domingo, dezembro 25, 2005

Nasceu numa humilde casa

Veio ter comigo num passo demasiado compassado. Foi depois da missa de Natal. De preto. As roupas e os sentimentos. A contrastar, as lágrimas sem cor no rosto cheio de rugas. Porquê? Perguntei. O meu filho, senhor padre, o meu filho, mora aqui perto do lar. Que bom, disse eu. Pode vir com mais facilidade. Vou passar o Natal aqui. Se calhar ele anda muito ocupado, sabe. O Natal é uma época de muitas correrias. Carros por todo o lado. Filas de carros nas estradas e filas de carros nas compras. Ele vem. Não vem não, senhor padre. Nem hoje nem amanhã. Esqueceu a mãe que o trouxe no seio. Não é como Jesus. Quem me dera ser a mãe de Jesus. E é, disse-lhe. A Mãe de Jesus é aquela que traz Jesus dentro de si. Aquela que o traz no coração. Mas, como pode ser se eu sou tão pobrezinha?! Sabe, é dessas casas que Ele gosta. Não chore mais. Limpei-lhe a última lágrima. Dei-lhe um beijo na face enrugada. Mas é o tempo da família. E a minha família... Nesse momento lembrei um velhinho de outro lar. Contaram-me. Que esperava os filhos do estrangeiro. Emigrantes. Sabia que eles tinham vindo. Sabia que eles iam levá-lo para passar o Natal em casa. Não apareceram. Passados dois dias, precisamente no dia 27 o senhor foi a enterrar. Nesse dia os filhos apareceram mesmo. Só nesse dia. E a casa não era assim tão pobre!

14 comentários:

xana disse...

"És tu ! És tu !!
Sempre vieste, enfim !
Oiço de novo o riso
dos teus passos!..."

(Florbela Espanca)


Parabéns Sr Padre!
Parabéns a você !
Nesta data querida...
Muitas Felicidades
lá lá lá lá lá lá...
Parabéns, bom recomeço!
E...
Esta sua primeira história
preenche o resto do Natal!
É que agora, no silêncio das horas..
sabe-nos bem pensar um pouco..
Ouvir histórias...
pensar um pouco..

Drifter disse...

Dá que pensar...
Sim, a solidão é triste... E morrer sozinho deve ser muito triste...

maria disse...

Querido padre;
voltaste e foi logo "a matar"!!!

É muito bom ter-te de volta. Fazes-nos falta.
Um beijo para ti e um abraço para todos os penitentes que por aqui passam.

Dad disse...

Voltaste!!!
E sempre o mesmo! Sempre o carinho, a emoção o calor!
Bem-vindo! Fazias cá muita falta.
Foi um lindo post the reentrada; infelizmente estes casos são cada vez mais numerosos. É triste ser velho, pobre e ainda por cima ter uma familia assim. É triste e mete medo! Quem somos? Para onde vamos, apesar de todos os nossos votos de Feliz Natal???
Abração grande!

maria disse...

Livra, que a tua popularidade, está no máximo: vinte pessoas a dizer que fazes muita falta...;)

j disse...

Sursum corda!
Confesso que me fez muita falta.
Eu sei que não há noite sem estrelas; que é preciso é olhos para vê-las. Mas olhe que faz falta a "luz" das palavras ditas por quem sabe qual o melhor momento de ouvu-las.
Feliz regresso.

CA disse...

Benvindo de novo.
Um abraço.

Unknown disse...

acaba sempre por surgir um sentimento de revolta. nºao percebo como é que se "esquece" de quem tem tanta importância.

para esses, não há castigo???

Unknown disse...

é triste termos dado á luz e sermos esquecidos.. apesar da minha mae já estar na presença do Pai com muita dor minha nunca me esqueco dela apesar de não correr ao cemitério há sempre um pensamento e uma lágrima escondida no canto dos meus olhos para serenar o sentimento que me invade nas noites frias de inverno.

sophiarui disse...

Bem-vindo padre!

é muito bom ter-te de volta!

Gosto de te "ouvir"!
Abraço

Thinky_girl disse...

Como há pessoas que não se tocam??? como é que podem existir seres humanos que se esquecem da pessoa mais importante da vida deles, que os trouxe ao mundo! Como pode existir gente dessa??? Tenho pena. É por isso que não podemos ser igual a eles...As pessoas têm sentimentos, e muito poucas pessoas respeitam! A nossa sorte é Deus que está la sempre! :)
Beijos, Thinky

Marco Oliveira disse...

Olá Padrão (Padrão é a expressão brasileira para "Grande Padre")!
Ainda bem que ressuscitaste.
Já tinha saudades de te ler.
:-)

Raquel Vasconcelos disse...

Só Deus sabe o que está por detrás de todas estas histórias tristes... só Deus. Parece-me tão fácil julgar no conjunto e no final cada um de nós tem histórias estranhas que nos levam a actos estranhos.
Nesta sociedade que não ajuda ninguém, nem os pais a conseguirem muitas vezes um bom infantário para os filhos, creio que só sobrevivem os das gerações capazes de tratar de si mesmos, se existem situações de abandono.
Somos uma sociedade centrada nos adultos jovens e nada mais...

Ainda bem que voltou Padre :)
Bom 2006

Vítor Mácula disse...

Irra!

Mesmo a doer, isto das fachadas ou até vazios práticos e afectivos, nas famílias, grupos de amigos, associações desportivas, sociais, políticas, artísticas, religiosas, etc.

Tantas vezes o amor anda tão... arredado.

Um grande abraço.