quarta-feira, junho 12, 2019

Ser leigo na Igreja

Ante a minha admiração já desconfiada, num encontro de gente com responsabilidades na comunidade cristã, os chamados habitualmente de “leigos comprometidos”, à pergunta sobre se sabiam o que era um leigo, as respostas não foram muito consistentes. Sabiam que eram leigos na Igreja e que isso os designava, pois já o tinham ouvido imensas vezes, mas não sabiam o que isso significava na essência. Houve mesmo quem respondesse com aquilo que refere, mais ou menos, o dicionário de língua portuguesa: o leigo é alguém que sabe pouco de um assunto. Não sabiam sequer, e por exemplo, que, na linguagem eclesiástica, o leigo é um não clérigo. Ou seja, faz parte daquela imensa maioria de cristãos que, muitas vezes, ainda permanece passiva na missão que Jesus deixou à sua Igreja como sacramento da salvação. Recordou-me, infelizmente, a postura piramidal da Igreja desde tempos da Idade Média ou desde, particularmente, o concílio Vaticano I. Que pena! 
Pode parecer que estou a entrar em águas pantanosas e que a teologia não é para aqui chamada. De modo algum. Escrevo como penso. E tenho muita pena que a maioria dos cristãos não saiba sequer o que significa a designação que lhe é atribuída por nós, os clérigos. Assim como me repugna, em certa medida, que ainda se pense o leigo no significado negativo, como um não clérigo. Como se o clérigo fosse o lado positivo, e o leigo o lado negativo da Igreja. Não gosto, e ponto final. Mas se podia queixar-me da hierarquia da Igreja, que mantém estas designações, mais me queixo desse número grande de cristãos, inclusive com vivência e prática cristãs - com se costuma dizer – que não tem a mínima noção do que é ser discípulo e missionário de Cristo, dentro de uma Igreja que é, acima de muitas coisas, Povo de Deus. Eu não quero leigos que substituam os padres e se tornem, eles próprios, uns padres em miniatura. Quero leigos com a grandeza e dignidade que lhes é conferida no baptismo e que se assumam plenamente como Igreja corresponsável.

9 comentários:

Anónimo disse...

Padre, também quero o que quer...
Mas há muitos velhos do Restelo na Igreja...
;) VL

Anónimo disse...

Disse tudo meu padre, abraço

Anónimo disse...

