quarta-feira, março 21, 2007

Já viram?

Já viram um indivíduo atender o telemóvel enquanto se caminha para o cemitério com um morto? Eu já. Já viram um cangalheiro atender um telefonema na Capela Mortuária para dizer que agora não posso que estou num serviço? Eu já. Já viram que os funerais têm mais gente fora da Igreja do que dentro? Eu já. Já ouviram as orações de alguns que acompanham o morto fora da Igreja e no caminho do cemitério que são o tempo está bom, o Benfica jogou mal, aquela coisa está mal feita? Eu já. Já viram uma pessoa que em vida nunca recebeu flores da família, filhos e marido, e que depois de morta lhe enchem o caixão de flores? Eu já. Já viram parentes que estavam zangados, de costas voltadas, sem palavra que fosse, nem bom dia, e que na hora choram sobre o corpo que nem madalenas? Eu já. Já viram gente a maldizer a vida porque o padre não reza no acompanhamento fúnebre, mas não esboçam sinal de oração, sequer se benzem? Eu já. Já viram pessoas, depois de perseguir a carrinha funerária, e mal entrados no cemitério, debandarem para junto das campas dos seus, esquecendo o morto a sepultar, esquecendo o resto das exéquias? Eu já. Já viram o início de uma zaragata no meio de um acompanhamento porque se encontraram aqueles que não se podiam encontrar e quase se oferecem porrada por se encontrarem? Infelizmente, eu já. Já viram alguém desbaratar com a família do defunto na hora de ir para debaixo da terra porque, afinal a junta se enganara no terreno da mortalha? Eu já. Já viram um indivíduo na mortuária acender do cigarro para fumar? Eu não vi, mas contou quem viu. E quantas coisas não vimos já nós por aí fora em funerais? E quantas não iremos ver mais?
Enfim, consola-me que os que morrem já não vão ver mais.

39 comentários:

Paula disse...

Eu também já vi. creio que todas as situações que enomerou...e sabe que mais..as pessoas são muito fingidas e hipocritas...

As pessoas estão a esquecer-se de amar e mostrar que amam... de preferencia enquanto as pessoas estão perto de nós, porque depois de morrerem já nao interessa enviar flores, ou dizer "gosto tanto de ti".

estamos numa sociedade egoista, individualista, até parece que podemos viver sem os outros..mas não é verdade.

um abraço

Anónimo disse...

E se lhe contar que certo dia a minha irmã saiu da igreja a correr para arranjar um calmante para uma familiar, a qual aparentava estar num choro e lamento descontrolado. Quando regressou (esbaforidíssima de tanta pressa) entregou-lho e para total espanto da minha irmã, a destinatária piscou-lhe o olho, deu-lhe um leve toque no cotovelo e sorriu-lhe.

Teodora

Anónimo disse...

confessionario,passei por cá, e foram aqui ditas muitas verdades nas quais devemos pensar e modificar.
gostei muito, sou a mãe da elsa
beijos

maria

Hadassah disse...

uii...

Anónimo disse...

Já viram que a mensagem de Cristo não pega? Já viram que a Igreja Católica não se faz ouvir? Já viram que a moral é madrasta da virtude e mãe da hipocrisia?

O Micróbio II disse...

4 anitos... lá pelo Micróbio! :-)

Anónimo disse...

Afinal todas as situações que enumera como negativas são uma muito reduzida minoria, comparadas com todas as demais positivas que estão implícitas no quadro que descreve. Essa sim, positivas...toda essa gente estava lá...à volta da pessoa falecida!...Esse aspecto é wque deve ser realçado. Tudo o resto não tem a gravidade que a sua "visão" desfigurada lhe dá...e isso é que me doi...
Gostava de ver o sr. padre voar mais alto...como as gaivotas...preso ao essencial...
Assim, nem chega a levantar voo, preso a tantos limos...

Afinal, quem não viu tanta coisa idêntica...mas humana ...nas suas fileiras eclesiásticas...

O Bem e o positivo continua a ser muito mais representativo que o mal e negativo.
Francamente. Este assunto está infeliz...Vou usar o "Anónimo" para titular esta crítica verdadeiramente construtiva...não a faço para o denegrir...mas para que oiça o outro lado..faz bem e é preciso...infelizmente, não é essa a atitude mais frequente... e por isso as homilias e atitudes clericais soam a desfazamento da realidade.

