segunda-feira, março 12, 2007

As três freiras

O melhor local de Fátima inteira é a Capela do Santíssimo. Também lá encontro Maria. A brisa na Capelinha das Aparições agrada-me. O vento leve que vem à face leva um pouco de mim pelo espaço em silêncio, ou quase. Mas a Capela do Santíssimo é melhor. Não tem brisa, mas faz sentir o mesmo vento que leva um pouco de mim. Procuro um banco ao fundo. Chovia e fechei o guarda-chuva. Fechei também os olhos para abrir o coração. Tão bom, este momento. Quando o faço na paróquia parece diferente. Ninguém olha para mim, o que facilita não olhar ninguém. E após uma boa hora, chegam três mulheres novas, quase iguais. Rosto esbelto, posso garantir, porque me distraí do diálogo com Deus ao ouvir o chocalhar. Abri os olhos e a curiosidade. Vestiam azul claro, num tem quase cinzento. Eram novas, pela beleza, pela sinuosidade da silhueta. Sorridentes. Rosto a terminar no pano azulado que pendia e escondia os cabelos dourados. Imagino, pela tez visível. E donde vinha o chocalhar que quase lembrava o retinir dos sinos sem melodia e menos audíveis, para não falar noutras metáforas menos próprias para o local? Como me haviam distraído, se nem estava interessado em reparar nos presentes ou nas suas belezas!? Ao passarem mais perto reparei nos cordéis cheios de pontinhos organizados, de dez em dez. O rosário. E o porquê do ruído?! O meu que se queda vários dias no bolso esquerdo das calças não faz esse barulho. Foi quando descobri, não um, mas vários rosários, ou terços, como lhe quiserem chamar, um enorme, a pender do mesmo lado, deixa ver, esquerdo também, das roupas azuladas que terminavam quase sem deixar ver os sapatos ou sandálias. Não conheço a congregação nem julgo. Mas pergunto: faria parte das suas regras rezarem por diversos terços?! Ou seria um peso medido que deviam colocar no quadril?! Ou era para sinalizar a sua localização?! Estou aqui e vou passar. Ou adorno?! Que seria afinal? Não consegui perguntar, porque o local era de silêncio, embora as passadas delas, delineadas a manequim, não permitissem a concentração por causa do chocalhar das contas do terço. Como me havia distraído decidi sair para me concentrar.

25 comentários:

Anónimo disse...

Oh! Sr. Padre! A olhar para as freiras??? :)))

Anónimo disse...

Tá ver Senhor padre, se não fossem o som dos "guizos" o senhor não teria visto três loiras... e boas!!!

Pense que foi um momento de beleza dentro do género! Reconheço que o lugar pede algum recato, enfim, até as freiras agora são modernas!

Nunca percebi a razão da existência de tantas congregações! Faz-me pensar na Liga de Clubes ou nos clubes de fãs. (Com as devidas diferenças, obviamente)

Porque será que as pessoas complicam tanto! A vida, por vezes, já é tão complicada.

Desculpem-me mas acho que a necessidade de recorrer a tanto artefacto, faz-me crer que há demasiada insegurança...

Às vezes pergunto-me se Deus aprecia ou pede a existência de tanta materialização da fé?! Desta!

Na volta as freiras queriam mesmo que o senhor olhasse para elas, portanto, fez uma boa acção.

Eu não imagino o que será uma vida fechada sem poder conviver com homens. Os ambientes mistos são muito mais saudáveis.

Teodora

Anónimo disse...

Ah,ah,ah, Sr. Padre!

Fez bem em sair para se concentrar, deixando os seus pensamentos esfumar-se na brisa que passava, não fossem "as roupas azuladas, que nem sequer deixavam ver os sapatos,…", nem os tornozelos,….sugerir-lhe algo mais, muito mais…

Padre sofre!

Ah,ah,ah!

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Pois sr. padre, eu quando vou a Fátima, onde gosto muito de ir, onde vou frequentemente, é prioritariamente, é à capelinha das Aparições. Altar com Santíssimo, graças a Deus tenho-os quase em toda a parte( estou a exagerar, infelizmente...)O sr. Padre deixa entrever, nas entrelinhas, ... uma certa vergonha de Fátima, bem à moda da modernidade, mesmo dentro das fileiras elesiásticas...Preferiu ir para diante do Santíssimo...A Senhora de Fátima não Deusa...não senhor, mas na nossa fé cristã e católica é Mãe de Deus e nossa...
Se tivesse preferido os bancos daquela capelinha desabrigada, jáo ouviria nem seria incomodado pelos chocalhos das três freiras tão duvidosas...Em Fátima há lugar para todos...até para estas. Quem as julgará não somos nós...quem somos nós?... mas o nosso Deus.
Se assim fosse o bico de pato julgá-lo-ia mal a Si...pela sua historieta sem interesse algum...antes pelo contrário...
Perdoe-me a bicada...deste pato que se sente a salvo...quando voa a Fátima da capelinha...

