segunda-feira, setembro 05, 2016

cancro da mãe à porta

Ligou-me para dizer que o cancro da mãe estava com pressa. Se não reagir ao plasma que lhe vão injectar não terá muitas semanas de vida. Dizia ainda que a médica lhe mandara juntar um núcleo de apoio psicológico, caso precisasse. Cresceu sem pai, e fora a mãe quem a fizera crescer. Agora está a partir e não sabe que fazer. Tem o coração pequenino e pesado. Utilizava expressões que me fizeram pensar num daqueles grandes escritores com alma de sábios. Gostava que ela desse um pontapé no cancro, que escolhesse outra porta, que me acompanhasse mais uns tempos. Mas não dá. Claro que não dá. A vida aceita-se. A chamada telefónica fez-me pensar muito no último mês da minha mãe. Um mês de inquietação cada segundo desse mês. Um mês muito doloroso, mas muito especial. Porque foi o último mês que aproveitei da vida da minha mãe. 
Por isso lhe respondi, como sentia, que com tudo na vida aprendemos a viver, e não propriamente a deixar-nos viver ou a sobreviver. A vida e sofrimento da minha mãe ensinou-me coisas que não aprendia de outra forma. E assim respondi. Eu sei pelo que estás a passar e vai doer. Esta é a realidade. Mas não significa que a dor seja maior que tu!

nota: Escrevi este texto pouco depois da notícia que recebeu do cancro da mãe. 
Hoje publico porque faleceu ontem mesmo! A vida é para se viver!

5 comentários:

Confessionário disse...

"rezarei para que percebas o que significa este momento, e para que o Senhor a tenha com Ele. Não fujas do momento. Vive-o apenas! Estes dias são dias tão especiais, que mais convém vivê-los como tal, como especiais!

beijinho de conforto e um abraço apertado"

Anónimo disse...

sem palavras!

Rosa disse...

Não existem palavra,já passei também pelo meu pai,foi mesmo absorver cada momento que nos era concedido, mais um dia,mais um dia e vivê-lo intensamente,com o coração apertado.

Rosa disse...

Não existem palavra,já passei também pelo meu pai,foi mesmo absorver cada momento que nos era concedido, mais um dia,mais um dia e vivê-lo intensamente,com o coração apertado.

Paulina Ramos disse...

Boa tarde!

"Eu sei pelo que estás a passar e vai doer. Esta é a realidade. Mas não significa que a dor seja maior que tu!"
Só percebe a dor quem já a sentiu em circunstâncias semelhantes e esses são os melhores conselheiros.
Sou mãe, tive cancro da mama, acabei de entrar no período de remissão da doença.
Após a leitura deste post só peço a Deus que esteja com o meu filho quando, ou, se esse momento chegar.
Que alguém lhe diga algo semelhante "Não fujas do momento. Vive-o apenas! Estes dias são dias tão especiais, que mais convém vivê-los como tal, como especiais!", pois para amainar a dor não há como aceitá-la como um facto para depois a "domar".
Não adianta iludirmo-nos dói muito mas como tu disseste isso não significa que a dor seja maior do que quem a sente.

Emocionei-me até às lágrimas.