Não levo a mal que, lendo não publique. É consigo. O que me interessa é que oiça quem não pensa como o Sr.

Elsa Sequeira disse...

Olá Amigo!

Pois é...já vi tantas dessas coisas...infelizmente, e repetem-se uma e outra vez...tens razão...ainda bem que os que morrem já não v~em...porque realmente se vissem iam ficar mesmo muito tristes...

beijinhos pa ti!
:)

Anónimo disse...

Passei agora, é tardissimo, mas não podia deixar de manisfestar o meu desagrado, pelas palavras do anónimo das 22.13... como é possivel? O Confessionário "preso a limos"...mas está a falar deste homem maravilhoso que nos faz voar mais alto, que nos faz meditar em tantas coisas, que sendo Igreja, não tem problemas, nem preconceitos de expôr o que por lá vai menos bem? Acha correcto estas atitudes nos funerais? Pelo que vejo não é só o Confessionário que as vê, outros as virão, eu também já as vi inumeras vezes, e são de facto de lamentar, e tudo deve ser feito para as modificar.
Eu, muito sinceramente não publicava este comentário, mas tu, publicaste, porque tu estás muito acima deste comentário, só mostras que voas ainda mais alto que as gaivotas, já tinha uma grande admiração por ti, hoje subiste muitos pontos, muitos mesmo! Parabéns!
cada um pode expressar a sua opinião, e ainda bem que é assim,mas tudo pode ser dito, sem magoar...é o que eu penso.
Confessionário continua com a tua força das palavras e com o teu agir de profeta, anunciar e denunciar, que o fazes muito, que Deus te continue a dar toda essa força!

1 beijo

Luisa Oliveira

Al Cardoso disse...

Tem toda a razao caro Padre!!!

um abraco do d'Algodres.

Mafalda disse...

Sim, Padre, tem toda a razão. E como é que daqui se extrapola para considerações pessoais tipo “não nos faz voar alto” e “preso a tantos limos” ???…desculpe lá, anónimo das 22h13 de ontem, mas que conversa sem interesse nenhum. O que é apontado são enormes faltas de respeito, frequentes hoje em dia e directamente relacionadas com a indiferença da maioria das pessoas às missas de corpo presente e aos funerais. Já viu coisa pior do que numa missa de corpo presente não haver quem responda ao Padre? É horrível e embaraçoso. Este facto, a juntar aos telemóveis ( com toques cada vez mais originais)e aos que se afastam para fumarem cigarros atrás de ciprestes, é fabuloso. Só visto. Faz realmente pensar mais além…Porque vamos nós aos funerais? Das pessoas que gostamos e que são «nossas», por razões óbvias. Das outras, que conhecemos menos bem, ou que não conhecemos mesmo, vamos por querermos partilhar com os seus familiares, nossos amigos, o seu sofrimento e, para com eles, pedir a Deus que acolha aquele que parte…ora isto não se consegue a esfumaçar e a conversar ao telefone.
....Padre e anónimo, ainda bem que este é um lugar onde todos nos podemos encontrar...

Abraço

Mafalda

euseinadar disse...

Foi aqui dito que estas situações são isoladas, pouco representativas, etc. e que o que interessa é a parte positiva. Infelizmente parece-me que estas situações negativas é que são a tendência. Para além de se falar aqui da hipocrisia eu acrescento outra coisa: falta de educação! Estas atitudes de falta de respeito são mais um sinal daquilo que se passa nas estradas, nas escolas, agora até nos partidos políticos (num em particular)... Estas coisas revelam, objectivamente, falta de respeito, de educação, de civismo! Mas que fazer? Estamos num país em que os desgraçadinhos dos alunos vão às fuças aos malvados dos professores e a culpa é sempre "da sociedade, do sistema que não os integra" ou sei lá que outros motivos. Nunca há consequências. Matam-se polícias no cumprimento do seu dever e as televisões preocupam-se é com o assassino que arranhou um dedo ao premir o gatilho... Nuca há consequências. Os ministros andam na autoestrada a 200 km/h e se calhar ainda lhes oferecem uma viagem a Montecarlo para ver pilotos de F1 com menos ousadia que eles... Nunca há consequências. Uma altura li uma frase do antigo bastonário da Ordem dos Advogados, José Miguel Júdice, que revela a inconsequência do nosso sistema penal e que dizia que a única lei que é cumprida em Portugal é a lei da gravidade. Ele percebe muito mais destas coisas que eu e disse isto! É preciso dizer mais alguma coisa?

