sexta-feira, fevereiro 06, 2015

Que faço aqui? parte dois

Que faço aqui? Não sei que faço. Que faço aqui? Sei que algo faço. Ninguém está ou vive sem fazer algo. Mesmo quem se encontra numa cama do hospital com parte dos órgãos sem funcionar. Ou aquela pessoa que tem trissomia vinte e um. Ou aquela que deixou de poder andar. Ou que já não vê ou nunca viu. Ou que mora do outro lado do mundo e não sabe senão que tem de caçar para comer. Ou a criança que tenta dar os primeiros passos. Ou aquele idoso que dá os últimos.
Que faço aqui? Sei que a cada dia será um dia menos para o que faço aqui. Sei que em cada dia cresço para o céu. Cada dia é mais um dia que aproxima o céu. Sei que em cada dia consigo algo mais e por isso cresço, na idade e na vida. Mas não consigo ainda dar a reposta que gostava de merecer à pergunta que tantas vezes faço. Que faço aqui? E hoje faço outra pergunta. E tu, que fazes ai? Talvez na tua resposta eu encontre a minha. Ou a nossa.

18 comentários:

Anónimo disse...


Enganaste-te. É antes "Que faço aqui? Parte IV". Ora vê:
- Um do Outro (poema 25) - Parte I;
- Destina (poema 34) - Parte II;
- Que faço aqui? (post) - Parte III;
- Post de hoje - Parte IV

E, pelo andar da carruagem, aposto um cêntimo, em dia de sorteio de euromilhões, em como vamos ter sequela. Estou certa ou estou errada?

Confessionário disse...

ahahaha, venha a sequela...

Anónimo disse...

Mais do perguntar o que faço aqui, pergunto se me apetece estar, se gosto de estar aqui...
O que faço aqui, ja desisti de perguntar. Vou fazendo os caminhos que se me oferecem no dia a dia e ser mãe, por si só, responde ao que faço aqui. Sou mãe. A melhor que consigo.
Mas, na verdade, sempre que me pergunto se me apetece estar aqui e respondo que sim, a resposta prende se sempre com a falta que faço aos que amo e não com a minha propria vontade. Como se a morte fosse um objectivo a longo prazo...

Anónimo disse...

Parece te estranha esta minha forma de encarar a morte como objectivo padre?? É que a mim parece me grave :-) mas não consigo deixar de o sentir...

Confessionário disse...

06 fevereiro, 2015 23:08
Como um objectivo não me parece mal; mas como um desejo pareceria...

Anónimo disse...

Não é um desejo. Tranquiliza. É mais... uma pressa de viver

Anónimo disse...

“E tu, que fazes ai?”
Se perguntas a Ele, terás que O escutar… se é que “Ele” alguma vez te vai responder.
Se me perguntas a mim, pessoa igual a ti, respondo-te a partir de mim.
Nasci fruto de um descuido ou de um impulso sexual incontrolável, não fui desejada ou planeada e sei muito bem disso.
Honestamente não penso que “Deus” ou eu tenhamos sido consultados para tal.
Ora bem, não acho que o que escrevi anteriormente seja motivo para drama.
O drama surgiu dentro de mim à medida que o tempo foi passando.
Desde que me conheço que dentro de mim se trava a tal luta feroz entre o eu que as circunstâncias criaram e o eu que eu que eu teimo em ser.
Respondo-te a partir do conjunto destes dois seres tão iguais e tão diferentes.
Tento a todo o custo “humanizar-me”… busco a “perfeição” ou a ideia que eu tenho de perfeição.
Tento conhecer-me para me poder aperfeiçoar… e nem que seja apenas dentro de mim trazer à existência um lugar de paz de harmonia em que o meu físico e o meu psíquico vivam em harmonia.
Hoje respondo-te deste lado do oceano com a “alma na mão” apesar de estar no meu local de trabalho habitual, porque ainda é relativamente cedo e por enquanto estou só, dos olhos soltaram-se umas quantas lágrimas cor do azul dos meus olhos e são o reflexo de uma alma da mesma cor.
O meu físico reclama a ausência de um carinho e todo o meu ser (físico e espiritual) anseia por sentir o efeito de um abraço real de uns braços rodeando o meu corpo exercendo sobre ele uma força com poder para acalmar essa ansia de ternura.

Que faço eu aqui? Sou autêntica e verdadeira no meu ser estar e querer.
Que faço eu aqui? Estou à espera de sentir que sou verdadeiramente amada.

Desta vez pergunto eu: e tu o que fazes aí? ah! Não me refiro a Ele refiro-me mesmo a ti, homem total que sentes igual a mim.


