quinta-feira, março 01, 2007

Preferia não ter padre

Já é velha a de que os padres é que tiram a fé ou a outra, quase igual mas pior, de que os padres tiram a fé. Tão velha ou mais que a mãe da senhora que me indagou. Padre, a minha mãe já está velha e, quando morrer, não quer ir para a Capela Tal, a que temos neste momento como mortuária. Ela antes quer ir para a Outra Tal. Eu já lhe disse que o senhor não devia querer, mas ela não desiste. Diz que não vai para a Tal de maneira nenhuma. Prefere não ir para lado nenhum. Prefere não ter padre. Fica em casa.
Respondi-lhe, com modos e a sorrir, tentando ajustar os desejos com a idade e com a situação. É obvio que eu não posso forçar ninguém a ir para a capela Tal, mas também não me podem obrigar a mim a assumir desejos sem os desejar ou a fazer o que não for oportuno. Não iria levantar-lhe o corpo. Qualquer um podia lembrar-se disto ou daquilo, inóspito ou não, e fazer exigências sem pedir ou sem medir! Não pus a hipótese. Apenas adiantei. Também não me repugna que ela fique em casa desde que esteja na Igreja à hora das exéquias. Padre, mas ela também disse que levá-la da Igreja para o cemitério, só uns metros, não era nada. De novo preferia não ter padre. Anui que não eram os metros ou quilómetros ou padres ou capelas que a iam salvar. E a resposta veio da boca da filha como sendo da mãe. Os padres é que tiram a fé às pessoas. Como se alguém nos conseguisse tirar tamanha coisa quando ela existe realmente! Há padres muito maus. Não sou eu que digo, mas a minha mãe, que insiste, insiste, insiste. E obriga-me a prometer que, se não for como ela quer, não vá padre.
Ainda me contou que esta senhora tinha sido de missa diária, zeladora mor, ajudante de tudo, responsável de montes de coisas. Que arranjara muitas coisas para a Igreja. Que oferecera. Que pedira. E que não merecia o que alguns padres lhe tinham feito em tempos. Não se dirigia a mim. Graças a Deus. E assim, mesmo não sabendo o que acontecera, entendi o que os tais padres haviam feito.
Haviam-lhe tirado aquela fé. Aquela.

39 comentários:

Anónimo disse...

Padre sofre!...havia alguma fé?!para ser tirada?

Elsa Sequeira disse...

Olá Amigo!!!

Eis o protótipo completo e acabado de 80% ou mais, dos caminhantes que frequentam, repito - frequentam - as igrejas, estão lá sempre, porque sim, porque é hábito, porque é Domingo, porque... enfim...parece Fé...mas não é Fé...é muito Templo e pouco coração!
Esta senhora até depois de morta, quer continuar a batalhar no Templo!!! isto é que é! Templo até ás últimas consequências!
não te rales, de certeza que tu não consegues tirar algo de onde não existe nada!! ahaha!!

Tudo de bom para ti!
Muita Força!
beijitos!
:)

Sandra Dantas disse...

Hummmmmmm... Este tipo de fé assusta-me sempre muito!!!!

Quando verdadeiramente se acredita, ou se tem fé, que importância tem um lugar ou outro? Deus sabe onde estamos e lá que nos vai procurar, já dizia santa Mónica, a mãe de santo Agostinho!

É bom que "desapareça" esse tipo de fé!

Um abraço amigo!

Anónimo disse...

A haver essa coisa de deuses, paraísos e infernos (não digo que sim nem que não), não será por o funeral levar sacerdote que o defunto se salva. Será irrelevante de todo. Tudo isso não passa de mero consumismo religioso.

Al Cardoso disse...

Para ter uma fe como essa assim e preferivel nao ter nenhuma!

Um abraco d'Algodres.

Vítor Mácula disse...

