sábado, julho 06, 2019

A resposta

Estava num retiro para sacerdotes, num momento especial, diante do Santíssimo Sacramento exposto. Com base numa passagem do evangelho de João, lá para o final do mesmo, quando Jesus pergunta insistentemente a Pedro se O amava, eu fazia ao Senhor a pergunta com que comecei este retiro. Que queres de mim, Senhor, quando eu próprio não sei bem, muitas vezes, o que quero? Confidencio, com pudor, que esta pergunta tem sido recorrente nos meus últimos tempos, cansados, inquietos, expectantes. Perguntava e tornava a perguntar ao Senhor, sem obter um sinal que me satisfizesse. As luzes não aumentavam nem diminuíam. Não havia sinais na rua. Nem coisas extraordinárias a acontecer. Só havia silêncio, sobretudo no meu coração. 
Nisto, um sacerdote, de idade avançada, dirigiu-se a mim, de entre os vários sacerdotes presentes, perguntando e pedindo se o podia confessar. Levantei-me prontamente e afastámo-nos os dois para um local mais recôndito. Não tem propriamente interesse o conteúdo desta confissão. Mas eu fui, durante a mesma e aos poucos, edificando-me com a virtude daquele homem que entregara a sua vida ao Senhor e que agora, com falta de saúde, em sofrimento, quando as capacidades já não lhe permitem muito, continuava a entregar-se de uma forma que eu não consigo explicar ou definir. Acabada a confissão, levantámo-nos e foi cada um para seu lado. Ele foi para diante do Santíssimo exposto e eu vim a correr para o quarto de modo a esconder as lágrimas no rosto. 
Não sei se foi a resposta do Senhor e ou se foi a resposta que eu esperava. A verdade é que me senti instrumento da misericórdia de Deus. No meio de muitos outros sacerdotes, com certeza mais dignos que eu, este padre escolhera-me a mim e eu fora um pequenino instrumento de Deus. Como disse, não tenho a certeza de que tenha sido a resposta à pergunta que, insistentemente, fazia ao Senhor. Ou até sei. Talvez não saiba como a dizer. Mas sempre posso dizer Obrigado, meu Senhor. Ofereço-te esta lágrima feita de amor.

9 comentários:

Anónimo disse...

Pra ti dizer as minhas lágrimas, não resistiram só rolar contigo. Também preciso entregar todos dias a Senhor minha vida. Chm

Anónimo disse...


Para si a minha admiração incondicional pelos belissímos textos com que tão generosamente nos presenteia. Quanto a este, igualmente tão perfeito, posso confessar que «A Resposta», seja ela qual for, aqui por estes lados é um desdobrável com a bússola quebrada e, consequentemente, avariada. Quem busca «A Resposta», «A Herdeira», «Seja o que Deus queira», talvez encontre, mas eu, infelizmente, só encontro «As Respostas» e tantas, tantas que até me incomodam. Conhece a história da «Cinderela»? Havia um sapatinho de cristal (veja só que desconforto) que só a ela servia. No que tange a esta Incinderela, as coisas piam mais fino: respostas são o que mais encontro e todas elas com calibre para a «Resposta». Perante isto, serão todas elas respostas certas, ou apenas uma é a verdadeira? As respostas são o correspectivo da pergunta, pelo menos deviam ser. Ora, há tantas perguntas, como poderemos restringir as respostas. É claro que para fazer a identificação de umas e outras não basta colocar no termo um ponto de interrogação e no início um travessão, convém ir além da forma.
Tudo só para dizer que, não leve a mal, mas o Sr. Padre necessita muita de uma barrela, de se clarificar. Eis o que penso.
Despeço-me com consideração e estima e com fé de que, um dia, não muito longe, não muito perto, irá estar pronto para responder com convicção. De forma clara, certeira, inteligível,transparente. Fica ao seu critéio acrescentar aqueles todos os mais adjectivos reveladores da verdade, seja lá o que ela for. Bem, pode ser a verdade da fé.

Já me despedi...?
Mais cumprimentos.

Confessionário disse...

09 julho, 2019 11:44

Gosto muito dos seus comentários. Sempre incisivos e obrigam a reflectir.
Essa da barrela tem que se lhe diga. Heheheh
mas, de certo modo, e na verdade, tenho muitas certezas e muitas inquietações!
Há uma Igreja que sonho (ainda faço um poema que comece assim!!! hehehe)

Anónimo disse...

Muito obrigada, Sr. Padre, as suas palavras servem-me de incentivo. Em breve escreverei um poema também. Entusiasmou-me. Poderá ter esse mesmo titulo ou soará a contágio?

Confessionário disse...

pode ter o mesmo título...
aliás, este título deve existir aos milhares
força na poesia

Anónimo disse...

Há muito que não o comentava, mas este seu post...tocou-me especialmente (atenção, não sou padre, sou leigo :-))
Muito obrigado pelas suas partilhas.
Abraço
João

Beli disse...

muito bonito tocou-me ...............porque eu sou uma pecadora assumida ..
mas tenho a certeza absoluta Que Deus fala com agente no momento que agente mais precisa ..não como agente quer é preciso estar atento e ter sempre mas sempre o coração disponivel para entender -----------mas é maravilhoso e por vezes comovente
abraço Amigo
Beli

Ailime disse...

Boa tarde Sr. Padre,
Um texto muito belo escrito com o coração inquieto de quem a ama a Deus, apesar das interrogações.
E que bom que é quando o coração lê os sinais de Deus. Uma lágrima cai... Será a Resposta? Creio que sim e pecadora me confesso, que tal ouso deixar aqui escrito.
Abraço.
Ailime

Anónimo disse...

Lindo texto. A sua simplicidade e humildade são comoventes, Sr. Padre.
Sabe, às vezes é bom para nós, leigos, percebermos e lembrarmo-nos que os sacerdotes são, por vezes, como nós, com dúvidas e inquietações próprias do ser humano.
Rezo por si.