Regressei, há pouco, de duas missas dominicais, celebradas com o intervalo de cerca de vinte minutos e quarenta quilómetros. Participaram nelas um total de vinte e oito pessoas. Contei-as, porque é fácil contar estes números. Para ser mais concreto, treze numa e quinze noutra. Duas paróquias distantes uma da outra, mas unidas em similar realidade. Numa, o coro é uma senhora que repete sempre os mesmos cânticos e o leitor não varia de semana para semana. Na outra, variam os leitores, embora pouco, mas não varia a idade dos presentes, muito acima dos setenta anos. Por mais que insista, as pessoas ocupam harmonicamente a igreja, um aqui, outro ali e outro lá ao fundo. Dispersos, mas para que mais bancos da igreja sejam ocupados, digo eu. Sempre se pode dizer que havia gente em dez bancos. Terminei a manhã com a missa na minha paróquia maior. Valeu para sentir que valeu. Eu sei que aquela gente das paróquias mais pequenas não pode nem deve ser abandonada. Sei que cada eucaristia vale por si mesma e que possui a dignidade que Cristo lhe conferiu. Sei que as assembleias cristãs não deixam de ser assembleias por terem pouca gente. Aliás, gente que merece escutar a Palavra de Deus e alimentar a fé. Só não sei como manter isto, no meio de outras tantas paróquias!
14 comentários:
...pois, e na Amazónia milhares de pessoas à espera de padres e de missa!
Olha Padre, com a manhã de domingo que descreveste podia dizer que és o meu Padre! Com duas missas em Paroquia pequenas que distam dos mesmos Kms e do mesmo tempo de intervalo, finalizando a manhã com celebração na paróquia maior. Eu estive naquela com 13. A única na casa dos 40 é com menos de setenta! Como sei que não és o meu Padre.... Nao desanimes que não estás sozinho! Estou consciente que mais ano menos anos as celebrações dominicais vão acabar na minha paróquia... Ou a Igreja tomo um rumo diferente e consegue cativar um número maior de candidatos a sacerdotes ou estas pequenas comunidades vão acabar por serem "mortas".
E eu vou acabar por "morrer" um pouco por arrasto... Embora saiba que a culpa não seja tua, nem do meu Padre. Fazem com certeza o melhor que podem...
SL
- na aldeia dos meus avós já não há padre nem missa. Há celebração da palavra. Em termos de preceito, fica cumprido, mas meu Deus, como falta espírito, ânimo, alegria, Vida,... naquelas celebrações. É como alguém ir servir uma refeição e limitar-se a despejar uma sopa num prato limpeza duvidável. Cumpre-se o preceito, mas fica um amargo na boca e tristeza na mente.
- na paróquia dos meus pais ainda são bastantes fiéis, ainda que sobretudo velhos, mas são sempre os mesmos a fazer tudo: leituras, cânticos, flores, toalhas, catequese, tudo. E nada muda e nada se inova. Os novos não se deixam cativar. Os velhos não os sabem cativar.
- na minha paróquia na cidade grande há pequenos, jovens, novos e velhos. Há igreja cheia. Muitas missas dominicais desde manhãzinha a quase noite. Há lista de espera para a catequese e grupo de jovens. Há falta de salas para tantos catequizandos.
A minha esperança? Que desta fartura nasçam vocações para irem colmatar as faltas e falhas nos outros sítios.
Peço-te que não desistas, não te deixes abater pela escassez, onde dois ou mais se reunirem em nome d'Ele, Deus estará no meio. Quem sabe um dia isto muda?! Para melhor!
Caso soubesse fazer contas à vida, teria ficado fã do acontecido. Como tenho um problema com números, corro o risco de me tornar tremendamente repetitiva, ou seja, de tocar sempre na mesma tecla. Imbicando ou não, entre tanto número de numerosa matemática, equaciono a natureza do sermão. Sendo o senhor Padre, um simples humano, adverso a milagres da multiplicação, interrogo-me se o futuro será o nada, entre tão pouca gente e tão vazios bancos. Quanto ao alimentar a fé, comida semi-preparada e micro ondas. Com a barriga vazia, a fé desfalece. Que tal um mega pic-nic, no âmbito doi religioso? Nem será preciso marcar um porco. Experimentar soluções já testadas é caminho. E com a barriguinha atestada, tudo se torna mais simples. Pressupondo, vamos a contas?!
15 outubro, 2019 12:45
então a solução, na tua opinião, seria fazer mega pic-nic todos os domingos?
Aqui o que está em causa, verdadeiramente, não é uma solução para igrejas vazías, mas uma solução para paróquias sem gente, vazías, sem recursos humanos que assegurem o que devem ser como comunidade onde se celebra, aprende e vive a fé!
Isso seria um excesso: a fé não se alimenta apenas aos domingos.
15 outubro, 2019 18:22
Essa poderia ser uma das soluções: passar a celebrar durante a semana nestas comunidades, e fazê-lo com a mesma intensidade de uma missa dominical. Isso eu já faço, mais ou menos, nas chamadas anexas. Mas o peso do termo "paróquia" tem grande peso!
Nada que um novo livro de canto não resolva, chega de coros, coloquem ritmo no louvor.
A paróquia de Oriximiná, perto de Óbidos da Amazônia tem 100 comunidades. Se fosse em Portugal seria 100 paróquias? Costumes. Paróquia é rede de comunidades, conversem com o povo e mudem os nomes e jurisdições. Sim, bispos vão perder números de paróquias e ganhar números de pessoas.
Se as pessoas partilham, a fé e o café fica vivo, não importam os números. Mas as crianças precisam de mais....
16 outubro, 2019 13:09
Sim, se fosse em Portugal, o mais certo era serem paróquias.
Concordo imensíssimo contigo. Na minha diocese estamos a trabalhar possíveis Unidades pastorais, mas creio que o caminho vai ser longo e difícil. Mais por culpa de padres que de leigos. Todos temos tendência a manter o que "sempre se fez assim"!
16 outubro, 2019 13:04
Não é possível fazer essa alteração onde não há pessoas para a fazer!
Padre hoje em dia existe um grande afastamento das igrejas por parte dos mais jovens, não sei o que os leva a afastarem-se, talvez o chamamento não esteja a ser feito de forma eficaz?. mas algo terá que se fazer, pois o final pode estar próximo, e depois lá vem a narrativa do Rico e Lázaro.
Também isso me preocupa, Augusto. Porém, nestas comunidades, nem sequer há jovens!
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