Pois, pode-se perder a fé na Igreja sem perder a fé em Deus. Ou aperceber-se que não se tratava de fé mas de crença e identificação com determinado grupo social. Ou perder a fé em Cristo sem perder a fé em Deus. Ou converter-se a outra religião. Ou sabe-se lá descobrir-se na dúvida agnóstico, ou crescer-se a tal ponto na suspeita que se avança para um desconhecido sem remissão alguma para nada, tão só isso.

E refiro-me a fazê-lo honestamente, conscientemente.

Ser o que se é, a fase do que se é, com todos os equívocos e acertos de tal caminhada, a única, a vida somente nada mais, a vida própria de cada qual.

Isso é que é difícil.

Esse fundo de ser-se.

Abraço, padre.

Confessionário disse...

Víctor, a "verdadeira" fé, essa não se perde! Pode existir no meio de questões e dúvidas, mas no essencial nao se perde. Tu sabes. Quem o descobre intimamente, não O larga mais, a não ser que o seu egoísmo seja imensa e intensamente forte e obcessivo!

Vítor Mácula disse...

Estás a reduzir o ateísmo à ignorância ou ao egoísmo?

Confessionário disse...

Pois, grande questão, Victor.
É que as duas coisas coexistem. Mas uma poderá ser inconsciente (ignorância) e a outra não (egoísmo).
E curiosamente, ambas podem significar ou ausência de Deus, ou ausência da necessidade de Deus, ou indiferença de Deus, ou pura e simplesmente egocentrismo.
Mais, não podemos reduzir ignorância a um conceito de não se saber de Deus. O ateu pode não querer saber, embora possa saber ou ter sabido algo (cá está o egoísmo). Saber é diferente de conhecer. O conecer leva-nos á intimidade. O ateu, ou nunca quis essa intimidade com Deus ou nunca lha proporcionaram.

Olha, amigo, o ateu terá as suas razões, que podem advir de dentro de si ou de fora. No entanto, o que eu quis dizer é que alguém que O encontre dificilmente aceitará separar-se dele. Nada ofuscará facilmente essa certeza: a fé.
O problema é que alguns, muitos, querem esse Deus (não são propriamente ateus!), mas apenas em alguns mistérios, em algumas coisas, em alguns negócios! Issonão será nunca fé.

Anónimo disse...

Através de alguns comentários que, por vezes, ouço na minha terra relativamente a assuntos de Igreja, faz-me pensar que muitos paroquianos devem achar que padre rima com tapete!

Na minha terra, há quem faça questão que os funerais de familiares, sejam realizados na Igreja Matriz e não na Igreja da Mesericórdia. (Deve ser por ter mais talha dourada! Também tem uma entrada mais imponente, é verdade!)Comentam que só os ricos têm direito a utilizar a Matriz!

O padre já explicou que a Matriz tem de estar disponível para as actividades diárias e que existem outras Igrejas na terra que estão disponíveis. Não adiantou de muito!

Curioso é que normalmente quanto mais humilde é a origem mais manias têm. Lembro-me de ir ao funeral de uma senhora, cujas filhas estavam ocupadas em verificar se existiam muitas flores em volta da urna e outros aspectos de carácter protocolar!

Também já houve uma senhora que, dentro da igreja, falava alto como se estivesse em sua casa, ignorando o local, o padre e os outros. Certo dia, o padre chamou-a à ordem. A dita senhora zangou-se e deixou de cuidar de um dos altares. Que pena!

É o mundo VIP!!!

As Igrejas são como as empresas, precisam de ser restruturadas de tempos a tempos para eliminar os vícios do poder instalado.

Teodora

Anónimo disse...

Ai, Sr. Padre, tão depressa me apanhou!
Ah, ah, ah…

Realmente, não se devem aceitar todos os hábitos e manias, só porque sempre foi assim.

Os procedimentos exteriores, que não têm propriamente a ver com a Doutrina da Fé, existem para fazer face às necessidades conjunturais de uma determinada época e podem e devem ser mudados, quando já não faz sentido, ou porque já não se adequam às novas conjunturas.

Não podemos sobrepôr os nossos hábitos e caprichos em detrimento do bem da comunidade ou, neste caso propriamente, não tendo em conta a falta de disponibilidade do Pároco.