Anónimo disse...

anónimo das 22.13!
Conseguiste deixar-me insatisfeito!
Emtão uma pessoa que está correctamente num funeral não cumpre só e apenas o seu dever cívico!? Já nem falo de postura cristã...
Achas que é assim tão excepção as pessoas ficarem cá fora na hora da Eucaristia, tantas vezes a fazer barulho perturbador? Achas que é excepção a falta de silêncio e de recato nos velórios e funerais?
Olha, ainda ontem estive num funeral e no momento em que tiravam a urna da funerária, um familiar do defunto acendia um cigarro... Eu vi e revoltei-me perante tanta falta de educação!
Achas que devemos esconder a cabeça na areia e deixar andar...?
Este artigo do confessionário tem sabor profético, por isso é de quem boa, de quem não está preso ...Desculpa que te diga, mas preso pareces-me tu ao convencionalismo, ao dulce farniente, ao socialmente correcto.

Anónimo disse...

Relativamente às gaivotas tenho a declarar que me dão um trabalhão a limpar as minhas janelas! Por isso, não as aprecio particularmente!

O mundo está estranho!

Teodora

Anónimo disse...

...deixa que os mortos enterrem os seus mortos - disse Jesus .

Não se referia Jesus a que o mais importante é o amor,o acompanhamento,a presença em vida?

mi disse...

os funerais, tal como os casamentos e os baptizados, são locais de encontro e convívio social, por isso é que se vêem muitas dessas coisas...

mas lá que é triste, é!

brisa disse...

Ao ler o texto revi tantas "cenas" idênticas em funerais a que tenho assistido, se calhar infelizmente para mim, que em pouco tempo perdi vários familiares... Não posso nem consigo concordar com estas situações, o que quer que façamos ao nosso semelhante que seja em vida, tudo quanto eu fizer, de bem ou de mal, terá que ser em vida, porque as contas que prestar da minha actuação serão noutra altura...
No espaço de 15 dias perdi 1º a minha mãe e depois o meu sogro, escusado será dizer que no funeral do meu sogro eu sentia-me pessoalmente a reviver o funeral da minha mãe. Tenho uma filha com 14 anos que no funeral da avó, chorou, sentiu-se impotente quanto à morte, já que ela estava muito ligada à avó,sentiu revolta, afinal era o ente querido que ela perdia e que tinha noção do que era a morte, quando 15 dias depois morreu o outro avô, ela que não se sentia tão ligada, mas que o respeitava e gostava dele, chorou mais "discretamente" e no cemitério não chorou, então uma prima disse-lhe "Não choras?" e ela disse-lhe "Se não ne apetece, não choro, não estou aqui a fazer espectáculos para o resto das pessoas verem, quando quiser e sentir vontade de chorar eu o farei... Realmente o que vale mais é outra coisa, o ideal que perseguimos é outro....

Anónimo disse...

e já viram um padre que não acompanha os funerais ao cemitério porque é alergico màs flores, ao sol que apanha,ao vento que faz,...? Eu já!!!

Anónimo disse...

Outro aspecto a realçar relativamente às gaivotas é o seu canto. Bem... não é bem um canto, é mais um pio asfixiado, um lamento uivante e premonitório ao vento. (gaivota em terra tempestade no mar)

Definitivamente prefiro os rouxinois e o voo das andorinhas.

Teodora

Anónimo disse...

....as gaivotas ficam muitas vezes presas às redes de pesca, andam junto às docas, trata-se de locais mal cheirosos, e nem sempre bem frequentados. Há esgotos e detritos atirados pelos governantes e transeuntes respectivamente(pois alguém dirá que isso não tem importância alguma, o que interessa é que passem por lá).....

não... senhor padre, prefira o limo (planta da família das algas)e as algas,sim...elas próprias, as quais possuem propriedades relaxantes, tonificantes (que eu imagino que não precise) e regeneradoras (não me refiro a um partido político existente nos últimos anos da nossa monarquia) as correntes e as ninfas...o canto das sereias, a poesia e etc. e tal.

