É hábito que, sobretudo em ambiente de café, quando aparece um padre e se senta numa mesa tal como os outros circunstantes desse espaço, se façam afirmações do tipo O padre é um homem como os outros. É a frase típica quando se quer dizer que o padre também pode cometer excessos, beber uns copos, participar numas farras, bailar ou divertir-se. É curioso que, em muitas destas ocasiões, o padre é, como se costuma dizer, mirado e remirado com desconfiança. Mas mesmo assim dá origem à famosa expressão que serve como justificação para dizer que o padre também pode ter os seus deslizes ou fragilidades. Preferia pensá-la como se fosse o mesmo que dizer O padre é cá dos nossos. Mas até isso é excessivo, se for para exprimir que faz parte do grupo dos boémios. Melhor seria que fosse para dizer que é um dos nossos no sentido em que é o nosso padre.
Na minha modesta opinião, um padre não é propriamente um homem como os outros. É homem como os outros. O que é substancialmente diferente. Aliás, ninguém é igual a outro. Não queremos que o padre seja igual a qualquer outra pessoa, e se o fosse, que essa pessoa fosse Cristo. Mas até isso poderia também ser excessivo, porque não há outro Cristo que não o próprio Cristo. A nossa almejada configuração a Ele nunca poderá ser uma transformação na sua pessoa. Isso mesmo me diz que é arriscado dizer que o padre deveria ser um outro Cristo, ou como alguns documentos da Igreja referem, um alter Cristo. A configuração com Ele, une-nos a Ele, coloca-nos no seu íntimo, tal como o colocamos a Ele no nosso íntimo, mas nunca nos transformará n’Ele. Bom, mas parece que me estou a distanciar do que queria dizer sobre O padre é homem como os outros. Dizia eu que não me parece uma afirmação acertada. Não significa que eu não queira que os padres sejam homens. Mal deles, se fossem anjos ou um outro ser divino que não tivesse os pés na terra. Não são seres sobre-humanos ou dotados de uma qualquer forma que não seja humana. São seres humanos, que, tal como todos os seres humanos, têm debilidades. Do mesmo modo, têm gostos, pensamentos, sentimentos, opiniões, formas de viver como toda a gente. Mas um padre não tem de ser igual aos outros, tanto como não tem de ser diferente. Tem de ser tão só um padre que é homem como os outros.
10 comentários:
a melhor coisa que me aconteceu foi ter maior proximidade e amizade com padres. ao percebê-los humanos e homens. não que não julgava que não fossem. porém a distância que por vezes criavam fazia com que os tivesse como pessoas distantes que viviam no seu próprio mundo a rezar, meditar e servir a Deus. quando fiz amizade com eles e os conheci de perto desconstrui essa imagem que tinha e que confio que também era criada pelos padres que até então conhecia. fazer amizade com eles fez-me perceber pessoas com medo e fragilidades. que lêm bíblia mas também vão a concertos e jogam futebol. e com quem tenho conversas profundas mas também das que não têm sentido algum nem são para ter. e digo-lhe sou melhor pessoa e tenho-os como melhores pessoas aos padres a partir do momento em que os soube pessoas iguais a mim. não lhe consigo explicar por palavras mas respeito e compreendo muito melhor a vossa vocação. faz falta a humanidade aos padres. não a todos. felizmente hoje em dia quase todos os que conheço são humanos, pessoas que sinto que me podem abraçar. e não pessoas distantes e frias como antes vos via.
Rezo por si. obrigada por tudo aquilo que escreve e pela sua vocação.
abraço,
paula
Não o Padre não é um homem como os outros... É um Super homem :-)
eu gosto de padres que sejam, ao mesmo tempo, tão humanos como padres.
Bom dia , assim é que é "um padre que é homem como os outros"
Essa maneira de o padre ver as coisas é que é, ou devia ser, assim.