No caso da outra senhora, que queria fazer jejum, a mim me pareceu que ela o fazia não só por hábito, mas também por boa-vontade e simplicidade de coração. É um querer pessoal que em nada afecta terceiros e lhe traria benefícios espirituais.

Pelo contrário, esta denota um certo egoismo e capricho em querer manter uma tradição que em nada acrescenta ou tira à salvação da sua alma.
Está mais preocupada com o aspecto exterior do espectáculo, nem que para isso prescinda das exéquias sacramentais que a Igreja concede aos fieis falecidos?

Pois essa não tem Fé. Já tem a alma morta muito antes de ter o corpo.

É apenas mais uma, entre muitos (sobretudo nos meios pequenos), que são cristãos, porque sim, porque já vem da tradição dos pais, porque a Igreja funciona como uma associação ou clube de reunião, onde todos se encontram, conversam, se miram e mal-dizem uns dos outros. Enfim, porque à falta de melhores atractivos, motivações e diversões, frequentam a Igreja como forma de passatempo e utilidade, se sentem inseridos na comunidade e preenchem a solidão.

Quando estivermos mortos para o Mundo, que nos importam as pompas e circunstãncias?

Quanto a mim, instantemente o peço, não sei se em breve ou se daqui a muitos anos, quando morrer, que me façam um funeral mais simples que houver; se não quiserem andar metidos no cemitério a visitar o meu corpo morto e em putrefacção, não me aquece nem me arrefece; mas que tenham a piedade e a caridade de me fazerem um funeral cristão e orar pela minha alma, que muito irá precisar.

Os Padres só tiram a Fé àqueles que, "até aquilo que têm lhes será tirado".

Anónimo disse...

Sem dúvida que faria falta tentar perceber o porquê de tamanha aversão da senhora à dita Capela Tal.
Aquilo que parece uma mania sem sentido esconde, muitas vezes, algo de profundo, talvez até inconsciente ou inconfessável...

Confessionário disse...

Hepta... pois concordo contigo.

JS, não tinha pensado nisso. Às vezes pode haver razões mais profundas, mas, e em abono da verdade, penso que esta senhora queria, mais que não querer a Capela Tal, a outra Tal, pois foi responsável pela chave dela durante algum tempo, digo eu.

Anónimo disse...

Quanto à questão dos padres tirarem a fé às pessoas, tem que se lhe diga. Porque se em muitas ocasiões se trata de tirar "aquela fé. Aquela", também acontece bastas vezes que a intenção é substituí-la por "aqueloutra". A do padre. Que é apresentada como se fosse a fé de Cristo, quando, com frequência, anda longe de o ser. Para já não falar de quando se confundem questões de fé com assuntos de disciplina ou prática pastoral...

Vítor Mácula disse...

Há outra hipótese, ateísta : não há Deus, e a entropia é a mestra da vida.

Mas a minha é : há Deus, e a entropia é a mestra da vida ;)

Seja como fôr, como se constitui a irreligiosidade e o ateísmo, é realmente uma questão complicada…

Bom fim de semana, padre

PS: Quanto às telenovelas de posse e influência na paróquia e etc... raramente se evitam estas coisas na grupalidade. O que às vezes me parece é que se aceitam e fazem imensos abusos, apenas para manter presença (números, quantidade). Mas isto da grupalidade viva ainda é mais dificil que os motivos e motores do ateísmo ;)

Confessionário disse...

JS, infelizmente, também tenho de concordar contigo... e muitas vezes me questiono da minha forma de ser padre e confronto-a com essa... E às vezes me pergunto se è Ele ou eu o que interessa! uiui


Victor, também acho mais difícil gerir esta que o ateísmo! Esse sabemos que posição tomam e os do "grupal" não se sabe bem!

Ver para crer disse...

A caridade obriga-nos a respeitar as pessoas mas não quer isto dizer que se lhe façam todas as vontades.
Até nisto Jesus foi um exemplo.
Veja-se o seu comportamento perante as críticas que lhe foram movidas.