Teodora

Elsa Sequeira disse...

Olá!!

Eu já comentei o post!

Agora venho, se me permites comentar-te a ti! Posso??
Pois, então quero dizer, para quem não saiba que és uma pessoa especatcular, magnifica, humana, alguém de coração, transparente,enfim, alguém a quem se poderia chamar - 100% natural! Sem corantes nem conservantes!!
Ah!!! Quanto ao voar, voas e ajudas os outros a voar! Lembras-te?
Eu era aquele pássaro muito pequenino,
Já sabia voar,
Não tanto como outros pássaros...
Mas naquele dia,
Naquela noite,
As minhas asas não reagiam,
Pensei que tinha esquecido,
Como se voava,
Ou para que se voava...

Foi aí que apareces-te,
E eu disse-te...
- Amanhã não me apetece voar -,
Inesperadamente, disseste-me
Que muitas vezes,
Também não te apetece voar,
Mas que voas...
Porque quando não te apetece,
É quando mais precisas
De Voar...

Mas, tu tens que voar,
Tens que ensinar
A voar...
Eu não...eu era apenas...
um simples pássaro,
Bem podia ficar no meu ninho...
Ninguém notaria...

Mas, os pássaros que voam mais alto,
Sabem dizer aos pequeninos,
O quanto eles são importantes,
E o quanto é importante voar...

Por isso naquela manhã cinzenta,
Saí do meu ninho,
Tinha dado o primeiro passo,
Olhei as minhas asas,
Estavam lá...
Para voar!

Juntei-me aos outros pássaros,
Que afinal me esperavam,
Que afinal precisam de mim,
E todos juntos voamos no firmamento,
Tornando a manhã cinzenta,
Num salpicado de cores,
Que nos fez voar Mais Alto!

elsa sekeira


beijinhos para ti, Amigo!!!

Anónimo disse...

OI, Confessionário...ia comentar o post, mas já tá tudo dito,e houve até quem dissesse coisas estranhas, conheço-te pelo que escreves, e no que escreves mostras quem és, e vejio que não és uma pessoa qualquer, mas sim , alguém que Voa bem mais Alto!!!
Deves conhecer a música, deixo-a aqui para tu e os outros saberem como tantas vezes me fazes voar!


VOA BEM MAIS ALTO
(sol)
Não fiques na praia,
Como barco amarrado com medo do mar. (re)

Tudo aqui é miragem,(do)
Mas na outra margem alguém está a esperar! (re sol)
Como onda que morre,
Sozinho na praia não fiques brincando…(re)
No mar confiante, (do)
Ensina o teu canto da ave voando. (re sol)

Voa bem mais alto (do)
Livre sem alforge (re)
Sem prata nem ouro (si- mi-)

Amando este mundo (la-)
Esta vida que é campo (re)

Que esconde o tesouro (sol)

Ninguém te ensinou,
Mas no fundo tu sentes asas p’ra voar!
Nem que o céu se tolde
E as nuvens impeçam, tu não vais parar.
Há gente vivendo
Tranquila e contente como eu já vivi!
És águia diferente,
Céu azul ou cinzento foi feito p’ra ti!

(desconheço o autor)


mariana

Anónimo disse...

o dono deste blogue, pela narrativa que faz no post,"já viram?" parece ter aterrado pela primeira vez neste mundo!..Teve um grande Azar!...melhor aterrasse na Lua...logo foi no planeta Terra...e na Terra, ainda mais azar... em Portugal!...e, em Portugal, foi logo cair num cemitério...e num cemitério quando toda esta trapalhada acontecia...mas que chatice!!!

Anónimo disse...

