Ontem, quando vinha da cerimónia da tarde, a tarde de sexta-feira santa, tropecei num pequeno pedaço de madeira em forma de cruz. Deve ter sido alguma criança da catequese ou algum dos que fazem parte da encenação da via-sacra que o deixaram cair. Na verdade, apesar de quase ter caído, não foi bem um tropeção. Foi mais um pontapé. Sim, sem querer dei-lhe um pontapé que atirou aquele pedaço de madeira para longe. Olhei-o como se fosse uma pedra preciosa e recolhi-o no bolso. Depois levei-o comigo, para casa, afim de poder perguntar a quem pertencia. Mas ao subir as dezenas de escadas para o local onde moro, o bolso pesava-me. Pensei que eram as chaves, mas depois de as meter na ranhura da fechadura, o peso continuava o mesmo. Só podia ser a cruz que encontrara na rua, que atirara para longe e que recolhera de novo. Chegado ao meu quarto, pousei-a em cima da cama. Vou dormir sobre ela. É que nesta Quaresma e nesta Semana Santa tenho encontrado cruzes por todo o lado, de vários feitios, pesos, medidas, e materiais. Tenho-as amontado na cama. Vou adormecer para acordar com elas, e amanhã vou celebrar o Senhor que está vivo para me carregar estas cruzes.
Uma Santa Páscoa, com os olhos na Ressurreição, para todos