Anónimo disse...

Creio que a fé é um dom precioso e que nem todos os que a julgam ter ou afirmam ter sabem bem o que dizem...
Tenho como verdade que as coisas da fé fazem parte de um domínio ao qual chamo "mistério", sem com isso a remeter para a esfera da ignorância...
Ora, neste caso como em tantos outros, aquilo a que se chama fé não o é...trata-se de outra coisa, estranha e indefinível...

Anónimo disse...

Voltando ao tema da capela: se a razão for da ordem do apego sentimental, talvez misturada (disfarçada?) com devoção, será um pouco mais compreensível. Pelo menos, é frequente vê-la invocada em pedidos de baptizados e casamentos; contando com a tolerância ou mesmo a anuência dos senhores padres.

Será possível encontrar uma solução que salve a face de ambas as partes? Penso que se devia investir nisso, trocando impressões com os colegas ou colocando o assunto para reflexão no conselho pastoral. Por duas razões:
- porque a mania é de alguém que, na altura própria, terá falecido; então, o problema estará nas mãos dos familiares, que até podem dar razão ao pároco, mas estarão obrigados moralmente (ou mesmo legalmente) a cumprir as disposições da defunta;
- porque em funerais os ânimos estão sempre à flor da pele; e todos acabam por perder com conflitos ou desentendimentos surgidos em tais ocasiões.

Anónimo disse...

Olá Confessionário,

Há gente que se lembra de cada uma... Se os tais padres lhe tinham já tirado a tal fé, que mais havia para tirar? E como é que se tira uma coisa que realmente não se tem? E que importa onde está a matéria se o que interessa depois de morto é a essência, a alma?

E já que o ateísmo veio à baila nos comentários, se mo permites, deixo aqui a "pérola de sabedoria" com que um colega ateu militante me "agraciou" quando a propósito de uma conversa que estávamos a ter, lhe disse que era católica.

“Durante a evolução humana formaram-se dois grupos de Homens: os menos evoluídos - os que acreditavam em Deus- e os geneticamente mais evoluídos, os ateus. Os que acreditam em Deus pertencem a uma espécie humana sub-desenvolvida porque tem a necessidade de acreditar em algo superior a eles. Como são de uma espécie sub-desenvolvida tem tendência a desaparecer e o ateísmo vai imperar no mundo. O meu colega conclui o raciocínio dizendo pois que eu era muito retrógada mentalmente e que me ia tentar desconverter.”

Qual é a atitude correcta perante isto, Confessionário?

Um fim de semana abençoado.

Maria

Confessionário disse...

JS, a diferença entre os casamentos (não podemos incluir os baptizados, porque estes só podem concretizar-se na Igreja Paroquial) e os funerais é:

os primeiros acontecem (mal ou bem) sem pormenores advindos do local para a disponibilidade do padre e para a organização pastoral da paróquia, ao passo que os segundos, quando há a companhamento (não devia ser necessário e para lá caminhamos, e bem) pode exigir enormes distancias se nao houver uma organização ideal, e implica com a organização de uma capela funerária que, minimamente, deve reunir as condições necessárias para tal.

Outra coisa: nada legalmente falando pode implicar com uma outra instituição. Os testamentos (imagino que falavas disso) não podem obrigar terceiros, sem o seu consentimento prévio e conversado. Moralmente é outra questão!! Mas o que é moral nestes casos?

E, por último, estas ocasiões são, de facto, difíceis de gerir a todos os níveis. Os cristãos que sabem o que é importante, desvalorizarão o menos importante. mas nem todos agem, pensam ou são assim! Olha, vamos "indo"

Confessionário disse...

Maria, atitude correcta depende sempre de cada situação e pessoa em si. Parece-me de todo despropositada essa afirmação. Mas elea deve ser geral na mente de muitos ateus.