Faz muito bem, Padre, de chamar a atenção. É mesmo uma obra de caridade. Por vezes há faltas de educação que não são propriamente faltas de respeito. Há cinco dias perdi uma colega e amiga, a Mané. Era nova. Parecia estar bem. Na véspera tinha-me enviado uma mensagem divertida que passou de lixo a preciosidade. Os colegas e amigos acompanharam, na dor, a família. Também, mais fora da capela do que dentro. Durante o trajecto duvido que alguém rezasse mas reflectiu-se sobre o sentido da vida. Com alguma compostura, não sei se com a devida compostura. Mas a Mané sabe que estivemos lá porque gostamos dela e todos estamos tristes e comovidos com a sua partida antecipada.
Um abraço amigo

Anónimo disse...

O dono deste blogue é uma criatura sublime!

Aterrou pela primeira vez neste mundo para sorte de muitos!...Tivemos sorte, uma grande Sorte! Penso que ele também...melhor aterrasse junto à minha janela (seria melhor no meu quarto ou na sala, porque não?!. Não fosse ele cair abaixo. É um pouquito alto, sabem! É mesmo só por isso!)...justamente algures em Portugal!...e, em Portugal, foi abordado por uma pobre e boa gaivota desnorteada, confusa e algo selvagem. Senhor perdoai-lhes que é da nortada!

Pobre gaivota!!!

Teodora

Fá menor disse...

olá!
é só para dizer que faço minhas as palavras da mariana

gosto muito dessa música, ainda bem que partilhaste, mariana

se quiserem podem visitar-me em

www.partilhas-em-fa-m.blogspot.com

Anónimo disse...

...isto nem parece um confessionário...gosto mais das gaivotas!

Anónimo disse...

Caro "Confessionário"
Fiquei comovido com seu "fair play". É de verdadeiro homem de Deus!
O meu humilde "deprofundis" faz parte dos seus "links".
Como não acredito no "Deus lhe pague", vou fazer justiça pelas minhas mãos. O seu blogue vai figurar nos meus favoritos.
Um abraço.

Anónimo disse...

Eu tb já vi muitas destas coisas e mais algumas...
Estou a comentar como anónimo, porque ainda não há muito tempo fui injuriada pela familia directa do falecido (eu era familia proxima) quando fui dar um beijo de partilha de dor - não fazia sentido dar os sentimentos, porque também eu era familia - uma vez que não pude estar presente durante o velorio (tinha uma criança pequena a meu cargo, que necessitava da minha presença)...

Infelizmente já vi e ouvi muitas coisas em funerais...
O que tranquiliza é que eu somente me preocupo em ir ao velório dar apoio às pessoas próximas do falecido... por este rezo em qualquer momento, mas em momento de dor os vivos precisam de apoio.

César Cruz disse...

Já vi o olhar cruzado a ser desviado, já vi a mão estendida a ser rejeitada, já vi ódios desmedidos ou simplesmente medidos por razões desconhecidas, já vi a pobreza a meu lado, já vi a fome a passar longe e perto de mim e a minha incapacidade de lhe dar remédio... Já vi dor, lágrimas e pranto, já vi doenças, crimes e tanto mais... Tens razão naquilo que dizes mas ainda acrescento que é pena nós os vivos, os que escrevemos no livro da vida, que não sejamos capazes de reparar nos ´próprios vivos... O que vale no final de contas é que também vamos vendo coisas belas (obrigado por este espaço, prometo intervir mais)

anamaria disse...

Já vi tudo isso e muito mais...E acho que mesmo os que vão ainda podem ver, acredito nisso...

Talvez seja um dos motivos que me fazem fugir a sete pés de cemitérios, funerais... É um problema que não sou capaz de resolver... E digo sempre que, quando chegar a minha vez de "ir com as aves", como dizia Eugénio de Andrade, se possível, seja cremada e as cinzas sejam lançadas ao rio ou ao mar...
Peço desculpa se estou a ser inconveniente para alguém, mas não compreendo qual a necessidade de existir um espaço para lembrar a morte corporal... uma campa só me lembra decomposição, coisas em que não gosto nada de pensar, especialmente se referidas a alguém que se estima muito...
As memórias daqueles que amamos (e dos outros também...) não necessitam, na minha modesta e ignorante opinião, de ficar agarradas a um espaço estranho, esquisito, folclórico... Os cemitérios americanos são um pouco mais suaves, mas mesmo assim...
Devo registar, caso fique a dúvida, que sou católica, praticante!

