O padre Zé, chamemos-lhe assim para pensar que é cá dos nossos, está um pouco desanimado com o seu sacerdócio. Quase tudo o que o rodeia na paróquia onde é pároco lhe soa a desilusão ou lhe cheira a bafio. A sua paróquia é habitada por gente com idade avançada. Não tem catequese organizada. Tem muitas tradições ritualistas e culturais que, diz, não têm um mínimo de fé. O padre Zé veio da Polónia, de um país que ainda é maioritariamente católico, mas católico de cristandade, onde o padre é o quase centro e as pessoas vivem à volta da paróquia, como se aí estivesse quase toda a sua identidade. Não vou dizer o que penso deste tipo de igreja, pois não a admiro muito. De qualquer forma, hoje preocupei-me com o padre Zé e é dele que quero falar.
É que agora está num país claramente laico e avesso à Igreja. Um país que não quer muito com a fé, e só vai querendo alguma coisa com a Igreja em termos de instituição.
Desabafava ele há dias que um par de noivos queria falar com ele. O padre Zé imaginou que pretendiam casar, e tinha razão. Mas não vinham propriamente marcar o casamento. Vinham falar com ele para saber o que era necessário para alugar a Igreja. O padre Zé não teve coragem de perguntar-lhes se era ou não com padre incluído. Mas saiu a chorar da pequena reunião, cansado de estar numa Igreja que apenas é mais uma instituição.