Eu penso, como Jesus dizia: "Eu te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas coisas dos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos"
Além disso, a fé não é uma questão de razões mas de corações. Pergunta-lhe se ele é mais feliz do que tu e se o pode provar!!

Possato Jr. disse...

Cada povo com suas manias...

Não vou entrar no mérito das questões aqui levantadas, pois as acompanhei e creio estarem já bem discutidas!

Quero apenas partilhar o que vivemos, aqui no Brasil! Alguns crentes (não dá pra chamá-los de católicos) não querem casar na Igreja, pois temem a indissolubilidade do Matrimônio! Afirmam (e acreditam piamente nisso -- vejam a que absurdos o medo nos leva) que os relacionamentos mais duradouros são aqueles que não passam pelo altar!

Sei lá... É como se, em vez de dar a bênção, o Padre amaldiçoasse o casal! Coisa estranha, né!?!

Aguardamos tua visita!!!

Paz & Bem!!!

Fatima MIranda disse...

Querido amigo,
Não entendo bem a questão de ser enterrada na capela A ou B,as coisas por aqui acredito que sejam mais "frias", moro em uma grande cidade e às vezes nem Padre acompanha o funeral, na verdade, não me recordo de um funeral que tenha sido acompanhado por um Padre... Coitada da tal senhora se por aqui morasse.
Agora fiquei a pensar que talvez seja mais fácil nós abalarmos a fé dos Padres com tantas banalidades... Haja paciência para nos aturar!!! Paz e Bem
Fátima - RJ

Anónimo disse...

Desculpem-me por voltar à carga, mas há coisas que não podem ser toleradas.
As pessoas têm todo o direito de ter fé e acreditar que essa fé as pode melhorar. Têm todo o direito de pensar que sem essa fé a sua vida não faria sentido.
O que já não será tão legítimo é catalogarem os que pensam de outra forma com expresões do género "egoismo obcessivo".
Porque até hoje ainda não foi descoberta qualquer ligação efectiva de causa e efeito entre a fé e a bondade. Há ateus bons, altruístas e felizes que não precisam nada da fé para a sua vida e há crentes intrinsecamente maus.
A fé que move uma Madre Teresa pode também mover um terrorista suicida ou um torcionário da Inquisição.

Anónimo disse...

Pois, por cá, também há muitas manias!

Com todo o respeito por aqueles que casam pela Igreja por acreditarem convictamente em Deus e nos seus príncipios, mas acho que a maioria casa pela Igreja para poder ser actor/actriz principal num filme. Sempre é um dia que podem vestir vestidos compridos, e chegar à igreja de alto carrão,tipo príncipe e princesa com toda a gente a ver! Tanta preocupação com o protocolo e investimento monetário faz-me crer que tudo aquilo é pouco mais do que um dia de Carnaval.

Eu, se fosse membro da Igreja, organizava um festival de cinema no género documentário, onde todos os casados nesse ano podessem concorrer com o filme do seu casamento. (Momentos de enorme humor não faltariam) Os ditos casais sentir-se-iam verdadeiramente felizes e importantes.

Portanto, aqui ninguém teme a benção do padre, de Cristo ou de Deus! É um povo de muita bravura!
Importante é representar bem!

Teodora

Anónimo disse...

Olá!
Ao ler estas comunicações todas, fico contente. Afinal "Deus está na moda, a fé esta na moda, a Igreja está na moda"... porque se fala ! Porque ninguém é "dono" do Espírito, porque somos ovelhas mas não nos guia o carneirismo, porque a Igreja é a unidade das sensibilidades.
Na minha comunidade paroquial, o maior problema nem são os praticantes, são mais aqueles que a si mesmos se denominam "católicos não praticanres", os tais cristãos de funerais, casamentos e baptizados. Ah! E de procissões a Fátima e de velas e de voltinhas...Normalmente é a esses que ouço com frequência: "Os padres tiram a fé"!
E nós até podemos compreender: abandonaram a comunidade, não caminharam com a comunidade, depois a ideia de Igreja com que ficaram foi aquele que intuiram no momento do abandono...
POr outro lado, cristão vem de Cristo. Somos cristãos por causa de Cristo!Ele é que é o Senhor da nossa Fé. As pessoas podem falhar, Ele... NUNCA!"
Causa-me espanto quando ouço: "Eu deixei de frequentar por causa do padre ... do catequista... desta ou daquele.."
Mas o Deus das pessoas é O de Jesus Cristo ou uma pessoa???

