas minhas quedas, por mais aparatosas que elas sejam há sempre dois braços à minha espera, só tenho de me deixar abraçar por eles. Desculpa, Padre Confessionário se desviei do tema.

Confessionário disse...

10 novembro, 2020 09:04,
Não desviaste do tema. Complementaste. E eu gostei de ler.

Anónimo disse...

Sou de opinião que, por causa das canonizações de alguns santos, muitos cristãos não se achem dignos de serem santos! O problema está aí.

Ailime disse...

Boa noite Senhor Padre,
Assim entendo também. Todos somos chamados à santidade. E aquelas pessoas que praticam a santidade, mas não são crentes? Como é que a Igreja as vê?
Ailime

Confessionário disse...

Ailime,
Não podes confundir santidade com bondade! Assim como também não se pode dizer que a santidade se pratica. A santidade não é necessriamente fazer o bem.
A santidade é o caminho para Deus e para a comunhão com Ele. Por isso é sempre um caminho e não uma prática.

ab

Ailime disse...

Boa tarde Senhor Padre,
Tem razão. Houve precipitação da minha parte ao escrever a prática da santidade. Não era isso que deveria ter escrito nem queria dizer. Depois arrependi-me de não me ter expressado de outra forma. E fiz confusão, sim! Não se pode confundir bondade com santidade, mesmo que as pessoas deem quase a vida pelo outro e estava a referir-me a alguém em concreto.
Peço desculpa e agradeço a sua atenção e paciência.
Ailime