Bruno disse...

Não sendo propriamente resposta, deixo aqui um comentário que ouvi na semana passada a um padre aqui da zona "Não sei porque sou padre, isso só vou saber quando chegar à beira dEle, mas sei para que sou padre". Aquilo que fazemos aqui é esse para, como cristão estamos aqui para fazer a vontade de Deus e Amar o próximo. Simplesmente muitas vezes confunde-se o para quê com o porquê...

Confessionário disse...

Bruno, gosto dessa ideia de diferenciar o "porquê" do "para quê"! Mas deixa-me dizer-te que até o "para quê" é muito difícil de responder fora do âmbito espiritual, ou ao contrário, dentro do âmbito da nossa humanidade, sejamos nós padres ou não.

Confessionário disse...

09 fevereiro, 2015 09:40
se soubesse facilmente responder-te, não me teria feito as perguntas que fiz

Anónimo disse...

"se soubesse facilmente responder-te,"

Se soubéssemos responder facilmente a estas questões não faríamos parte deste plano material.

As respostas que anteriormente dei podem parecer simplistas, mas na realidade são apenas fruto de um estado "momentâneo" mas demorado.

A maior parte do tempo esforço-me por pensar que o homem é um eterno peregrino em busca de algo que desconhece e que o seduz, algo que ele pensa completá-lo, algo que quando encontrado consiga acalmar essa ânsia de infinito que o consome.

Acho que nessa peregrinação me esqueço muitas vezes de "mim" para me fixar numa ideia daquilo que procuro, é um erro pois tudo parte de dentro para fora.

Se eu soubesse responder ainda que fosse com muita dificuldade mas com clareza seria uma pessoa melhor e mais completa.

Gostava de ler aqui mais respostas que tal como escreves-te me ajudassem a delinear as minhas certezas.



Anónimo disse...

Com mil perdões, não me parece que a resposta à questão que colocas seja prioritária. Não fomos feitos para fazer, mas para ser. Pomos a ênfase no fazer, como se não fossemos nada sem acção. O que faço aqui neste corpo, nesta idade, nesta cama, nesta família, nesta terra, neste trabalho, nesta vida… são questões que se colocam quando sentimos que não somos em algum desses lugares, porque não pomos neles todo o nosso amor. E se é verdade que sempre podemos ir caminhando até à cova com a nossa vidinha de rojo, que desculpa daremos ao Criador quando lá chegarmos com a vida estragada? Lamento muito por apresentar uma vida assim, mas sabe, algures pelo caminho, perdi o arrojo.

Anónimo disse...

Que faço aqui?
Procuro compreender o que tantas vezes me parece absurdo.

"Quando saí do centro de reeducação, trazia a criança nos braços. Cruzei-me com uma velha senhora numa cadeira de rodas. O seu olhar iluminou-se ao ver o bebé. Inclinei-me para lho apresentar. Os dois fitaram--se um instante – o que ainda não pertencia completamente ao mundo, e a que já lhe não pertencia completamente. A mulher tinha uma cara maravilhosamente enrugada, semelhante à casca de uma árvore secular. Perante a perfeição destas duas presenças, eu não conseguia compreender porque quer esta sociedade a todo o preço que permaneçamos jovens, afastados das luzes do nascimento e da velhice, cravados no meio delas "
Christian Bobin

Anónimo disse...

"E tu que fazes aí?"
Na minha pobreza e humildade, faço aqui o que Deus quer que faça. Ou melhor, procuro fazer!... Mas isto não dá resposta nenhuma concreta!!!
O que eu faço aqui, junto contigo, é AMAR... Aquem? Àquele que nos amou
até dar a vida por nós!!!
bj.

Anónimo disse...

"Que faço aqui"?
Pergunta terrível!!! Não sei...
Incrivél!!! Mas a verdade. E tu que fazes aí? Devemos estar no mesmo pé de igualdade!... Nada? tudo?
Que Deus seja a nossa resposta!!!!!!
Boa tarde.

Anónimo disse...

Que faço eu aqui?

Tento colocar este cântico na minha boca.

"Cântico da Esperança

Não peça eu nunca
para me ver livre de perigos,
mas coragem para afrontá-los.

Não queira eu
que se apaguem as minhas dores,
mas que saiba dominá-las
no meu coração.

Não procure eu amigos
no campo da batalha da vida,
mas ter forças dentro de mim.

Não deseje eu ansiosamente
ser salvo,
mas ter esperança
para conquistar pacientemente
a minha liberdade.