Anónimo disse...

E teriam sido apenas os padres a tirar-lhe a fé???
Ou o que a vida lhe havia oferecido ao longo dos tempos????
Não seria isso, pelo entender da senhora, uma derradeira recompensa a si própria enquanto corpo terrestre???

A fé é um dos assuntos teológicos mais controversos,a meu ver...

Afinal o que é a fé??? nao será muito mais do que a definição do dicionário??? E será que quando atravessamos as adversidades a força da fé é suficiente????

É tudo tão relativo, não podemos julgar a fé de ninguem sem antes percebermos qual é a imagem de fé que a pessoa tem... é apens o meu ponto de vista acerca desta questão...

Beijinho*

DairHilail disse...

cheguei aqui...foi o vento que me trouxe...estive a ler-te com atenção...não sabia que os padres eram assim...aliás nunca entendi os padres...também nunca me preocupei com isso...confesso...
quanto ao post...as pessoas passam a vida preocupadas com as aparências, tudo é feito para se ver...
quanto a ti, gostava de te convidar para uma visita...ao meu Loucuras, embora aquilo seja um pouco louco para um padre,acho eu...

nota - upsss! Sr.padre, tratei-o por tu...espero que não levea mal.

Confessionário disse...

DE profundis, as pessoas que t~em fé continuarão com as suas fragilidades, e, nestas estãoincluidas muitas coisas menos boas (entendes!). Acreditar é algo que nos liga a Deus e que muda a forma de entender a Vida...
Quando não muda, pode ser sinal de que não é verdadeiramente fé! Chama-lhe o que quiseres, mas não fé. Ahhh, e a fe que falamos não é apenas acreditar em algo... É mesmo diferente! Se calhar nao me fiz entender... mas não quero que se confunda a fé de Madre Teresa com alguns tipos terroristas.

Mais, terei eu falado em "egoísmo obcessivo"? Hummm... uma pessoa que só pensa em si, não consegue olhar para os outros e muito menos para Deus. Por isso, como pode ter fé!?

Anónimo disse...

:D
Obrigado Confessionário!

Um abraço,
Maria

euseinadar disse...

A questão da Fé é algo extremamente complexo! Que modo tão inteligente e vago de começar o meu comentário. Mas é verdade.
De facto, gostaria de ouvir os motivos da senhora. O que significa a Capela Tal para ela. Obviamente que ela radicalizou a questão, mas o que estará subjacente à dita preferência?
Por outro lado, dado a idade da senhora em questão, a Fé dela é certamente aquela Fé que se incutia noutros tempos, do medo do inferno, da missa dita em latim, da omnipotência do pároco, mais do que acreditar no Amor Incondicional de Cristo e de entender as Suas belas palavras. Por isso, gostava de entender um pouco melhor a senhora.
Por outro lado, vem a falta de igualdade na Igreja. Se a senhora fosse uma pessoa importante até lhe faziam as exéquias na Sé Catedral. Porque é que se o pretendente ao trono de Portugal casar, vem o Cardeal Patriarca, põe-se a Sé toda engalanada, etc. e se for o Zé Ninguém, até lhe mandam um diácono, porque há poucos padres?
Sou Católico, vou à missa, não por tradição ou obrigação, mas para ver se entendo melhor aquilo que Deus pretende de mim, mas às vezes custa-me aceitar este tipo de coisas. Talvez porque os meus pais não são os duques de Bragança e os meus avós eram pessoas do campo. Pena que os obstáculos levantados em certas situações sejam inversamente proporcionais ao estatuto social...

