terça-feira, abril 21, 2015

O António caído

O António estava perdido. Perdera-se, e não conseguia encontrar-se. O António não era má pessoa. Era um de nós. Era um António que caíra. Era um de nós que em cada dia se deixa cair à beira do caminho. Era um António que deixara de caminhar porque não sabia como levantar-se. Era um de nós que no caminho tropeça e não tem forças para se levantar. Era um António que esquecera que o mal não está em cair, mas em não se levantar. Cair acontece mesmo quando não queremos, ou por distracção, pelas circunstâncias, por culpa dos outros, por via da nossa fragilidade. Era um António que esquecera que cair acontece, mas levantar-se depende de nós.

11 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia!

Sinto o sofrimento do António como meu, e sinto a agonia dele ao tentar levantar-se e não ter forças para tal.
O sofrimento surge não tanto pela queda mas pelo desespero de tentar erguer-se e não conseguir ficar de pé, ainda que a cabeça esteja bem erguida o corpo não responde surgindo então o desânimo.
Gostei muito desta tua reflexão, profunda e tocante, só fico a pensar que ainda que tenhamos vontade nem sempre temos a força para nos levantar... e tu dizes que só depende de nós!!!

Agora, peço-te, estende a tua mão, permite-me pegar nela com muita força, por instantes empresta-me a outra também... vou tentar erguer-me, pôr-me de pé... abraça-me com muita ternura, talvez nesse abraço me consigas transmitir alguma centelha de vida, de alegria de esperança, enfim um pouco de força.


Confessionário disse...

feito

Anónimo disse...

No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade

Anónimo disse...

A PEDRA
O distraído, nela tropeçou,
o bruto a usou como projétil,
o empreendedor, usando-a construiu,
o campônio, cansado da lida,
dela fez assento.
Para os meninos foi brinquedo,
Drummond a poetizou,
Davi matou Golias…
Por fim;
o artista concebeu a mais bela escultura.
Em todos os casos,
a diferença não era a pedra.
Mas o homem.

António Pereira

Anónimo disse...

Anónimo de 22 de Abril, 2015 09:38

Obrigada.
Revejo-me completamente neste teu "desabafo". Eu não conseguiria descrever tão bem, mas, se me permites, faço minhas, estas tua palavras. Mais uma vez obrigada.

Anónimo disse...

"feito" obrigada :)

De joelhos diante do sacrário, um sacrário humano onde Tu disseste que passarias a residir, ergui a cabeça e questionei-Te... fi-lo em primeiro lugar com o olhar, as palavras não tardaram em surgir lenta e pausadamente entrecortadas pelo sofrimento...
Questionei-Te a Ti e a ti também "porquê?"
...
Silêncio... sepulcral.

Estendi as mãos esperava contar com a tuas para me apoiar...

Jaz agora o corpo e a alma nessa interrogação sem resposta.

"Era um de nós." que não estava perdido, sabia o que queria... só lhe faltavam as forças para erguer os braços e O alcançar.



Anónimo disse...

há tantos Antónios assim!

Emmanuel disse...

"cair acontece, mas levantar-se depende de nós"

bonita frase

Cristina disse...

Também já fui esse António, aliás, penso que ainda tenho um pouquinho dele em mim porque as quedas sempre deixam alguma marca.

Mas todas as vezes que olho essa "cicatriz" vejo o quanto é bom podermos levantar-nos. Leva tempo, é certo, mas se realmente quisermos, mais cedo ou mais tarde, mais depressa ou mais devagar, com mais ou menos esforço, levantamo-nos.

E, claro, o nosso estimado confessionário deu uma mão amiga, ajudando a que isso acontecesse :)

Anónimo disse...

É verdade...tantos Antónios...
Muitos de nós já fomos esse António. A queda dói sempre e o levantar-se ás vezes demora e custa muito.
Felizmente há anjos espalhados por aí que, muitas vezes sem saber, ajudam quem caiu a levantar-se. Essa ajuda veio num olhar, num sorriso, num toque no ombro, numa palavra de esperança...
Mas a queda às vezes deixa marcas. E a pior delas é ter medo de cair novamente. Esse medo tira o sorriso, o brilho do olhar e paralisa: impede de viver.
Resta a esperança de que, havendo sempre a possibilidade de cair, haverá sempre a oportunidade de levantar-se. E erguemo-nos sempre mais fortes do que antes da queda.
Acho que no desenrolar da vida, se umas vezes somos o António que cai, outras vezes temos de ser aquele que ajuda o António a levantar-se.

Confessionário disse...

25 abril, 2015 21:31

fantástico o teu comentário!
Obrigada