Estava danado com o bispo e com os paroquianos, porque não lhe davam a atenção que ele desejava. O bispo não explicava às pessoas como é que elas tinham de tratar o padre, que era o seu novo pároco. E as pessoas da paróquia não se preocupavam com o novo pároco, ao ponto de ele nem receber monetariamente o que achava que merecia. É que, dizia, as pessoas esquecem-se que terem um padre é um luxo.
Pois, na verdade será, pensei eu para os meus botões. Mas apenas se considerarmos o luxo como algo supérfluo. Talvez nesse sentido. Talvez nesse sentido um padre seja um luxo. Também reconheço – de consciência clara e amadurecida - que ter-se um padre ao alcance é uma graça. Pelo menos porque pode ser um apoio no caminho da fé. Mas a escolha da palavra “luxo” para afirmar que ter um padre é um luxo, fez-me recuar no tempo, ao tempo da Igreja medieval em que a Igreja se confundia com o poder. Um padre nunca será um luxo. Quando muito será uma graça.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "O colarinho branco"
8 comentários:
Boa noite Senhor Padre,
Não é esta a Igreja que sonhamos. Uma igreja em que um padre diz que é um luxo. Sonhamos uma igreja ao jeito de Jesus, que tão humilde e pobre viveu. Sabe-se da falta de vocações e de que ter um pastor é essencial, mas um pastor que o seja de verdade. Que não espere mordomias, mas que esteja disposto a servir os paroquianos com dedicação. O resto virá por acréscimo.
Ailime
Já estava a achar estranha esta tua ausência.
Espero que andes bem, padre.
Mais uma vez, acho o texto muito interessante. Não o Senhor Padre que até escreveu este texto muito a propósito, mas os seus colegas... Noto uma certa obsessão por este tema da Graça, e em certa medida também do luxo. Às vezes, a conjugaçao de ambos parecce levar a resultados um tanto ou quanto esquizofrénicos, no sentido de desconexados com os problemas concretos, incapazes de conduzirem a uma evolução de sentido. Esta não é sinónimo de insistência, tantas vezes sufocante.
Se o «colarinho» para onde remete este texto, tem psicologicamente associada a ideia de contricção imposta ao respectivo usuário, o luxo e a graça (enquanto antónimos e sinónimos, paradoxais que são) são outra vertente desse mesma tema, mas levada a uma outra amplitude, a de torniquete. Sabe que este se usado correctamente pode salvar vidas, se usado incorreta ou desnecessariamente, pode ter um efeito pernicioso, quando não malévolo.
De qualquer forma já foram lançados os fogos, continuem as festas... As estas não, ainda estamos no período da Quaresma!
É mesmo, Padre Confessionário, quando se perde essa graça é que se lhe dá valor. Quando se passa para uma "desgraça" que troca as leituras da Missa sem se dar conta e na homilia não passa sem "oferecer chá" seguramente não é uma graça!
E o mais triste é que devem ser estes senhores que se consideram o luxo das comunidades.
Todos querem ser considerados "trabalhadores essenciais", todos gostariam de ouvir palmas quando dão o litro, todos desejam ser remunerados da forma que pensam justa para as qualificações que têm e o trabalho que desempenham...
O perigo está sempre ao virar da esquina: criar coorporações para defender valor e direitos, e que acabam sempre envolvendo-se em jogos de poder; ou, como na publicidade, criar necessidades que não existem, gerar dependências, vender espectáculo, que mais cedo ou mais tarde serão desmascarados.
Resumindo! A igreja "templo" esta muito distante dos mandamentos de Jesus. Viraram empresas. Admiro muito o padre esforçado, mas pouco reconhecido. Também não precisa, DEUS proverá tudo bem no momento certo do seu valor.
Votos de bela Missa Crismal para todos os senhores padres!
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