Há ruídos lá fora. Ouça carros a passar e vozes misturadas. Mas não as consigo definir. Parecem apenas melodias da realidade. Eu estou aqui dentro com Maria. Sim, com Maria na passagem que diz “Faça-se em mim a Tua vontade”. Parei nela. Estacionei ali. Por isso estou em silêncio, mas não sem palavras. Não sei como Maria teve essa coragem! Não é apenas um desejo. O desejo de que Deus faça alguma coisa. É abertura. Abertura total para que Deus entre e me preencha todo. Não é vontade de que algo aconteça, com o risco do acontecer que é efémero. Agora acontece e depois deixou de ser no mesmo instante em que deixou de acontecer. É a disponibilidade para que seja, para que Deus seja em mim. Maria tinha essa disponibilidade, que não era apenas para ser instrumento. Era disponibilidade de vida. A minha vida é Tua, como eu quero que a Tua esteja em mim. Por isso este Sim é a fé. Por isso a fé nos faz felizes porque se trata de amor. Por isso quero ser padre. Por isso o silêncio em mim faz mais do que o ruído lá fora.
4 comentários:
O Sim de Maria foi o Sim da Fé perfeita em Deus, de uma entrega total e constante. Foi um Sim para sempre sem saber o que viria.
Um dia um Padre disse-me que ter fé é "dar um salto no escuro, sem saber onde é que vamos cair." Se assim é acho que a minha fé é pouca porque não me sinto capaz de dar este tipo de salto. Mas deve ser maravilhoso viver com esta confiança!
E acho que não devo ser só eu que ando assim. Parece que meio mundo anda como eu. Nota-se que andamos com medo do amanhã, medo do compromisso, medo de entregar-se. Andamos receosos, desconfiados. Resta-nos pedir "Meu Deus eu creio, mas aumentai a minha fé."
Pergunto-me muitas vezes se a resposta e o comportamento de Maria teriam sido os mesmos, se ela fosse uma mulher do séc. XXI. Se o seu “sim” teria tido o mesmo alcance. Se após ter visto, ouvido e falado com um “Anjo”, não teria recorrido a um psiquiatra, que lhe diagnosticaria um surto psicótico ou um qualquer transtorno mental momentâneo, associado à mania de grandeza e ao desejo iminente de ser mãe, encharcando-a de medicamentos e deixando-a de rastos. Ao entrar na primeira farmácia, Maria não resiste e, por via das coisas, juntamente com a receita, avia um teste de gravidez ultra-sensível, que faz logo ali. Como o resultado é positivo, e os milagres são duvidosos, começa a acreditar sim que é mais uma das vítimas da droga da violação. Maria põe as mãos à cabeça, mas logo lhe dizem, para não se preocupar, que é muito nova e que está no tempo legal para abortar. Tem que falar com José. Se ele não quiser, então que seja Deus pai para a criança. Vacilante na fé, mas não no amor. Maria não sabe se há-de chorar ou cantar a sua sorte.
11 dezembro, 2014 12:43
muitíssimo interessante o teu raciocínio
DESINSTALAR. Tantas Marias, Tantos Josés, tantas circunstancias que desinstalam pessoas á nossa volta. Tantas circunstancias que nos desinstalam a nós. CRER, FÉ EM DEUS, RESSUREIÇÃO. Diz-nos a criação, que o nascimento é graça e que a morte do corpo é certa, portanto, abre-te ao inesperado, quanto mais perto do chão melhor, não entres em stress, não te deixes consumir pela depressão, pela ansiedade. Deus, ânsia sim!, pela vinda/nascimento de cada um de nós, de modo á manutenção, de modo ao bom uso, dos nossos dons, na sua enorme quinta. Nascer de novo, em cada ato. Nascer de novo, nos “tremores de terra”, nos “vulcões” da viva.
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