Continue, Deus está consigo, vê-se em tudo o que o sr. diz, e também se nota que é um homem de fé, fala com convicção, com o coração, e apesar de "ser homem como os outros"
tem algo de especial. Com certeza foi por isso que Deus o convidou e lhe deu esta missão, de ser seu representante aqui na terra.
Bj
O padre é homem igual a qualquer homem.
A maior interrogação para mim é porque é que a igreja teima em impor-lhes o celibato.
São raros os que não têm a sua namorada para não dizer namoradas e namorados.
PR
Esta reflexão que faz, também nos leva a pensar que humanos queremos ser.
Eu não quero ser como os outros.
Todos nós somos humanos, mas como diria o outro: mas uns mais que outros.
Dá que pensar
caro amigo
Também sou da tua opinião: "é arriscado dizer que o padre deveria ser um outro Cristo, ou como alguns documentos da Igreja referem, um alter Cristo".
Não pode haver outro Cristo
Padre, deixa-te de coisas, grande parte dos padres vivem como se não fossem humanos, ou como se fossem humanos com mais direitos que os outros!
Entendo o que queres dizer, mas alguns padres acham-se acima dos outros e vivem à custa dessa superioridade. O que eu me rio com alguns, que no final, são mais tontos que qualquer um.
Lu
São simplesmente complicados e mal resolvidos devido a lavagem cerebral que sofreram.
Como tudo muda, os padres de hoje não são como os de antigamente, mas muitos querem manter a antiga imagem para obter respeito perante o povo mas isto está bem longe devido aos escândalos onde os bons pagam pelos maus como em qualquer lugar ou empresa.
Só o fato de não poderem casar e se colocarem em posição de intermediários entre Deus e homem já se colocarão em posição diferente ao homem normal, só se colocam em posição do homem comum para justificar seus erros se escondendo atrás das fraquezas e dando poder a elas.
São seres humanos e possuem corpo de homem? Sim
Estão sujeitos a erros? Sim, só que o homem comum procura repara-los, mas muitos padres correm e fogem covardemente daqueles os quais vitimaram e se escondem correndo debaixo da saia da mãe e se sentem perdoados perante ao confessor que é outro ser humano que está lá para controla lo só, mas as vítimas ninguém procura para reparação o que faz deles uns hipócritas.
Como todo mundo cada um tem sua personalidade, tem os receptivos e legais que podemos conversar como pessoas comum e tem os repelentes que só pelo fato de estar com uma batina ou estola e com cara de sério já se sentem importantes e blindados e o que fazem nos cantinhos escondidos todo mundo sabe.
Eu conheci dois, o repelente e o legal.
Em tudo igual a nós, excepto no pecado. Foi/é Jesus homem como os outros? Foi/é um homem como os outros?
O que se diz de um padre, diz-se de um cristão. Igual aos outros, mas diferente. Estamos no mundo, mas não somos do mundo. Mas que diferença é essa? "Vede como eles se amam!" Somos chamados a distinguir-nos pela caridade. Que não é altiva, nem soberba... Uma igreja chamada a redescobrir-se preferívelmente acidentada, faminta e suja do que enferma no isolamento de quem teme a contaminação.
Depois, há a situação específica do padre, devivada da exposição pessoal, a que se junta o peso da pasta da autoridade. À mulher de César não basta ser séria... Tem de se liderar pelo exemplo... A autoridade é um exercício de solidão...
Alguns rejeitam uma tradicional postura sacralizada do padre, figura distante, intocável, autoritária; e mostram uma agradável surpresa quando perante outras formas de estar, mais próximas, mais envolvidas, mais terra-a-terra (mais mundanos?). Outros, ao mesmo tempo que manifestam compreensão para com as fraquezas humanas dos padres, mostram-se escandalizados com a sordidez dos seus pecados. Outros ainda, nunca estarão contentes: "Veio João Baptista que jejuava... Veio o filho do Homem que come e bebe..."
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