quarta-feira, fevereiro 22, 2017

Um Tomé que é cientista

O nome do Tomé não é Tomé. Chamo-o assim em homenagem ao Tomé que necessitava ver para crer. Estudava ciências bioquímicas, e não lhe era fácil compaginar a fé com aquilo que a ciência lhe oferece. Não é que a ciência seja adversa à fé, ou vice-versa. Mas joga com dados provados ou para provar, com matemáticas definidas, com cálculos medidos, com o empirismo que só resulta com as certezas que oferece. O que às vezes esquecemos é que há muitas coisas que a ciência não consegue explicar. Sobram sempre os porquês e os para quês. Mas eu entendo o Tomé. Queria acreditar com fórmulas e com raciocínios. E isso é impossível. Tal como é impossível amar alguém com fórmulas e raciocínios. 
Ah, mas a minha namorada é alguém que eu vejo e toco. A deus, disse ele com letra minúscula, não o vejo nem toco. Ao que acrescentei Só amas a tua namorada quando a vês e tocas? Creio que se calou porque a ama, mesmo quando não a vê ou toca. Mas também sei que o argumento não lhe parecera cem por cento válido, porque reagiu com descontentamento. 
Como a mãe morreu faz anos, perguntei-lhe então se ainda amava sua mãe não obstante não a ver. E respondeu que sim, mas que a vira enquanto estivera com ele, e a deus nunca vira. O Tomé é persistente. Creio que é honesto na sua persistência. 
E num monte de perguntas, insisti. Nunca sentiste que há algo em ti que te ultrapassa e não explicas, mas sentes que é verdade? E porque decidiste amar aquela tua namorada? Donde partiu esse teu desejo que provavelmente não consegues explicar empiricamente? E porque continuas a amar tua mãe sem ver? E como demonstras teu amor sem explicação? Será que a tua pergunta não é fruto dessas coisas que não consegues explicar, mas surgem em ti sem explicação? 
Li em tempos, já não sei onde, que um grande cientista chegara à conclusão de que sempre haveria muitas respostas que a ciência não conseguia dar e que essas só poderiam ser dadas muito para além de nós, do humano e do mundano. O Tomé calou-se, talvez porque quisesse pensar aquelas perguntas. No íntimo acho que vai continuar a duvidar. Contudo, pode ser que um dia perceba que a ciência não explica o que nos move e faz viver.

4 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem!!!
Esta partilha/explicação está brilhante. Ás vezes faltam-nos, a nós cristãos, estas "fórmulas" para sermos persistentes naquilo em que acreditamos, pois amamos sem ver, mas isso é que faz com que consigamos ser verdadeiros nas nossas atitudes e acções.
Compreendo este "Tomé" e precisava desta partilha para muitos "Tomés" que muitas vezes nos questionam, e a resposta que damos não é muito convincente.
Gostei mesmo padre.
Bjs

Anónimo disse...

Nossa! Que reflexão linda. Sempre admirei Tomé. Sim pode ser um Homem ou simplesmente um nome. Mas senti algo que me tocou. Falando. Pois também amo que não vejo e nem toco.Só pode ser coisa de Deus no meu espirito sendo assim comandado. a amar dessa maneira.

Gui disse...

Quantas vezes me chamo Tomé...

Anónimo disse...

Onde anda esse Tomé, gostaria tanto de saber, que quem sabe ele poderia me dar uma explicação dos meus: POR QUÊS. Sendo ele um cientista buscando resoluções de suas formulas.