Confessionário disse...

Deprofundis, não é bem fair play. É amizade. Nas "outras penitências" não devem figurar apenas aqueles que pensam como eu, mas aqueles que, por aparecerem tanto, se tornam amigos, pessoas com quem contamos sempre!
Obrigado pela retribuição...

Anónimo disse...

Eu só espero não ver o morto levantar-se... :)

Anónimo disse...

Eu já vi! Mas não percamos as esperanças... É no momento do encontro que o Senhor tudo transforma. Um gesto que seja, vale. Um abraço! E que bela música esta do blog.

Anónimo disse...

É como lhe digo: ainda o morto não está enterrado, e já anda tudo à zaragata por causa dos bens deste mundo, ou porque se odeiam de morte e em vez de se unirem na dor e perdoarem, aproveitam o encontro para descarregarem ainda mais o veneno.

São situações tristes, mas muitas vezes me dão vontade de rir pelo grotesco e caricato em que se deixam envolver - puras anedotas.

E muitos só aparecem para justificarem umas folgas ao emprego, ou por mera questão social e interesseirismo.

Quanto a mim, estou p'ra morrer e me confesso envergonhada: é que no funeral do meu pai, também fumei uns cigarritos, que é como quem diz, bastantes - embora lá fora, da apela funerária.
Mas quanto mais incomodada estou, mais fumo...

Perdão Sr. Padre, que o meu paizinho, de certeza que não se importou.
Paz à sua Alma!

Anónimo disse...

Infelizmente o que indica no seu post é bem verdade...
Há, por vezes (vezes de mais!) um grande desfasamento entre aquilo que acreditamos, celebramos e vivemos.
Muitas vezes não temos a noção do ridículo e perdemos o sentido do sagrado.
Mas, alegra-nos saber que existem pessoas verdadeiras, que procuram viver a sua fé com coerência e verdade.
É preciso que não tomemos a árvore pelo fruto... pelo mau fruto. Mas que ajudemos as pessoas a encontrarem-se verdadeiramente com ELE.

Unknown disse...

infelizmente, assisti a um na passada segunda. familiar próximo, ando a fingir que aguento a dor.


no funeral, apesar da dignidade de toda a família, aproximou-se uma sra vestida de verde alface, pantufas nos pés, caozito raça pincher no braço. furou por toda a cerimónia e foi espreitar o caixão. e seguiu para a capela, para rezar o terço...

minutos depois, a empregada da minha tia, talvez derivado da educação, decidiu que não havia carpideiras suficientes e deu "aquele" espectaculo do grito e do choro à moda antiga.

já no cemitério, aproximou-se mais uma senhora, rompendo por todos os presentes,até junto do padre, deixando para trás a campa que limpava, para se apromixar da urna e ver quem era...

Anónimo disse...

ola! o Sr. Padre tem toda a razão!
Todas as situações que o Sr. Padre nomeou, já me contaram que viram... não posso dizer que vi, porque eu não entro em cimitérios...
não entro porque me faz confusão... por medo...
acho que não precisamos de ir ao cimitério para demonstrar o quanto que se amava a pessoa que infelismente partiu...
As situações que nomeou, para mim, eu considero uma falta de respeito pelos senhores Padres que estão a dar a Missa, e que esperam as respostas e quando não as recebe devem de ficar constrangidos, e é também uma falta de consideração para com os familiares que estão mesmo a sofrer.
Foi um Sr. Padre que me deu este mail deste blog, e estou contente por tal ter feito!
Parabéns Senhor Padre pelo que escreve.
beijinhos

Anónimo disse...

Já viram os comments que um mero, não estou a utilizar a palavra num sentido depreciativo, post suscita? Se calhar era bom pensar porque é que ele incomodou tanta gente! Já viram as vezes em que fomos apanhados por alguém numa situação semelhante? Mais preocupante do que a falta de respeito numa cerimonia fúnebre é a falta de respeito pela vida e por quem está a gozar dela. Todos temos o direito à nossa revolta, não querendo fazer psicologia barata, mas indignem-se menos com a atitude dos outros. Se formos capazes de não suscitar indignação e revolta no próximo já esta é bem bom!!