Anónimo disse...

Ó sr. Padre não se chateie. Publicou a sua história deve ter arcaboiço de ouvir o que implicou.
Santíssimo...temos muitos em qualquer parte. ( gostaria que houvesse mais e em mais lados...) Em Fátima, por excelência, quem lá vai é pela Senhora de Fátima e a capelinha d'Ela
está ali, junto à azinheira histórica.

Infelizmente, até nas fileiras eclesiásticas, porque vai sendo moda, há quem seja reticente. Com a sua historia desnecessária ...e sem graça, permite engrossar essa tendência...
o que não quiz concerteza, estou certo.

Anónimo disse...

Não havia necessidade ...de revelar esta sua história que é só sua...não acha?

Anónimo disse...

Não estou consigo, sr padre...

Anónimo disse...

caro confessionário,
tenho andado para lhe perguntar o seguinte: diz que é padre, mas que garantias me dá que o é de facto? Acho que como padre deveria estar minimamente identificavel, porque caso contrário poderemos vir a ter - nao digo que seja o caso - algum mal intencionado disfarçar-se de padre e em vez de ajudar, confundir.
E se pretende ajudar, acredito que uma ajuda anónima não traz grandes resultados: não se sabe com quem se conversa, nao se sabe com quem se desabafa, etc.
O nome de alguém, dá-lhe identidade e consequente confiança, porque sei com quem estou e sem quem é a pessoa. Podemos correr o perigo da relação dita virtual e deixar de lado a relação real tão desejada e tao saudavel. A mais saudavel e a mais humanizadora. Aliás a dimensão virtual é raíz e talvez causa de grandes dificuldades e problemas da humanidade.
Faz sentido o que penso?
Um abraço :)

Confessionário disse...

Ó Bico de pato, eu tb não julgo as três freiras que, muito estimando, espero e sinto que sejam tão de Deus ou mais que eu. Apenas questiono alguns adereços que não entendo serem úteis. Se calhar até são. Mas eu não vejo como ou onde, e por isso levanto a questão.
Mais, eu não fui propriamente incomodado pelo chocalhar, mas pela questão que se me colcocou dos adereços!

Confessionário disse...

blogueoperatório, Fátima não é propriamente o lugar do Santíssimo. Se alguém vai a Fátima, não vai de ceretza por causa da Capela do Santíssimo. Eu não. Geralmente vou a Fátima ou por alguma reunião e/ou encontro ou para descansar e recuperar algumas froças espirituais... porque as encontro lá. Isso não significa que fique de olhos fecahdos perante o que lá encontro. Aliás, alguns dosmeus posts últimos abordam isso. Mas é apenas um mas.

E repito. Gosto sempre de ir ao Santíssimo em Fátima, porque se tornou o meu lugar especial e de eleição em Fátima. Que mal tem isso?!

Confessionário disse...

Caro anónimo das 20,22 e das 20,24, os blogues servem para contar as nossas histórias. Estas podem ou não tornar-se de outros e são sempre discutíveis. Aprecio a sua sinceridade. Surgiu apenas a curiosidade: em que parte não está comigo? Ns dos adereços, na das consagradas, na do Santíssimo, na de Fátima? Na do etxto em particular? Na do blogue em geral?
Espero que Deus esteja comigo... é esse que quero agradar!
Um abraço amigo.


Já agora aproveito para dizer a todos os meus amigos virtuais que poderá ser conveniente ler outros textos mais antigos e dos próprios comentários para perceber melhor o que sinto ou sou. às vezes são feitas perguntas que já foram respondidas. Não tem mal repetir, mas dava jeito. hehe.
Isto é um pouco resposta para o João. A tua questão faz sentido, faz. Mas um certo anonimato (que não é total) permite-me ser mais livre ao escrever. Permite igualmente que não sejam misturadas uma série de partes da minha vida. Esta é a do padre que escreve o que pensa, sente e vive pessoalmente e em confronto com a vida e com os outros que fazem parte da sua vida, mesmo que ocasionalmente.
Eu podia até inventar um nome. Na net tudo pode ser falseado, como sabes, João. As pessoas que vão acompanhando este espaço vão percebendo deveras quem sou e que sou mesmo padre. Basta ler com atenção. Há depois o correio electrónico que muito pode ajudar, pois torna-se menos impessoal. De resto, já fiz imensos amigos reais nesta coisa do virtual! Eles andam por aí.
Um abraço tb para ti...

Que ninguém se zangue!

Elsa Sequeira disse...

