segunda-feira, fevereiro 11, 2019

A carta de um filho ao seu pai que partiu.

Chorei. Chorei porque as palavras me tocaram naquela parte de nós mesmos que chora, aquela parte íntima que não tem como se dizer. E depois chorei, ao pensar que na minha partida, os meus filhos não se vão despedir de mim, não me farão cartas bonitas destas. 
Era uma carta de despedida de um filho ao pai que partira por causa daquela maldita doença do cancro. A mesma que seis meses antes lhe levara a mãe. Gente com idade pouco acima dos cinquenta. Tudo ocorreu demasiado rápido, para que pudesse assimilar tanto sofrimento. Por isso descarregava na sua carta de despedida o que sentia. Passados três meses da mãe partir com muito sofrimento, os médicos haviam dito que o pai não tinha escapatória. Mas o filho tivera a oportunidade de dizer adeus ao pai naquela hora em que lhe apertou a mão e partiu. Fui tudo, apesar de doloroso, muito bonito. A beleza das coisas que nos ultrapassam no mistério. Vinham do médico e faziam uma série de quilómetros para chegar a casa. O pai estava, obviamente, esgotado e à base de morfina. Como dormia, não pararam na estação de serviço, como tinham previsto. O pai dera conta e pediu que parassem na seguinte. Esperou uns bons cinquenta quilómetros, e quando pararam, enfim, para descansar, o pai chamou os dois filhos que iam no carro, e disse o adeus mais bonito, ao agradecer o que eles tinham sido para ele. E partiu. No final da carta, o filho dizia, como testemunho de quem sofreu tanto em tão pouco tempo: “Não se zanguem. Não odeiem. Perdoem. Sorriam. Dêem. Partilhem. Digam que gostam. Abracem mais. Amem mais”. 
Grande filho que presta uma homenagem tão bela aos pais. Chorei. Por eles. Por tantos como eles. E por mim, porque gostaria de que um dia, alguém como um filho, me homenageasse de igual modo.

14 comentários:

Idalina disse...

Há padres que tocam as vidas das pessoas com quem se cruzam, tanto ou mais que um pai e um filho e que, seguramente, no momento da partida, mesmo que não seja visível ou em público, serão homenageados com a mesma saudade, com o mesmo amor que um filho dedica ao seu pai.

Anónimo disse...

Não consegui intelegir tudo o que conta de uma forma tão verdadeira e sentida pois a emoção arrebatou o meu ser. Senti-me uma ínfima criatura, emoldurada num retrato de frustração violenta e de dor contida. Estas dores não são quaisquer dores: são dores à séria, não meros caprichos.
Dores que têm um impacto violento e que se arrastam durante anos e anos deixando atrás de si rastos de destruição e ruína. Não se pode ser simpático perante a dor nem com a dor, com a dor estamos em guerra. Por isso fiquei comovida com a sua sensibilidade em situação limite. O luto que visivelmente fez no seu coração. A forma carinhosa como recebeu essa história de vida e morte (V&M). O testemunho que reproduz palavra por palavra. Sobretudo este: tanto em tão poucas palavras. Fortes, vindas de um coração verdadeiro no momento em que se antevista aquela por quem esperamos sem querer esperar. Em caso de V&M a homenagem devia ser sempre à saúde. À saúde da vida ou à saúde da morte, parentes próximas, filhas de um mesmo pai e de uma mesma mãe. Cheese! À V&M, Lda.

Servir com Alegria disse...

Não chores se me amas (de Sto. Agostinho)
"Não chores se me amas
se conhecesses o mistério imenso
do Céu onde agora vivo
não chorarias se me amas...

Já estou no encanto de Deus
de Sua beleza sem fim...

Lembra-te dos bons momentos
que vivemos juntos e verás
que a saudade é também presença.

Quando estiveres triste, infeliz, chama-me
e eu virei ajudar-te, consolar-te e verás
como é bom ter um amigo do Outro Lado.

E quando chegar também a tua vez,
não chorem os que ficam, porque
não será um adeus, mas,
simplesmente um até à vista e
eu estarei lá, para te receber..."
Os Santos e Anjos que nos iluminam, e todos temos a homenagem que o Pai nos Ama a todos, e estamos juntos com Ele. Este caso foi comovente, nesta vertente psíquica, e quantos existem com grande indiferença, e mesmo abandono.
Por não ter filhos carnais, tem os espirituais e muitos e com muito Amor. Muita força nestes momentos de Solidão e afastamento. Deus é Pai.