Não seja eu tão cobarde, Senhor,
que deseje a tua misericórdia
no meu triunfo,
mas apertar a tua mão
no meu fracasso! "

Esforço-me também por viver o abandono de que nos fala Charles de Foucauld.

Meu Pai,
Eu me abandono a Ti,
Faz de mim o que quiseres.
O que fizeres de mim,
Eu Te agradeço.

Estou pronto para tudo, aceito tudo.
Desde que a Tua vontade se faça em mim
E em tudo o que Tu criastes,
Nada mais quero, meu Deus.

Nas Tuas mãos entrego a minha vida.
Eu Te a dou, meu Deus,
Com todo o amor do meu coração,
Porque Te amo
E é para mim uma necessidade de amor dar-me,
Entregar-me nas Tuas mãos sem medida
Com uma confiança infinita
Porque Tu és...
Meu Pai!

(Charles de Foucauld)

Ana Melo disse...

Desculpem!!! não foi sempre assim!!! Mas, eu com a idade vou-me “rindo” com estas questões. (47anos, solteira sem filhos, 3 irmãos/rapazes mais velhos, 7 sobrinhos. Costumo dizer a rir, que nasci no litoral, sem casa de banho em casa, e com o estrume a entrada da porta da cozinha.)

E a vida diz-me, que devemos rir das nossas “tristezas”. A experiencia diz-nos que chorámos vezes demais por coisas, que afinal só nos trouxeram novidade e coisas boas.

A verdade, é que somos, quase todos, fruto de cinco minutos de brincadeira.

Trouxemos, a maioria de nós, aos nossos pais, uma alegria imensa. Olho para o lado continua a ser assim.

Eu pessoalmente, olhando para a contemporaneidade, acredito ter sido uma festa em casa dos meus pais (finalmente a cachopa – seja o que Deus quiser).

Talvez por costume/época, não me lembro muito dessa alegria/afectos, ou então!, como cedo nos vamos tornando uns chatos,(como os nossos progenitores), o mais certo é não nos querer-mos lembrar.

Eu costumo “rir-me” com estas questões.

Deus deve ter-se divertido muito a criar o universo, as famílias de animais, e, as primeiras famílias racionais. Não teve “consciência total” sobre o que estava a criar, MAS ERA MUITO BOM, E MUITO BONITO.

Eu acredito, que se nós, levarmos a vida (simples) de acordo com o que DEUS SONHOU (inclui esporádicos tremores de terra, vulcões,também nas vidas dos seres humanos), a passagem pela vida é gira. Considero que demasiado longa, mas gira.

(…“Digo, porém, isto como que por permissão e não por mandamento. Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra.
Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu”...1 Coríntios 7:6-8
…"Bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher
Há diferença entre a mulher casada e a virgem: a solteira cuida das coisas do senhor para ser santa, tanto no corpo como no espírito; porém a casada cuida das coisas do mundo em como há de agradar ao marido"… 1 Coríntios 7.33, 34

…Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos.
Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela,..
Efésios 5:24-25)

Mas, o racional e a liberdade, que Deus nos deu, faz-nos procurar mais (caminhos difíceis!!!). De verdade, feminismos á parte, se nos “contentarmos” com a “simplicidade” da vida, a vida é gira, talvez “limitada” mas gira.

Ursula disse...

Eu vivo por amor. Minha vida toda está em volta disso. Respiro, danço, canto e faço até a comida neste maravilhoso sentimento. Sei que estou neste mundo mundano e mergulhado no odio. Mas o amor vem do meu peito. Sou boba e alegre. Não sou contaminada, digo que sou uma fênix porque nasço das minhas chamas. Da dor, faço aprendizado, como as minhas próprias asas para não deixar o ego subir. E quando necessário as abro e voo. Pode parecer bobeira, mas eu vejo uma fênix docil, ao me ver no espelho rs. Não posso ver um cachorro, gato, gente antiga, criança e outros seres. Quero abraçar, beijar o rosto. Sou muito meiga e timida. E falo as coisas na lata, sou meio caipira. Então deixa padre eu te dizer o que vim fazer na terra. Espalhar amor e ajudar ao próximo. Onde a injustiça, farei algo contra, protegerei quem precisa, levarei meu ombro a um amigo e até um estranho. Não sou perfeita e acho nem ser digna dos portões deste bendito paraiso. E ao meu futuro marido, filhos bonitos e sadios. E a quando eu morrer que da minha carcaça saia o espirito de uma fênix e lá em cima descansar nos ombros do meu criador.
boa tarde padre.