Em alguma altura da sua vida foi leigo, recorda-se? Mesmo que não consigamos encontrar mais nada, esse ponto temos em comum. Todos nascemos «Homem». Questiono-me se Cristo – Sacerdote Supremo, era padre ou leigo. Talvez fosse apenas Cristo, Filho do Homem, coisa que também nos toca a nós, filhos dos Homens (na acepção Bíblica, de Adão e Eva). A piada disto é que Cristo, filho de Deus, intitula-se «Filho do Homem», que assim à primeira vista seria José. É evidente o desejo de não ferir susceptibilidades: colocada Deus e José em cada um dos pratos da balança. Sendo Deus do Alto, é o prato com José que aparenta maior peso, o que demonstra como na vida tudo é relativo. José que era pai, não seria padre. Cristo que era Filho, era sacerdote Supremo… seria leigo? Não era pessoa para ligar a essas coisas, o que diz tudo ou muito de si. De qualquer forma, o mundo é sacro e secular em simultâneo, caso queiramos advogar uma política de integração. Somos comunidade, se uma comunidade fraterna. Se Cristo veio para servir, se o amor é serviço, todos estamos ao serviço uns dos outros, sobretudo dos que mais precisam de ser servidos. Temos de nos capacitar que as nossas capacidades foram-nos concedidas para servir. Esta é uma forma de nivelar. Nós os cristãos, na nossa dignidade de serviçais, temos de estar prontos a servir a qualquer hora, sem reivindicações sindicais ou salariais ou guerrilhas de classe. Se desconfiarmos uns dos outros, não podemos desempenhar condignamente a função de serviçal. Quando o Sr. Padre chama a «desconfiança» à colação, parece querer libertar-se do serviço, esquecendo-se que o mesmo não é facultativo mas obrigatório. Infelizmente, a desconfiança entre clérigos e não clérigos tem raízes muitíssimo antigas, difíceis de combater. O Sr. Padre ficou atónito, mas não devia, ou devia, consoante o ponto de vista. Mas a desconfiança não deve ser algo que se retire do interior da cartola enquanto se faz um qualquer número para deleite da plateia. Se o mágico quer retirar um coelho, é um coelho que vai puxar da cartola, basta algum treino e a convicção acirrada. É a chamada força do pensamento, de um lado, e a expectativa do outro. Claro que esta é uma mera analogia, destinada a ilustrar a relação clérigos / leigos. As leituras que cada um faz são o resultado de múltiplos factores, bastante intrinados. Por isso, as expectativas podem defraudar. São sempre as expectativas que defraudam, nunca as promessas. Se espero um coelho, é um coelho que vou ver, mesmo que esteja a olhar para um elefante ou que seja um leão que vem a correr direito a mim. Os leigos não são «lebreigos» são tão leigos como os clérigos (embora estes vistam outra capa por cima) porque Deus não faz acepção de pessoas. Os clérigos militam é numa organização diferente e, por isso, estão adstritos a outras regras, vindas directamente lá de cima. Mas não são «transformados» em seres humanos distintos por força de um golpe de mágica. E depois não estamos todos sujeitos a regras e a obediências? Primeiro aos pais, depois ao professores, aos patrões, aos «clientes»… por aí fora. Por isso, Sr. Padre, permaneça assim, nessa condição, como filhinho preferido de Maria, e, com o maior respeito por todos os leigos, trabalhe para o bem comum, paramentado ou não paramentado, sempre servil, com um sorriso no rosto, como todos nós, porque essa é a condição que melhor o define. Aproveito apenas para por uma cunhazinha, por favor, uma novena, por mim, pelas minhas melhoras, se faz o favor, a quem está mais bem colocado.

PS – Isto por aqui anda um bocado parado, não acha? Podia imprimir uma dinâmica diferente ao Blog. Antes era tão participado, sempre se trocavam algumas ideias! Felicidades.

Confessionário disse...

13 junho, 2019 15:00
A desconfiança em causa não é o desconfiar dos leigos, mas o desconfiar que a resposta dos leigos, naquela ocasião, seria a que deram!
Quanto ao resto, estamos em grande concordância.

Sobre a tal dinâmica... pois, não sei. O nº de visitas mantém-se como habitualmente. Se calhar os temas/textos causam menos debate, interesse, reflexão. Não sei! Hoje as redes sociais mandam nas pessoas e é nelas que as pessoas dedicam os seu tempo e o seu espaço opinativo. Talvez hoje os blogues (sobretudo este tipo de blogues religiosos) não sirvam esses propósitos. Nem sei se teriam ou deveriam servir

Anónimo disse...

Verdade, Sr. Padre, as redes sociais a mandar e a dispor... se soubesse como sou contra isso! Depois chegamos aqui, um local com tanta qualidade, onde apetece estar, e as pessoas fecham-se! Temos que lutar contra isso, não se deixe vencer pelas contrariedades e p. f. nunca cruze os braços.

PS. Não se esqueça da novena, tá bem?

Anónimo disse...


Sardinha com broa

Hoje vinha tão alegre pelo caminho
Ouvira rir Santo Antoninho
Quando menino e roliço
Mas logo cessou o buliço
Vi melhor era meu rico prior
Cuspira seu dente postiço!


Gostou?



Anónimo disse...

Gostei do anônimo do dia 13 as 15hs, tu tens sim uma bagagem extraordinária, eu já me senti nessa vontade mas foi ótimo

Anónimo disse...

Comungo da sua ideia e sensação de que falta tanto ainda para se "cumprir a Igreja"!
Acho que a própria hierarquia tem sido um dos principais muros para isso.

Anónimo disse...

Tudo muda, tudo renova passou de horas de renovaçães a' igreja.