Anónimo disse...

Ó Sr. Padre, diga-me o que faria se estivesse no meu caso. Por todo o lado se vêm coraçõezinhos foleiros, a televisão a anunciar e o meu namorado esqueceu-se de que hoje era dia de S. Valtim! Arranjo outro?

Anónimo disse...

Sr Padre se sente falta de um filho...Adote uma criança e a faça seu filho!
Tem muitas crianças que vivem em lugares insalubres.
Adote uma!
Eu não quero casar, e não posso ter filhos. Mas irei adotar quando for a hora certa!

Ailime disse...

Boa tarde Sr. Padre,
Um texto cujo conteúdo me emocionou.
Que dizer? Fico sem palavras.
Ailime

Beli disse...

gostei muito ...li com emoção que lindo
ate eu chorei Mas Sr Padre fiz o mesmo pelos meus pais os meus pais fizerem o mesmo pelos d"eles disse tanta vez não é preciso ir levar flores ao cemiterio .........mas foi la sempre ate foi ver levantar as ossadas, verddade levei uma toalhinha branca para embrulhar o resto e ficou la .............Mas Sr Padre não tenha pena de não ter um filho assim eu tenho 2 que Amo de mais tenho 4 netos que adorrrrrrrrrrro por quem dava a minha vida ...mas não vou ter nenhum que me faça nada..............nem em vida Por isso quero sr cremada para acabar ali o assunto

Anónimo disse...

Cada vez fico mais triste por ter que conviver diariamente com pessoas, neste Mundo de Deus. As que mais me enervam são aquelas que retiram prazer sádico ao escarafunchar nas feridas. O Sr. Padre a céu aberto, expôs o seu sentir relativamente ao falecido Sr. José. De certa forma ao colocar-se ao lado do falecido, projectou a sua morte na do Sr. José, ou melhor, na reacção da família, em particular do filho. Parece-me uma forma muito natural de lidar com a morte, ficionando-a. Duro é ver como a partir daí o enfoque passa do que temos de mais certo para a questão da filiação e, acima desta, do dever de castidade dos padres.
A um «Padre», exigir-se-ão os atributos de um… «Padre», logicamente. Não de um «mau Padre», mas de um «Excelente Padre». É que entre todos os «Padres» do mundo, os «Srs. Padres» foram os únicos que tiraram o curso antes de serem efectivamente, «Padres». Assim sendo, será coerente perguntar-lhes se conhecem todos os seus filhos. Se sabem os seus nomes, datas de nascimento, gostos e preferência. Se os conduziram ao hospital e ficaram à sua cabeceira e etc. Atenção: tudo isto sem nunca tocar na pensão de alimentos, assunto tabu para qualquer «Padre».
O que me parece - com respeito, aceito sugestões distintas desde que devidamente fundamentadas - é que o exercício das responsabilidades parentais dos «Padres» estão insuficientemente reguladas, na parte das visitas e do onde ficar, escusando-se quase sempre em acolher os filhos aos fins-de-semana, mormente aos domingos. Muito errado. As missas não justificam tudo, ainda que dominicais. Os filhos dos Srs. Padres estão sempre primeiro que qualquer missa.
«Padre» é «Padre», pelo que um «Padre» poderá ter filhos com o dobro e o triplo da sua idade, sendo que, nestes casos, a sua responsabilidade não diminui, ao invés, aumenta. Até à cova, à gaveta. Ou mesmo ao pote. E ainda depois, com as orações, os sufrágios pela alma e tudo o mais, com equilíbrio e adequação.
Peço-lhe que não se zangue por destacar aqui o seu papel de «Padre», de «Pai». Não creio que a expressão «Pai Espiritual», tantas vezes usadas e abusada para definir a «Paternidade» dos padres, seja a mais adequada. Deus é o Pai de Cristo. Poderia ter dito à Virgem Maria, «Eu basto», mas não, socorreu-se de «S. José» para o papel. Se temos um Deus a que aceitamos o «Silêncio» e o «Mistério» e a «Noite» e que assim também se «revela», temos que compreender que isso só é possível a Deus por existirem «Josés», para «completarem» Deus na terra, ou melhor, para o tornarem «visível» na Terra.
Ao que saiba, as «Obras de Misericórdia», são «Espirituais» e «Corporais». Optar pela primeira parte da equação, renegando a segunda, seria como ouvir o nosso contabilista defender que, em regra, que o bom, é o viver com a «balança» deficitária, ou só com uma perna… Ou. dito de outra forma, dizer que o Sr. é um «Pa...» e não «Padre», e que os seus «Filhos» são «Fil...» e não «Filhos». Ou como fez Salomão, propor uma divisão incompatível com a vida.

