O substantivo ou adjectivo, como lhe quiserem chamar, não é da minha autoria. Chamam-se ultras àquelas pessoas que, por algum motivo e em determinado aspecto, são extremistas ou radicais. Ouso chamar ultras àqueles católicos de uma ala extremamente conservadora e que têm atacado veementemente o Papa Francisco e grande parte das suas opções, posturas, discursos e documentos, indiciando que estão contra a doutrina e contra a Igreja.
Os ultras são, na sua maioria, gente que gosta de se pensar como uma elite. Cardeais, ou parecidos, que adoram longas caudas e longas vénias, vestes bordadas e de marca, autênticos príncipes e princesas da Igreja instituição. Padres e quase padres, ou leigos que parecem mais que padres, e citam de cor o catecismo, Tomás de Aquino, documentos e papas de séculos passados. Os argumentos são quase sempre citações ou passagens da história caducada. Também citam a Bíblia, como arma de arremesso, porque a Bíblia diz assim e assado. Porém, apenas utilizam passagens e versículos que justificam, literalmente, as suas investidas. Parece gente formada. Mas é mais enformada que formada. Mais manipulada que formada. Aliás, utiliza muito esse estratagema da manipulação. E segue líderes interesseiros que não estão dispostos a perder o seu status quo. Gente que se acha dona do Espírito Santo e sabe a vontade de Deus, em primeira mão.
Arrogam-se o direito de atacar quem quer que tenha opinião diferente da sua ou que ponha em causa a pretensa doutrina ou as normas morais. Nem que seja o Sumo Pontífice. Ou seja, o responsável máximo da mesma Igreja que tanto defendem. São integristas, donos da verdade, e veem inimigos em tudo e em todos. Porque todos os outros são impuros. Não fazem parte do grupo dos puros. Vade retro.
São católicos que estagnaram numa fase da história da Igreja que já lá vai, mas que querem ressuscitar. Na esperança de que haja uma nova ressurreição. Não a de Jesus. Mas a da Igreja que desfaleceu. Gente que não quer ver os sinais dos tempos e se sente ofendida que alguém o faça. Gente que se acha a mais católica do mundo e que faz juras de fidelidade à mãe Igreja. Na sua boca, fica-se, muitas vezes com a sensação de que é Deus que serve a Igreja e não a Igreja a Deus.
Gente que me faz lembrar os fariseus hipócritas do tempo de Jesus que viviam para cumprir coisas, rituais, preceitos, sem que isso interferisse realmente no mais íntimo das suas vidas, o coração. Conjunto de gentes que gostam de se chamar comunidades, embora sejam mais guetos fechados sobre si mesmos, que vivem mais para manter as crenças dogmáticas do que a simplicidade da fé e do amor salvador e misericordioso de Deus. Gente que é capaz de adorar a Deus, mas não tenho a certeza de que O amem.
5 comentários:
Muito bom, bem assim mesmo, por isso penso que Deus não irá, me repudiar,por não ser tão ligada ao um catolicismo,desta maneira e tenho com respeito a fé. Meu Deus é puro sem dogmas. Muitos rezam e por rezarem, mas poucos sabem de verdade o significado da reza em si.Usam de títulos e rituais que pouco agradam ao Cristo Redentor. O amor de Deus é imenso que até tem Piedade destes preceitos. Zilda
Concordo plenamente contigo Padre. Mas vi hoje de manhã este cartoon e deixou me a pensar....
SL
https://www.facebook.com/1742480319366323/posts/2407320176215664/?substory_index=0
Boa tarde Sr. Padre,
Um texto que fala de uma realidade que me atordoa.
Eu acho (e quem sou eu para achar), que os Ultra se adoram a si mesmos.
Jesus vivia na maior simplicidade...
A Igreja precisa de pessoas arrojadas como o Papa Francisco para seguir em frente e tentar recuperar os membros do rebanho que continuam a tresmalhar-se, que continuam a não ouvir o grito do Pastor.
Desejo-lhe uma boa semana.
Ailime
padre, é a "religião do eu" de que falou o Papa.
Podes ver aqui: http://www.ihu.unisinos.br/593856-a-religiao-do-eu-e-o-rosto-dilacerado-da-amazonia-segundo-o-papa-francisco
Somente verdades que o senhor escreveu! 👏👏Deveria divulgar em outro meio!
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