Meu querido Amigo!!
Estou a ver que não te entendem!
Pois eu digo - O Confessionário é PADRE, é, é mesmo padre, e é um padre bué da fixe!!Eu sou Amiga dele e gosto muitissimo dele, e fazes muito bem em te exprimir livremente, que mal é que isso tem? E realmente eu também já perdi alguns minutos, se calhar muitos a olhar para esses terços pendurados das freiras...ah!!! e quanto ás freiras...ainda bem que não és cego, se não não poderias vê-las!!! ahahah! Se fossemos fechar os olhos cada vez que vemos alguém lindo, seja qual seja a sua condição, havia de ser lindo!!!
Só te peço que continues sempre com a força que te conheço e com a tranpar~encia que te é peculiar, porque se há coisa importante nesta vida é a LIBERDADE!!!

Beijinhos!!!

Anónimo disse...

Há pessoal que anda a ter umas noites mal passadas!

Agora até aos padres é-lhes imposto o que eles devem e não devem gostar!

Eu não sabia que até nos meandros da fé também havia treinadores de bancada?! Ah! estamos em Portugal, claro está.

Ou não! Talvez sejam padres...mofentos!!! - digo eu.

Teodora

Anónimo disse...

já há um tempinho que não vou a Fátima e esta 'viagem' fez-me matar saudades...!

mas realmente é estranho, nunca vi, de facto, uma irmã com mais que um rosário! como não haviam de 'cortar' a concentração a um padre! :)

Mafalda disse...

Bem, isto não está nada fácil! O que será ser Padre?
Questiono-me….será ir a Fátima, e só poder rezar muito seriamente? Não poder, pura e simplesmente sentar-me e tentar-me concentrar e, pelo facto de passarem três freiras, com terços barulhentos eu me distrair e perder o fio à minha concentração? Deixar o meu pensamento voar e questionar o que, neste caso, posso achar pouco útil? Ser Padre significa não ser livre? Ser prisioneiro de preconceitos, de medos, de imagens…Não poder dizer que as roupas não deixavam ver nem sapatos nem tornozelos ???? Eu também me questionaria sobre isso. É realmente preciso ser Grande, Enorme para dedicar vidas inteiras a Deus e aos outros, sempre com um sorriso e disponibilidade total. Hoje em dia há mais padres e freiras de outro estilo, de outras formações e preocupações. E ainda bem! Têm coragem para se libertarem de tudo aquilo que prende. Caro sr. Padre, aplaudo a sua liberdade!!!!

Um abraço amigo.

Anónimo disse...

Caro confessionário,
Alguns comentários àquilo que disse, pode ser?
1. Eu não preciso do anonimato (parcial ou total) para garantir que uma série de partes da minha vida sejam expostas. Aliás existem blogs identificáveis – e tb é verdade que há sempre o risco de serem falsas identificações – mas no entanto, parece-me que a figura do padre deve oferecer essa segurança que muita gente não oferece: a desconfiança, a reticência, a hesitação, etc…
2. Também não é pelo acompanhamento do blog q me certifico que seja padre. Consigo sim, imaginar que tipo de pessoa é: próxima, uma pessoa com piada, com visão, as vezes polémico, etc… Mas isto não me garante o essencial: eu gostava de desabafar com um padre que me entende, de confiança…e gostava de fazê-lo consigo, mas o seu anonimato não deixa. Como disse, pelo mail as coisas tornam-se menos impessoais. Tem a certeza? Já fez imensos amigos reais e eles andam aí. Eles quem?
3. Imagine que alguém no uso da sua liberdade, deseja pedir satisfações / explicações de alguns dos seus posts. Como faz e a quem o faz, sabendo que há nenhum gps que localize e identifique este confessionário.
Digo tudo isto por uma questão de prudência. Precisamente por não se saber quem está do lado de lá, devem-se evitar blogs anónimos (refiro-me a blogs desta natureza e do impacto que este produz nas pessoas).
Um abraço amigo :)

Anónimo disse...

Também eu quando vou a Fátima me recolho na Capela do Santissimo.O facto de partilhar a sua vivencia das freiras só fez com que eu o sinta mais proximo.Ainda bem que além de ser padre é homem e não anjo.Sei da sua disponibilidade em responder a quem lhe coloca situações. Pela forma como o faz só pode ser padre. Incentivou-me,acolheu-me,lembrou que mesmo quando erramos a Misericordia de Deus não nos abandona.É tão bom sentir que ainda há pessoas sem hipocrisia.Obrigada padre, por ser como é.

Anónimo disse...

Volto a passar e a comentar, vejo que não te estão a entender muito bem, o que é de lamentar...foste sincero até ao mais profundo de ti, vejo em ti a clareza de uma nascente, e isso é das coisas mais lindas que podemos ser, vejo que o és! Parabéns!

