A mãe é uma senhora já entradota, reformada do emprego mas não da vida, com dois filhos já crescidos, um rapaz que se separou da nora há uns tempos, e sofre, o coitado, e uma mãe de um neto maravilhoso, do mais bonito e inteligente que pode haver para uma avó.
Chamei-a de mãe, sobretudo por causa da filha que ela diz ser especial. Tal como o neto. Mas especial por dentro, sabe padre. E sempre assim foi. Não posso esquecer quando ela tinha quatro anos, repare. Fazia uma pausa, pedia para eu reparar. Ou seja para a olhar em cada palavra que ia dizer e cada sílaba que ia soletrar. Repare, padre, que a minha filha tinha quatro anos. Estávamos na Lagoa de Albufeira, de férias. Chamara-a várias vezes para almoçar e não respondia. Nem se mexia. Fui ter com ela. Olhe, só me parecia que estava fora do tempo. Abstracta. A olhar o mar. Abanei-a com a mão direita por cima do ombro esquerdo. Não me ouviste, rapariga? Já te chamei três ou quatro vezes.
Ó padre, ela olhou para mim com aqueles olhos lindos, que ainda hoje tem, e respondeu-me. Estava a ver Deus na sua grandeza… Ai padre, ainda hoje conservo nos ouvidos aquelas palavras do tamanho do mar…
3 comentários:
tão bonito..muito bonito
fez- me lembrar quando era miúda a minha mãe teve um problema grande na vida
andava apanhar erva para os coelhos diz que de repente olhou para o lado viu a rainha santa ao lado dela ..(ficou cravado em mim até hoje) terei a idade que a minha mem tinha na altura
desculpe a comparação
saudações amigas
Tão bonito de ler!
Um texto muito belo, como bela foi a expressão dessa menina com quatro anos!
Só mesmo a grandeza de Deus para a iluminar.
Boa tarde.
Ailime
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