segunda-feira, novembro 02, 2015

Homilia para funerais ou fieis defuntos

Estou a preparar a homilia para hoje, dia dos fieis defuntos. É das poucas ocasiões que podemos falar da morte sem os constrangimentos próprios da dor de um funeral. Podemos pensar a morte e dizê-la para que todos nos ouçam sem sofrer. Mas estou aqui às voltas e parece-me que não encontro as palavras certas. Vou pegar numa carta de S. Paulo onde fala que as coisas invisíveis são eternas e onde nos mostra a ressurreição de Jesus como sinal da nossa. Parece-me bem. Ando à volta de termos teológicos que nos dizem que a Encarnação de Jesus faz sentido pela Sua Ressurreição. Que nelas Deus assume a nossa condição humana para nos elevar à Sua condição divina. Mas temo que sejam apenas palavras.
Há uns anos uma jovem amiga contava-me que, ao escutar um colega meu, na sua paróquia, por ocasião dos funerais, este falava tão profundo e tão bem da morte, da ressurreição e da vida eterna, que quase lhe suscitava uma vontade estranha de morrer. Explicava depois que não era por desânimo com a vida, mas por entusiasmo. E olhem que este é o mistério central do nosso anúncio e da nossa missão!
Vou rezar ao Senhor para que na homilia que farei daqui a pouco seja Ele a falar, e para que quem nos escute aos dois sinta esse entusiasmo estranho por um dia poder viver na intimidade de Deus após a morte.

1 comentário:

Paulina Ramos disse...

Bom dia!

Que partilha bela, rica, tocante, aos meus olhos é claro.

Falar da morte dos outros não é simples, penso mesmo que só consegue falar da morte de uma forma tocante quem, de alguma forma, já lhe vislumbrou a "raia".

E a morte pode bater à porta de qualquer um sem pedir licença para ir ou nos envolver.

Entrei no quarto, deitado sobre a cama estava o corpo, ainda quente, o rosto reflectia uma serenidade indescritível.

Ouviam-se gritos uns de dor, outros nem tanto, seriam mais de histeria como quem quer dar a conhecer ao mundo que ali estava ela a tão temida morte.
Durou apenas um instante esta percepção, perante tamanho alarido o corpo permaneceu imóvel adquirindo aos poucos uma rigidez cadavérica... O Espírito, esse segredou-me ao ouvido que havia encontrado o PAI.

Perante isto também eu chorei baixinho...

A morte vem de longe
Do fundo dos céus
Vem para os meus olhos
Virá para os teus
Desce das estrelas
Das brancas estrelas
As loucas estrelas
Trânsfugas de Deus
Chega impressentida
Nunca esperada
Ela que é na vida
a grande esperada!
A desesperada
Do amor fratricida
Dos homens, ai! dos homens
Que matam a morte
Por medo da vida!