Quanto aos adereços das freiras...pois...a meu ver, desnecessários, ainda por cima ruidosos, a incomodar quem está no sossego de Deus...mas, é só a minha opinião...

Gosto muito de ir a Fátima, a todos os locais de Fátima, mas também adoro a Capela do Santíssimo, é de facto diferente de outras, a última vez que lá estive, uma paz imensa me invadiu, fiquei tanto tempo de olhos fechados, que Ele acabou querendo que eu adormecesse, num sono imenso de paz... e quando me acordaram, eu disse...”agora não”...queria continuar adormecida nos braços D’Ele...

Quanto ao facto de as freiras serem bem delineadas, e teres reparado nisso, não vejo qualquer mal, conheço muitos padres que também são assim, parece que foram feitos com régua e esquadro, lindos de morrer, e eu também olho para eles, como olho para qualquer pessoa, mas... e é só! Como também há pessoas muito lindas por aí...olhamos...vemos...e passamos, até porque algumas vezes a beleza física não corresponde á beleza interior... não é verdade?

Acho que este povo...que já não lava no rio...julga muito os outros por aquilo que eles próprios são, e acabam por ver mal em tudo, eu cá não vejo mal em nada destas coisas! Mas...é só a minha opinião.

Continua a surpreender-nos a cada dia com a tua própria vida, e mostra ao mundo que os padres são pessoas, não são objectos de adorno, que ficam muito bem num Altar, que só “utilizamos” quando necessário e que muitos gostariam de ver com um cartaz nas costas - EU SOU PADRE -
Vai em frente, porque Tenho a certeza...Ele deve estar muito contente contigo!

1 Beijo cheiinho de carinho.
Luisa Oliveira

Anónimo disse...

Também eu quando vou a Fátima me recolho na capela do Santissímo.Foi bom partilhar a "historia" das freiras. Ainda bem que pelo facto de ser padre não deixou de ser homem mal seria se fosse anjo.Sei como me acolheu, como me incentivou, como me lembrou a misericordia de Deus em momemtos menos bons. Obrigada por ser como é. Estou farta de hipocrisias.....

Anónimo disse...

Há algum tempo que não conseguia entrar no seu blog. Hoje felizmente consegui, e é sempre um prazer lê-lo.

Os meus agradecimentos
Leonor

Confessionário disse...

João, se gostava de "falar com um padre que me(o) entende, de confiança…", provavlemente não o deve procurar na net, mas próximo da sua área de residência. Este é mesmo um conselho amigo. Diz que queria desabafar comigo pessoalmente (então inspiro confiança ou não?!). Se o quiser fazer realmente desse modo, há-de consegui-lo. Outros já conseguiram... e continuam a comentar neste espaço.

Quanto à prudência, ela fica salvaguardada de que lado? Eu já fui maltratado, como deve desconfiar, por causa deste espaço. Porque o haveria de ser de outras formas por causa deste espaço!? (esta tb dará para pensar). Eu não me escondo, amigo. Simplesmente acho que este lugar deve ser assim.

A questão de ser padre ou não... essa é mesmo uma questão que se depreenderá pelos textos... Mas só perceberá quem quiser, claro. Já leste mesmo (os necessários)?! De qualquer forma, aceito a tua opinião. Pressinto que não o fazes com maldade... Um abraço

euseinadar disse...

"...se o amor da formosura tolhe as faculdades intelectuais, este mundo é um hospital de doidos..."
Camilo Castelo Branco, "Vingança"
(Espero que não leve a mal que escreva esta citação, eheheh!)

Migalhas disse...

Ultimamente tem aparecido por aí cada hábito de freiras... que é uma pena ver tanta falta de gosto! E ainda por cima com coisas a "fazer barulho"!...
Fizeste bem em reparar!
Pois que és Padre, lá isso és! É pena é que algumas pessoas queiram que nós (padres) sejamos uns "coitadinhos". Recuso-me a sê-lo.
Continua a ser como és, que é assim que ELE gosta de ti e quer que tu gostes de ti. E que os outros gostem de ti também assim.
Abraço

Migalhas disse...

Sei que não devia ser eu a fazer esta pergunta; mas como ninguém a fez, aqui vai:
e as três freirinhas não repararam em ti?
É que também é bom que os outros(as) reparem em nós!
Levemos estas coisas com naturalidade; saibamos sorrir e rir até de nós mesmos. É que a vida do dia a dia já é tão séria...

Monge disse...

Continue a escrever... sem reservas... aliás o confessionário deve ser isso mesmo, um espaço de liberdade e sinceridade, para uma maior liberdade e sinceridade de vida. Gostei.