Confessionário disse...

eu seinadar, aqui não é o caso. Nem sei as posses da senhora. É para todos igual... e por ser igual para todos, é que não se deve fazer distinções!
Entretanto, a resposta sobre os motivos dela já estão um pouco explicados nos comentários!
Um abraço

joaquim disse...

«Padre, mas ela também disse que levá-la da Igreja para o cemitério, só uns metros, não era nada. De novo preferia não ter padre.»

Não quero julgar o que não conheço, mas esta frase parece-me reveladora daquilo que se pretende, ou que a senhora pretende, (será a senhora, ou a familia?).
O problema parecem ser a quantidade de metros a percorrer pelo cortejo fúnebre, a visibilidade do mesmo, a "medição" do "tamanho" do funeral.
Se calhar não é nada disso, mas é o que parece e não seria caso único, como bem sabemos.

Abraço em Cristo

NaSacris disse...

Ai! se certas pessoas pudessem transformar os padres em marionetas! Seriamos todos manipuláveis, "a la carte"!
Já agora: em situações sem conta, o próprio Cristo tirou "aquela fé", por exemplo, aos seus próprios discípulos. Objectivo: purificá-la.

Maria João disse...

Não sei o que está por detrás da vontade da senhora. Se é uma mágoa muito grande, se é uma teimosia, se é... Sei lá. Pode haver mil e uma razões.

Quanto à fé, para mim, acho que ainda há muita fé vivida apenas através de gestos e hábitos exteriores. Ajuda-se na igreja, na procissão... Isto não tem nada de mal, claro. Mas a Fé de que Jesus nos fala é mais do que isto. É acreditar em Deus e no exemplo que nos deixou de amar o próximo. E para se ter esta Fé de Deus é preciso conhecer o que Ele nos pede. Só assim conseguimos viver o Seu exemplo de Amor. Lá está, viver, não fazer por que é habitual.

beijos em Cristo

euseinadar disse...

Compreendo que este não seja o caso nem quero generalizar, pois todas as generalizações acabam por ser abusivas. E mais, aprecio esse seu esforço por manter o tratamento igual para todas as pessoas. E também aprecio as suas palavras, caso contrário não passaria aqui com frequência para lê-las. Mas bem sabe, certamente até melhor que eu, que as coisas nem sempre são tão simples e para verificar alguns exemplos daquilo que referi, basta pegar em meia dúzia de revistas cor-de-rosa ou de sociedade, ou como se pretenda chamar, e tirará as suas conclusões.
Infelizmente eu creio que essa é a tendência, mas há excelentes exemplos do contrário. Eu conheço alguns e nutro grande admiração por eles.
Este tema toca-me pois tenho tido ultimamente uma experiência idêntica, embora numa conjuntura completamentamente diferente, pois por um lado trata-se de um casamento e por outro, a minha Fé mantém-se, não sou radical e prezo o respeito por todos, fazendo sempre um esforço por respeitar também os seus motivos, mesmo que nem sempre os compreenda. Mas enfim, lidar com os outros é isto mesmo... Se fossemos todos máquinas, sem opiniões, sentimentos, personalidades, experiências, tudo seria tão mais simples... Mas também bem mais pobre.
Um abraço!

Anónimo disse...

Só mais uma achega, se me permite. Acho esquisito que uma pessoa se preocupe com tais detalhes. Tendo Fé ou não, sendo esta mais verdadeira ou menos verdadeira. Agora, repare, ao pensarmos num outro momento especial como seja o do casamento ou do baptizado de um filho, talvez não nos surpreendessemos tanto com o facto de se preferir a igreja à igreja B...
Se fosse eu, e se em ambas as capelas se realizassem cerimónias fúnebres, não deixava de fazer a vontade à senhora. Afinal era a última. O pior era se ao pensar que estava a cumprir o desejo da mãe estava a pactuar com a birra da filha... Aí era pior!:)
Um abraço

Anónimo disse...

Oi Padre, descobri o confessionario por acaso, final do ano passado, desde então visito e cada vez gosto mais.
um grande abraço.