sábado, maio 18, 2019

O Miguel e a guerra

O Miguel anda no primeiro ano da catequese. Segundo informações da catequista, tem uma enorme capacidade de fantasiar, contar e recontar o que vê e ouve. É um miúdo muito atento. Tem um coração sensível, capaz de se emocionar com os problemas dos colegas. E um dia, na catequese, veio à baila um apelo relacionado com as crianças pobres de um país em guerra. A catequista ia descrevendo as situações em que estavam essas crianças, e os miúdos, que a escutavam, começaram também a contar coisas que tinham visto na televisão ou ouvido na rádio. Houve até uma miudita que recordou os colegas como, às vezes, se queixavam porque queriam um telemóvel novo e os pais não davam, e estas crianças não tinham nada senão a guerra. A catequista ficou sem palavras. Mas o Miguel é que lhas tirou todas. As palavras e as letras que compõem as palavras. Nem sabia se rir se chorar, se pensar bem se pensar mal. Na verdade, não soube como o interpretar. Depois de todos saírem da sala da catequese, cabisbaixos e pensativos, o Miguel veio ter com a catequista, pôs-se em bicos de pés, levantou os bracitos, colocou-os em cima dos ombros da catequista e, olhando-a nos olhos, disse. Catequista, não tenhas medo, eu quando for grande mato a guerra.

1 comentário:

Ailime disse...

Bom dia Sr. Padre,
Por isso é que eu adoro as crianças.
Puras, inocentes e que nos deixam sem fala como o Miguel.
Era tão bom que os Homens quisessem matar a guerra.
Ailime