Anónimo disse...

...
Uma forma simples de tratar esta questão sem mudar a realidade das coisas é alterar-lhes o nome. Os «Padres» em vez de «Padres» seriam nomeados, por exemplo «Testemunhas de ....», à semelhança do adoptado por outras religiões («Curas» seria desaconselhado por ser facilmente confundível com diversos «Santos»).

Acredito que a Igreja, com alguma imaginação, resolve facilmente este pequeno problemas. Promovendo todos os padres a Bispos, por ex., ou despromovendo-os a todos a Diáconos.

Anónimo disse...

Cara anónima do dia 14 de feveriro (21.53):
Achei piada ao seu comentário, meio sério, meio a brincar, e com pouco a ver com o que aqui se trata... Mas devo dar-lhe um conselho, e adianto-lhe que, infelizmente, estou bem habilitada para o fazer: Sim, arranje outro. Não perca tempo a pensar no que passou. A menos que o seu namorado tenha enfiado, acidentalmente, a cabeça no fogão, não tem desculpas!

A si, senhor padre, se é seu desejo ter um filho, arranje um. Não é dificil de fazer e até pode ser bem engraçado! O celibato dos padres é uma coisa inventada pela Igreja para evitar a dispersão do património. É calculista e castrador. Duvido muito que Jesus Cristo se preocupe com esses pormenores. Jesus quer é que sejamos bons e verdadeiros. Que amemos mais e melhor. As sementes boas é que devem ser plantadas!

Anónimo disse...

Anónima, 21/02 – 16h58
Quando redigi o meu pequeno comentário de dia 14 estava ligeiramente entornada, mas foi do dia e do início da noite, demasiado difíceis para uma mulher com as minhas fragilidades, muitas vezes levadas pouco a sério. Presumo, todavia, que a Cara Anónima 21 estivesse terrivelmente sóbria quando escreveu o seu comentário das 18h58, caso contrário nunca se atreveria a aconselhar-me “um outro a menos que…”. Relativiza o absoluto colocando a cabeça do meu anterior namorado no fogão, como se fosse uma peça de carne, espero que a imagem tenha surgido meia a brincar. Para sua informação, adianto-lhe em primeira mão que tenho outro, sim, já lá vão sete dias e sete noites e afirmo-lhe que nunca fui tão feliz. Não sou mulher de ficar de braços cruzados, à espera do que há-de vir, vou à luta. E não foi troca por troca. Esta nova relação está a ser um upgrade na minha vida, nunca ninguém gostou tanto de mim como este querido, nem me disse tantos «I love yous». Está muito acima de qualquer fogão, portanto. A novíssima relação, não os namorados, que como afirmei, para mim, seão sempre dois absolutos. Ainda assim nunca quereria ver o meu anterior acidentalmente com a cabeça no forgão. Sei-me um pouco tolinha mas não sou tão ruim assim. O seu conselho chegou tarde de mais, portanto, mas obrigada na mesma, vou anotá-lo. Para uma próxima poderá servir, quem sabe?

Anónimo disse...

E o que se deve fazer «às sementes más» que por descuido foram plantadas?

Anónimo disse...


"Arranje um filho" tem a sua piada! Este senhor é Padre, não pode arranjar filhos, pois não?!

Anónimo disse...

Isto por aqui é tudo gente muito pia e santa! Nem sei o que fazem num confessionário se nunca tiveram vontade de "enfiar" a cabeça de alguém no fogão!... Almas limpinhas, sim senhor!
Já eu não posso dizer o mesmo. Se soubessem como o desespero nos transforma (a todos!) em monstros!...
Por vezes, a revolta é tanta e tão grande, que quer despedaçar tudo à nossa volta. Uma raiva cega e violenta. O desejo de fazer sentir aos outros a mesma dor, ou uma dor semelhante, à que nos causaram... E trava-se uma luta interior entre estes sentimentos desordenados e a razão. Eu não queria sentir o que sinto, mas sinto. E isso faz doer ainda mais, porque me sinto um ser humano mutilado. Estou aleijada da alma e do coração para sempre. De repente, sou eu que, apesar de toda a dor, deixo de ser a vitima, porque não consigo perdoar, sou eu que arrisco o meu lugar no céu...